JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

terça-feira, 25 de julho de 2017

Do jornalista João Rocha


Talvez sempre


 Os indecisos são das criaturas mais difíceis de aturar e contentar. Pela sua perspetiva, não há decisões conclusivas – o talvez sobrepõe-se sempre ao sim e não.

Um ato social como jantar fora começa logo em tragédia na fase da escolha do restaurante. Aquele é muito caro, o outro é muito longe e o empregado de mesa daquele que até é barato estraga tudo com a sua má educação.
Quando se deixam arrastar para o restaurante, quem convidou a criatura indecisa passa embaraços sem conta na hora de escolher a ementa.
A bebida é o cabo dos trabalhos. Começa por ser água sem gás, passa para com gás fresca, mas não muito gelada, avança para sumo natural, hesita entre verde e branco, e culmina num tinto não muito caro, mas nunca demasiado barato.
O prato é um verdadeiro pranto. O peixe pode não estar fresco, a carne faz mal à saúde e as massas engordam. Quanto à sobremesa, a dúvida eterna recai entre o doce e o salgado.
Vamos supor que a refeição termina a horas decentes. O acompanhante avança com a pergunta: “Queres ir tomar um copo ou vamos ao cinema?”.
O indeciso entra a matar com algo do género: “Tens cada ideia maluca! O melhor é ir para casa porque não há dinheiro e amanhã é dia de trabalho”.
Feita a vontade, oferece boleia e é confrontado com o dilema se é melhor ligar o ar condicionado ou abrir as janelas da viatura.
Enfim, sempre há tempo para uma bebida num bar com preços simpáticos. 
Mais um oceano de interrogações: um gin tónico é forte, um cocktail açucarado, a cerveja é foleira, um shot nem pensar porque sobe depressa à cabeça e é coisa de canalha.
Após meia hora de hesitação, tudo se resolve com um descafeinado para não interferir com o sono.
De manhã, a tragédia está relacionada com a roupa. Estas calças ficam largas, a camisola azul não dá com nada, o casaco está velho, os sapatos são mais confortáveis do que as botas, ficando, porém, a perder na resistência à chuva.
No trabalho, a simplicidade nas ações também não passa de miragem.
Cumprimentar primeiro a Madalena, que não o convidou para os anos do filho, ou a Margarida que deve ao indeciso seis euros da sociedade do Euromilhões?
Na política, tais pessoas nunca se assumem de direita, centro ou esquerda, no futebol vacilam entre o Benfica, Sporting e Porto embora tenham tendências para desportos individuais.
Para os indecisos, nunca é boi ou vaca, chuva ou sol, dia ou noite, bom ou mau.
Será que são felizes neste registo comportamental? Estou indeciso…

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

Sem comentários:

Enviar um comentário