
O VELHO CAPITÃO MÁRIO WILSON E O CRUCIFICADO JORGE JESUS
Será que posso falar de treinadores de futebol? Creio que sim, pela minha experiência na área e, também, fundamentalmente, pelo meu acompanhamento jornalístico ao longo de todos estes 51 anos de atividade. Convivi, dentro da referida componente, com muitos treinadores, alguns deles já falecidos, o mais
recente Fernando Cabrita quando este passou pelo União de Tomar e pelo Beira – Mar do estratega António Sousa - Hoje nas divisões secundárias também como técnico.
Lembro-me de muitas conversas tidas com esses treinadores, óbvio que muitos deles, pretendendo defender a sua dama e, sobretudo, o seu posto de trabalho que, como é sabido, sobrevive muito a expensas dos resultados positivos. Por exemplo, aqui no Brasil onde me encontro são frequentes as chamadas “chicotadas psicológicas”. E no atual Brasileirão, com 11 rondas disputadas, mais de sete técnicos foram à vida, um deles o nosso bem conhecido Felipão, saído do Grémio de Porto Alegre em função dos maus resultados. E manda a verdade dizer que esta “chicotada” surtiu os seus efeitos, atendendo a que os gremistas já estão colocados nos lugares cimeiros. Ai Felipão, Felipão...
Quando estagiei no Benfica, que foi campeão nessa época de 77/78, Mortimore, coadjuvado pelo meu querido amigo professor Rui Maurício Silva, sempre denotou uma enorme segurança, bem à inglesa. Um verdadeiro “gentlemen”.
Mas futebol é isto mesmo, de bestial passa-se para besta e vice-versa. Jorge Jesus, por exemplo, quando estava no Benfica era debochado pelos sportinguistas pela forma em como se expressava, portuguesmente falando. Hoje, depois de virar agulhas para o outro lado da primeira circular de Lisboa, assinando contrato pelo grande rival do grémio da Luz, é crucificado pelos benfiquistas.
E vou terminar com uma frase do Mário Wilson: “Qualquer treinador que esteja no Benfica, se sujeita a ser campeão”. Ele foi campeão, daí esta sua firme asserção.
Conheci Mário Wilson quando ele estava na Académica de Coimbra, na digressão que a “briosa” fez por Angola em 1966, tendo eu sido o árbitro do jogo com a Seleção do Bié (Silva Porto) e cujo resultado se cifrou numa vitória dos estudantes por 1-0. Não foram favas contadas, não. E fui criticado por Mário Wilson quando expulsei o jogador Bernardo, outro que também hoje é técnico. Depois mais uma convivência com Mário Wilson quando este, em 1968, veio à ilha Terceira, comandando o Belenenses (do meu amigo Eduardo Laurindo Silva, que por sinal fez parte da tal Seleção do Bié) na disputa de uma eliminatória (dois jogos) da Taça de Portugal com o Lusitânia de outro velho amigo de infância, o falecido Luís Manuel Linhares Coelho, vulgo “Airosa”.
E este contato com Mário Wilson terminou quando, em Lisboa, numa noite de grande dilúvio, assistimos juntos, (por mera coincidência dos lugares na bancada central do Estádio da Luz) ao jogo Benfica – Liverpool (1-4), para a então denominada Taça dos Clubes Campeões Europeus. E ainda hoje me recordo da frase do Mário Wilson, o velho capitão: “Hoje não foi, seguramente, a noite do Benfica”, isto quando o clube da cidade dos Beatles chegou aos 4-1.
Do jornal A União - O "artilheiro" e o "saca das bolas"
Em tempos de outrora, as festas do Divino Espírito Santo eram bastante concorridas, corolário da falta de outras ocupações. Nessa altura, não se sonhava com discotecas, televisão, bares nocturnos com música ao vivo, enfim, uma série de opções que hoje a juventude (sobretudo estes) desfruta, se bem que, pelo que se vem constatando através das próprias estatísticas, são os adultos que mais vêem televisão. A febre das novelas e por aí fora.
Ora, naquele tempo, todos nós ambicionávamos que os primeiros quatro meses do ano passassem célere, visto que, em Maio (como ainda hoje acontece, nada mudou nesse sentido), começavam as festas do Divino Espírito Santo, com iniciação na Canadá de Belém, Pico da Urze, Santa Luzia, Terra Chã, Remédios, Outeiro, Caridade e São João de Deus, apenas para falar destes. E as touradas da Canadá de Belém, Pico da Urze, Terra Chã e São João de Deus, sempre aguardadas com enorme entusiasmo. Era bonito ver-se, em quase todas, a presença do “João dos Ovos”, um capinha especialista em passes com o guarda-chuva (se preferirem, também pode ser de sol. Tanto faz...). Mais tarde, apareceram outros, citando, nomeadamente, o “Prosa” de São Mateus.
Mas, nos arraiais e iluminações das referidas festas, sempre apareciam figuras marcantes, sobretudo para o gosto da petizada e jovens até sensivelmente aos 15 anos. Para além do “Carlinhos Papagaio” trazia as suas ventoinhas multicolores (...) e os habituais vendedores ambulantes (amendoim, tremoços, fava torrada, chupa-chupa, etc., etc.,), tínhamos, também, em cada local onde a festa existia, as figuras do José “Artilheiro” e do “Saca das Bolas”, cunhado do nosso saudoso amigo, José Gabriel Pires dos Santos, vulgo “perna branca”. O José “Artilheiro”, que morava na Rua do Morrão, trazendo os seus deliciosos sorvetes (utilizávamos mais o termo gelado) e o “Saca das Bolas” reunindo à sua volta muita gente que comprava uma ou mais tábuas (cada uma tinha seis números, creio eu) para tentar a sua sorte, visto que, o possuidor do número premiado (que saia da famigerada saca), ganharia uma dúzia de chocolates. Para os mais novos, quando isso acontecia, era uma alegria, na exacta medida em que dava para “adocicar o bico” da namorada ou ainda daquela que era pretendida. E a rapaziada juntava-se em frente ao “Saca das Bolas” (um micaelense que se tornou popular na Terceira, sobretudo em Angra onde vivia) para tirar da saca a bolinha da sorte. Muitas vezes, quem a tirava era contemplado com um chocolate, oferecido, óbvio, pelo premiado. Hoje já nada disso existe. Tudo se modificou com o aparecimento de outros divertimentos e espaços de movimentos nocturnos. É mais cómodo ficar em casa a ver uma partida de futebol na televisão ou uma novela, por exemplo.
Evidentemente que, quando as filarmónicas entravam no coreto para os arraiais e iluminações, o público, em número considerável, juntava-se em torno do mesmo, observando os gestos dos maestros (Diamantino Ribeiro, senhor Cunha, pai do meu grande amigo Alberto Cunha, Mário Coelho e tantos outros dessa época marcante) e a sintonia dos componentes, mormente quando se tratava de uma música conhecida. E lembro-me que, em relação à Filarmónica da Ribeirinha (que se dizia, por brincadeira, “tocar o mesmo e o mais forte”) prendia a atenção esse grande trompetista de nome José Brincão, não esquecendo o falecido Alberto Benigno, o José “Espadinha” no bombo, o Filili na tarola, enfim, tempos e figuras que não se apagam da nossa memória.
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