Talvez sempre
Os indecisos são das criaturas mais difíceis de aturar e
contentar. Pela sua perspetiva, não há decisões conclusivas – o talvez
sobrepõe-se sempre ao sim e não.
Um ato social como jantar fora começa logo em
tragédia na fase da escolha do restaurante. Aquele é muito caro, o outro é
muito longe e o empregado de mesa daquele que até é barato estraga tudo com a
sua má educação.
Quando se deixam arrastar para o restaurante, quem
convidou a criatura indecisa passa embaraços sem conta na hora de escolher a
ementa.
A bebida é o cabo dos trabalhos. Começa por ser
água sem gás, passa para com gás fresca, mas não muito gelada, avança para sumo
natural, hesita entre verde e branco, e culmina num tinto não muito caro, mas
nunca demasiado barato.
O prato é um verdadeiro pranto. O peixe pode não
estar fresco, a carne faz mal à saúde e as massas engordam. Quanto à sobremesa,
a dúvida eterna recai entre o doce e o salgado.
Vamos supor que a refeição termina a horas
decentes. O acompanhante avança com a pergunta: “Queres ir tomar um copo ou
vamos ao cinema?”.
O indeciso entra a matar com algo do género: “Tens
cada ideia maluca! O melhor é ir para casa porque não há dinheiro e amanhã é
dia de trabalho”.
Feita a vontade, oferece boleia e é confrontado com
o dilema se é melhor ligar o ar condicionado ou abrir as janelas da viatura.
Enfim, sempre há tempo para uma bebida num bar com
preços simpáticos.
Mais um oceano de interrogações: um gin tónico é
forte, um cocktail açucarado, a cerveja é foleira, um shot nem pensar porque
sobe depressa à cabeça e é coisa de canalha.
Após meia hora de hesitação, tudo se resolve com um
descafeinado para não interferir com o sono.
De manhã, a tragédia está relacionada com a roupa.
Estas calças ficam largas, a camisola azul não dá com nada, o casaco está
velho, os sapatos são mais confortáveis do que as botas, ficando, porém, a
perder na resistência à chuva.
No trabalho, a simplicidade nas ações também não
passa de miragem.
Cumprimentar primeiro a Madalena, que não o convidou
para os anos do filho, ou a Margarida que deve ao indeciso seis euros da
sociedade do Euromilhões?
Na política, tais pessoas nunca se assumem de
direita, centro ou esquerda, no futebol vacilam entre o Benfica, Sporting e
Porto embora tenham tendências para desportos individuais.
Para os indecisos, nunca é boi ou vaca, chuva ou
sol, dia ou noite, bom ou mau.
Será que são felizes neste registo comportamental?
Estou indeciso…
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