PERDI A
MINHA CARTEIRA!!!
É uma sensação
esquisita, quando metes a mão ao bolso e... a carteira não está lá!
A cabeça
começa logo a andar à roda. Apalpas as algibeiras todas duas ou três vezes,
olhas para o chão, tentas lembrar-te por onde andaste, os últimos lugares onde
a poderás ter usado. E nada.
Aconteceu-me
no outro dia. Fui a uma loja de ferragens comprar umas bugigangas para um
projeto que estava a fazer para os meus netos. Por sinal era uma loja onde eu,
até umas semanas antes, também lá trabalhara, portanto todos me conhecem das
portas para dentro. Depois de pagar, entrei no meu
carro e dirigi-me a uma
outra loja, no mesmo complexo. Encontrei as coisas que me faltavam e tomei o
meu lugar na fila para pagar. Boto a mão à carteira e... senti um buraco a
abrir-se sob os pés.
Volto para
o carro e rebusco debaixo dos assentos, entre os assentos, ajoelho-me ao lado
do carro e a barriga começa a acompanhar a cabeça, a dar voltas enriçadas.
Regresso ao meu antigo posto de trabalho e conto o sucedido, dois ou três dos
meus ex-colegas ajudam-me na busca, que resulta infrutífera. Imaginem que até o
“big boss” veio à rua espiolhar entre os carros e as pequenas zonas
ajardinadas. Em casa, depois de ouvir um raspanete da patroa porque “só não
perdes a cabeça porque Deus inventou o pescoço”, sentei-me em frente do
computador para começar a cancelar cartões de crédito, pedir que me mandassem
cópias de cartões da segurança médica e fazer uma marcação para ir renovar a
carta de condução. Quem já passou pelo mesmo, sabe como é. Sentimo-nos como que
violados, inseguros. Será que alguém a encontrou e, por maldade, nem tentou a
devolução? Será que alguém vai fazer uso da minha identificação e, um dia
destes, tenho à porta mais um grande sarilho? Pode parecer mentira mas uma vez
aconteceu-me um caso parecido. Não perdi a carteira mas esqueci-me só de
recolher o cartão com que tinha feito o pagamento e, dois dias depois a minha
conta bancária já tinha sido debitada em mais de seis mil dólares! Foi mesmo o
dono da loja que tinha usado o meu cartão e comprou na internet uma série de
produtos para vender. Felizmente o banco tratou do assunto de uma forma
exemplar e o meu dinheirinho voltou à minha conta. Tinha que me lembrar deste
episódio, logo agora, para aumentar a minha angustia.
Realmente,
a angustia que senti só se me comparou à que me acometeu quando eu tinha uns
dez anos de idade e perdi a minha primeira carteira. Já estou a ouvir as vossas
vozes, “Poça, passas a vida a perder carteiras!” Até nem era bem uma carteira,
já que, nessa idade, não tinha necessidade de andar com documentos e, dinheiro
de papel... era vê-lo! Refiro-me a uma daquelas bolsinhas, de plástico, de
forma elíptica, que a gente tinha que apertar nos dois extremos ao mesmo tempo
para a abrir. A minha era preta, com um emblema da Académica de Coimbra, o meu
clube de futebol favorito (na altura). Tinha sido comprada na Praça Velha,
àquele vendedor ambulante continental que lá montava uma mesinha e vendia
pentes e esferográficas ao preço da uva mijona. Servia para ir guardando as “baratinhas”
que o meu Pai me dava, nas tardes de domingo, depois do jantar familiar.
Essa,
porém, eu sei como e onde a perdi. Foi ali junto da muralha da baía de Angra,
um pouco mais à frente da Praia do Galeão. Tinha o costume de andar às voltas
com a correntinha ao redor do dedo indicador e, zás, saltou-me pela mão fora e
foi direitinha para o mar. Nunca mais a vi. Estão agora a ver a minha angustia,
perdi a minha fortuna num abrir e fechar de olhos.
Voltando
aos nossos dias, devo acrescentar que, depois da trabalheira que tive em
renovar cartões e outras coisas mais, dois dias depois recebi um telefonema do
meu antigo patrão a dizer que a minha carteira estava, sã e salva, no cofre da
loja. Alguém a encontrou e devolveu a um dos supervisores que, ao ver a minha
foto, a guardou porque, como nem sabia que eu já não trabalhava lá, ma iria
entregar no dia seguinte. Um pequeno pormenor de falta de comunicação.
Desta vez
até nem perdi dinheiro nenhum porque já é raro andar com dinheiro na carteira.
E trocos muito menos. Hoje em dia já fazemos a nossa vida diária a toque de
cartões e transações virtuais, até podemos fazer as compras no supermercado e
só pagar com um deslizar do telemóvel. Mas a minha carteirinha preta, a que
está a fazer companhia aos galeões afundados na baía de Angra, nunca mais me
esqueci dela. Todas as vezes que passava naquele lugar, eu sentia a minha
fortuna a sair-me pelas mãos fora.
Talvez por
isso nunca cheguei a ser rico e de pobre não passarei.
Pudera, a
perder carteiras desta maneira...
Lincoln,
Ca. 22 Setembro, 2016
João
Bendito
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