SAI MAIS UM PLANO!
1. A TERRA DOS PLANOS
Os Açores devem ser a região do mundo onde existem mais planos, projectos e estudos.
Quando a governação não atina com a resolução de um problema, inventa um plano.
À fornada já existente, vai juntar-se agora mais um: o Plano de Combate às Dependências, na sequência do alarmante relatório anual do SICAD, que nos coloca, mais uma vez, na liderança das drogas e álcool.
Quem se der ao trabalho de contar o número de planos que os sucessivos governos regionais anunciaram, nos últimos anos, para combater as dependências, perderá a conta com tamanha fabricação.
Só na última década lembro-me de, pelo menos, uma mão cheia deles.
Ora vejamos: há o Plano Regional de Prevenção e Combate às Dependências 2010-2012, já existiam os Planos Regionais de Saúde de 1989 e de 1995-1999, que continham programas específicos para as áreas das toxicodependências, em 2008 o X Governo Regional criou a Direcção Regional da Prevenção e Combate às Dependências, foi criado um Núcleo Coordenador do Programa de Luta Contra as Dependências, existiu o Plano Regional de Acção Contra as dependências, foi criado um Conselho Regional para a Luta Contra as Dependências, nasceu um outro Plano Regional de Acção Contra o Alcoolismo, depois veio o Programa Regional de prevenção do Mau Uso e Abuso de Substâncias Psicoactivas...
Querem mais ou já basta?
Após tantos milhões, após tanta gente mobilizada, após tantos papéis e após tantos cargos, eis o resultado em pleno 2018: sai mais um Plano!
2. À CUSTA DOS AÇORES
Vem longa a tradição de Portugal beneficiar de acordos de âmbito científico e militar com os EUA, à custa do Acordo das Lajes e das relações privilegiadas com os políticos luso-americanos de origem açoriana.
Esgotado este filão, Portugal vira-se agora para o recém-criado projecto, ainda no papel, do famigerado Air Center ou do Centro Internacional de Investigação dos Açores, para beneficiar de mais uns acordos com os EUA, mas sem nunca passar pelos Açores.
É o caso das parcerias entre as Universidades do MIT, do Texas e a Carnige Melon e algumas universidades portuguesas, com a duração de dez anos e envolvendo um orçamento de 70 milhões de euros.
Mais uma vez a Universidade dos Açores parece afastada destas parcerias, depois do que já aconteceu com o célebre supercomputador, que foi parar ao Norte do país, também à custa do Air Center.
O ministro da Ciência, Manuel Heitor, é repetente nestes “desvios” e já anunciou que estas parcerias envolvem as áreas do ensino superior, ciência, tecnologia e inovação, como o espaço, os oceanos, o clima e a indústria digital, tudo ligado ao Air Center, mas sempre com os Açores ao largo.
Ao que tudo indica, as universidades contempladas, desta vez, serão as do Porto, Trás-os-Montes e Alto Douro e Évora.
Mais uma vez os Açores não beneficiam destas parcerias, apesar de serem moeda de troca no meio destas negociatas internacionais.
E o mais grave é que o nosso governo regional até gosta, pois curva-se no silêncio perante estas prepotências descaradas dos ministros centrais.
Vamos continuar a ver os satélites... por um canudo.
3. UMA “GUERRA” ESCUSADA
António Costa e Carlos César são conhecidos como dois dos melhores especialistas em intriga política.
Combinaram, desta vez, abrir “guerra” à Madeira por causa do respectivo défice, mas arrastaram os Açores para a arena, quando poucos dias antes Vasco Cordeiro tinha lá ido para uma cimeira de “bom entendimento”.
A explicação só pode estar no afiar as facas, à boa maneira portuguesa, para as eleições regionais do próximo ano na Madeira.
Dizer que o défice da Madeira prejudica o défice nacional e o dos Açores não, é meia verdade.
Em contabilidade pública a acusação está correcta, mas o que conta nos números do Instituto Nacional de Estatística é a contabilidade nacional, e aqui a Madeira até tem um excedente orçamental, ao contrário dos Açores.
Mais: a Madeira está a reduzir a sua dívida pública nestes últimos anos, mas os Açores estão a aumentar a dívida todos os anos.
Pior: o Tribunal de Contas aprovou a Conta da Madeira sem reservas e a dos Açores foi aprovada “com reservas”, o que não abona nada a transparência das nossas contas.
O provérbio popular é fatal: nunca se cospe para o ar...
4. COMO ESTIMULAR A RIQUEZA
É oficial: o paraíso dos estímulos financeiros é nos Açores.
Para as zonas de lazer, os residentes não pagam nada.
Abastecer água à lavoura? Têm que pagar e colocar contadores nas pastagens.
5. PS DA MADEIRA DÁ EXEMPLO AO PSD DOS AÇORES
É conhecido o histórico do PS da Madeira, que não consegue ganhar uma eleição regional que seja ao PSD, um pouco à semelhança do PSD nos Açores nestes últimos vinte anos.
Vai daí, os socialistas madeirenses vão tirar um coelho da cartola: o respectivo líder abdica de se candidatar a Presidente do Governo e vai avançar com outro candidato, o Presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo, que está a conquistar popularidade entre os madeirenses.
O PSD-Açores estará atento?...
6. AFINAL EM QUE FICAMOS?
Em 25 de Janeiro, numa conferência de imprensa, com a Secretária Regional dos Transportes, foi anunciado que o navio que vai ser construido para substituir o “Mestre Simão” será “similar a este”, com uma “diminuição de cerca de 30 lugares para passageiros e um aumento de 4 lugares para transporte de viaturas”.
Anteontem, o Presidente do Governo, Vasco Cordeiro, veio dizer que “o trabalho que está a ser feito pretende (...) reforçar a capacidade sobretudo de transporte de viaturas. Está também em análise permitir o transporte de viaturas até cinco toneladas”, sublinhando a importância a nível de “trocas comerciais” nas ilhas do Triângulo de uma embarcação “de maior porte”.
Afinal é “similar” ou de “maior porte”?
É apenas para mais “4 viaturas” ou para mais do que isso, permitindo “viaturas até cinco toneladas”?
Entendam-se, pelo amor da santa.
Fevereiro 2018
Osvaldo Cabral
(Diário dos Açores, Diário Insular, Multimedia RTP-A, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)
SAI MAIS UM PLANO!
1. A TERRA DOS PLANOS
Os Açores devem ser a região do mundo onde existem mais planos, projectos e estudos.
Quando a governação não atina com a resolução de um problema, inventa um plano.
À fornada já existente, vai juntar-se agora mais um: o Plano de Combate às Dependências, na sequência do alarmante relatório anual do SICAD, que nos coloca, mais uma vez, na liderança das drogas e álcool.
Quem se der ao trabalho de contar o número de planos que os sucessivos governos regionais anunciaram, nos últimos anos, para combater as dependências, perderá a conta com tamanha fabricação.
Só na última década lembro-me de, pelo menos, uma mão cheia deles.
Ora vejamos: há o Plano Regional de Prevenção e Combate às Dependências 2010-2012, já existiam os Planos Regionais de Saúde de 1989 e de 1995-1999, que continham programas específicos para as áreas das toxicodependências, em 2008 o X Governo Regional criou a Direcção Regional da Prevenção e Combate às Dependências, foi criado um Núcleo Coordenador do Programa de Luta Contra as Dependências, existiu o Plano Regional de Acção Contra as dependências, foi criado um Conselho Regional para a Luta Contra as Dependências, nasceu um outro Plano Regional de Acção Contra o Alcoolismo, depois veio o Programa Regional de prevenção do Mau Uso e Abuso de Substâncias Psicoactivas...
Querem mais ou já basta?
Após tantos milhões, após tanta gente mobilizada, após tantos papéis e após tantos cargos, eis o resultado em pleno 2018: sai mais um Plano!
2. À CUSTA DOS AÇORES
Vem longa a tradição de Portugal beneficiar de acordos de âmbito científico e militar com os EUA, à custa do Acordo das Lajes e das relações privilegiadas com os políticos luso-americanos de origem açoriana.
Esgotado este filão, Portugal vira-se agora para o recém-criado projecto, ainda no papel, do famigerado Air Center ou do Centro Internacional de Investigação dos Açores, para beneficiar de mais uns acordos com os EUA, mas sem nunca passar pelos Açores.
É o caso das parcerias entre as Universidades do MIT, do Texas e a Carnige Melon e algumas universidades portuguesas, com a duração de dez anos e envolvendo um orçamento de 70 milhões de euros.
Mais uma vez a Universidade dos Açores parece afastada destas parcerias, depois do que já aconteceu com o célebre supercomputador, que foi parar ao Norte do país, também à custa do Air Center.
O ministro da Ciência, Manuel Heitor, é repetente nestes “desvios” e já anunciou que estas parcerias envolvem as áreas do ensino superior, ciência, tecnologia e inovação, como o espaço, os oceanos, o clima e a indústria digital, tudo ligado ao Air Center, mas sempre com os Açores ao largo.
Ao que tudo indica, as universidades contempladas, desta vez, serão as do Porto, Trás-os-Montes e Alto Douro e Évora.
Mais uma vez os Açores não beneficiam destas parcerias, apesar de serem moeda de troca no meio destas negociatas internacionais.
E o mais grave é que o nosso governo regional até gosta, pois curva-se no silêncio perante estas prepotências descaradas dos ministros centrais.
Vamos continuar a ver os satélites... por um canudo.
3. UMA “GUERRA” ESCUSADA
António Costa e Carlos César são conhecidos como dois dos melhores especialistas em intriga política.
Combinaram, desta vez, abrir “guerra” à Madeira por causa do respectivo défice, mas arrastaram os Açores para a arena, quando poucos dias antes Vasco Cordeiro tinha lá ido para uma cimeira de “bom entendimento”.
A explicação só pode estar no afiar as facas, à boa maneira portuguesa, para as eleições regionais do próximo ano na Madeira.
Dizer que o défice da Madeira prejudica o défice nacional e o dos Açores não, é meia verdade.
Em contabilidade pública a acusação está correcta, mas o que conta nos números do Instituto Nacional de Estatística é a contabilidade nacional, e aqui a Madeira até tem um excedente orçamental, ao contrário dos Açores.
Mais: a Madeira está a reduzir a sua dívida pública nestes últimos anos, mas os Açores estão a aumentar a dívida todos os anos.
Pior: o Tribunal de Contas aprovou a Conta da Madeira sem reservas e a dos Açores foi aprovada “com reservas”, o que não abona nada a transparência das nossas contas.
O provérbio popular é fatal: nunca se cospe para o ar...
4. COMO ESTIMULAR A RIQUEZA
É oficial: o paraíso dos estímulos financeiros é nos Açores.
Para as zonas de lazer, os residentes não pagam nada.
Abastecer água à lavoura? Têm que pagar e colocar contadores nas pastagens.
5. PS DA MADEIRA DÁ EXEMPLO AO PSD DOS AÇORES
É conhecido o histórico do PS da Madeira, que não consegue ganhar uma eleição regional que seja ao PSD, um pouco à semelhança do PSD nos Açores nestes últimos vinte anos.
Vai daí, os socialistas madeirenses vão tirar um coelho da cartola: o respectivo líder abdica de se candidatar a Presidente do Governo e vai avançar com outro candidato, o Presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo, que está a conquistar popularidade entre os madeirenses.
O PSD-Açores estará atento?...
6. AFINAL EM QUE FICAMOS?
Em 25 de Janeiro, numa conferência de imprensa, com a Secretária Regional dos Transportes, foi anunciado que o navio que vai ser construido para substituir o “Mestre Simão” será “similar a este”, com uma “diminuição de cerca de 30 lugares para passageiros e um aumento de 4 lugares para transporte de viaturas”.
Anteontem, o Presidente do Governo, Vasco Cordeiro, veio dizer que “o trabalho que está a ser feito pretende (...) reforçar a capacidade sobretudo de transporte de viaturas. Está também em análise permitir o transporte de viaturas até cinco toneladas”, sublinhando a importância a nível de “trocas comerciais” nas ilhas do Triângulo de uma embarcação “de maior porte”.
Afinal é “similar” ou de “maior porte”?
É apenas para mais “4 viaturas” ou para mais do que isso, permitindo “viaturas até cinco toneladas”?
Entendam-se, pelo amor da santa.
Fevereiro 2018
Osvaldo Cabral
(Diário dos Açores, Diário Insular, Multimedia RTP-A, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)
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