Ilha Terceira
Fernando Pereira
A Luís Bretão – Poeta
de Sonhos
Ingressei na empresa de transportes aéreos regional em 1986 e, a partir
daí, as surpresas “terceirenses” nunca mais pararam.
Passado algum tempo, fui incluído no turno do Sr. Luís Bretão.
No seu turno deparei com vários históricos colegas que, passaram a fazer
parte do meu dia-a-dia e, estão sempre no meu coração, alguns já partiram,
outros ainda permanecem entre nós mas, todos têm um lugar muito especial na
minha vida.
Muita coisa mudou. Mudou a forma como eu vejo a ilha Terceira e a sua
cultura. Mudou a forma como observo as tradições, como aprecio as
actividades
religiosas e como passei a ver, a organização de todos esses eventos. Luís
Carlos Noronha de Bretão mudou toda essa perspectiva em mim.
No aeroporto, Luís Bretão era um embaixador e, sofreu com a sua
popularidade, uma vez que, questões políticas condicionaram e manipularam,
sempre, o seu posto como líder e como gestor de pessoal.
Junto dos passageiros, Luís Bretão era a mão, o amparo e a certeza de
que tudo iria correr bem.
Não me esqueço do seu semblante pesado, com que me recebia, quando era o
meu dia de transportar o turno e, eu me atrasava uns minutos... Luís Bretão
entrava no carro, carrancudo, dava um bom dia, entre-dentes e, passava o resto
da viagem, mudo.
No trabalho, Luís Bretão era um “doutor”... todos o conheciam, todos o
idolatravam.
O seu turno era um turno de gente rija, trabalhadores activos e
reivindicativos, que não viravam a cara a nada!
No check-in todos os passageiros queriam era ser atendidos pelo
Sr. Luís... a fila do Luís Bretão ia até à porta e eu... sem ninguém à
frente... Só passado algum tempo é que as coisas se equilibraram...
Os nossos pequenos-almoços eram de queijinhos, linguiça frita,
papos-secos acabados de sair do forno e, molho de fígado, pelas 8 horas da
manhã, ou bifes com bastante alho, no antigo “Bento Calhoca”... Enfim um “bom”
pequeno almoço que, se traduzia mais em almoço, uma vez que as horas de entrada
ao trabalho eram impróprias para refeições a horas normais.
Logo após o meu ingresso no turno de Luís Bretão, comecei a integrar as
suas reuniões familiares e sociais, onde as comidas tradicionais eram, digamos,
minuciosamente aprimoradas.
Os melhores queijos da região, vinhos do melhor que se podia arranjar,
também dos Açores e, a festa tinha sempre os seus pormenores, especiais, coisa
que o Luís Bretão nunca deixou por mãos alheias, com a subtileza e a
habilidade, próprias de um gestor de gentes e de coisas, como não é fácil
encontrar.
Nesses convívios encontrei-me, com um dos ídolos da minha infância, João
de Ávila, sogro de Luís Bretão, uma maravilhosa voz do Rádio Clube de Angra que
mantenho, com muito carinho, na minha memória e no meu coração.
Num desses jantares tive a felicidade de ouvir, atenciosamente, seu
irmão, José Orlando Bretão, durante algumas horas falando das nossas tradições
carnavalescas e das suas pinturas naïves.
Foi, através de Luís Bretão, que tive a privilegiada oportunidade de
assistir, ouvir, ler, partilhar, conviver e deliciar-me com momentos que não
esquecerei.
Foi, com Luís Bretão, que vi a forma como se organiza, como se gere,
como se lidera e como se leva ao sucesso, qualquer evento.
Luís Bretão deu-me outra imagem das festas populares, mostrou-me o
sentimento com que se recebe o Divino Espirito Santo e apresentou-me os nossos
mais famosos Cantadores de Cantigas ao Desafio, porque luís Bretão é, um enorme
embaixador da nossa Cultura cantada.
São Carlos, local da sua residência, também tem a marca “Luís Bretão”.
As Festas do Espirito Santo, não têm o mesmo brilho e simbolismo se, o Pézinho
não vai a casa do Luís Bretão.
Luís Bretão, foi e continua a ser, um exemplo de força, de determinação,
de garra, de teimosia e, acima de tudo, um exemplo de audácia e coragem em tudo
o que se envolve.
Nestes, quase 30 anos, tenho observado, com especial atenção, muita
coisa a que ele se tem dedicado, na área do desporto, cultura, comunicação
social e na área religiosa. Aprecio, a forma fácil, como resolve as coisas que
nos parecem insolúveis. Fico boquiaberto com a sua capacidade imaginativa para
qualquer festa ou reunião social e, sinto que luís Bretão é, à margem de
qualquer dúvida, o maior e mais aprimorado gestor social que eu, já alguma vez,
conheci.
Atrás de um grande Homem está sempre uma Grande Mulher. Luísa Bretão é,
inquestionavelmente, uma Grande Mulher. É Luísa Bretão que retoca, que dá
aquele brilho e que pormenorizadamente coloca, arranja e distribui pela sala
todas as iguarias com que delicia os seus convidados.
Sou, confesso, um privilegiado por ter tido e continuar a ter
oportunidade de trabalhar, conviver e partilhar momentos muito especiais, com
Luís Carlos Noronha de Bretão.
Todas as homenagens que possamos prestar a Luís Bretão serão, sempre
poucas.
Fernando Pereira
Praia da Vitória,
ilha Terceira, 17 de Março de 2014
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