MARIA RITA – Eu sei madre, eu sei que a alegria ilumina tudo! Mas eu não
consigo ficar alegre. Descobri o amor quando li o poema que a Frantieska fez
com o pseudônimo de Vitória Aparecida Costa de Assis:
O amor
Não há sentimento mais bonito
do que esse que eu sinto.
Ele se chama amor.
Todos nós temos, é só procurar
lá no fundo.
O amor é uma plantinha que
quando brota
não para mais de crescer.
Temos várias formas de amar.
Todas são lindas.
Não tenho nada contra...
nada contra o amor.
Ninguém deve ter
pois o amor, como já disse,
é uma plantinha que quando
cresce...cresce...vira uma flor.
MADRE ESPERANZA – Se você
descobriu o amor, o que então a atormenta tanto?
MARIA RITA – Eu fiz uma coisa
muito feia, madre. Acusei o Frei Luís de fazer uma coisa que ele não fez, e
quando eu o vejo naquela tristeza toda, sinto nele o próprio sofrimento de
Cristo. E ele não disse nada, não se defendeu, aceitou calado minha calúnia.
Foi aí que conheci o amor de Deus. (CHORA)
MADRE ESPERANZA – Noviça Maria
Rita, o mais importante você já fez, arrependeu-se. Peça perdão a Deus e Ele
vai te devolver a alegria de viver. (SAI)
(ENTRA FREI ALFREDO)
MARIA RITA – Frei Alfredo, o
senhor pode me atender em confissão?
FREI ALFREDO – Claro, noviça.
MARIA RITA – Frei, eu pequei
contra o céu e contra o Frei Luís. Fui eu quem escondeu sua bíblia.
FREI ALFREDO – Eu sei. Eu a vi
debaixo do forro pouco depois e me lembrei que o Frei Luís saiu da capela antes
que eu a colocasse no altar. Só estava esperando este momento para pegá-la
novamente.
MARIA RITA – Que vergonha,
Frei. Me perdoe? (PEGA A BÍBLIA E ENTREGA AO FREI ALFREDO)
FREI ALFREDO – Eu te perdoo
minha filha, de todos os seus pecados, em nome de Deus e da Santíssima
Trindade. Agora reze o Ato de Contrição, e se puder, peça perdão ao Frei Luís
também, ele está se sentindo muito só. Faz-me lembrar um poema de Paulo
Milagre.
Solidão de casa cheia
No nosso quarto,
minha Rainha desvenda os
mistérios
das novelas encantadas...
No outro,
minha princesa embala
a saudade do namorado
nas notas e letras de suas
jovens melodias...
No terceiro quarto,
meu príncipe dedilha
as cordas do contrabaixo
acompanhando os embalos do seu
tempo...
E na sala,
eu curto a solidão da casa
cheia,
nos inúmeros canais da TV a
cabo
nada encontro de interesse.
Ativo o CD player.
Me entrego às ondas sonoras
que me levam a imaginação a
viajar...
Uma casa cheia,
mulher e filhos junto a mim
vivendo esses poucos momentos
que logo, não mais
existirão...
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