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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

sábado, 4 de novembro de 2017

Luís Bretão Um Terceirense de Causas

Depoimentos de pessoas amigas e conhecidas, convidadas pela autora do livro, a distinta escritora Isabel Coelho.

Ilha das Flores
João Vieira Gomes
Viver para servir

Luís Carlos de Noronha Bretão nasceu na rua Rio de Janeiro (atual rua Carreira dos Cavalos), na casa n.º 31, freguesia da Sé, da cidade Património da Humanidade, Angra do Heroísmo, a 31 de Maio de 1945.

Luís Bretão “nasceu para servir”, divisa que o próprio adoptou e que, ao longo da sua existência, deu largas provas dessa realidade com empenhamento e jovialidade.

Como eu não vivia em Angra do Heroísmo e sendo o Amigo Luís mais novo, não o conheci no tempo
da juventude. Conheci sim o irmão José Orlando Bretão, jurista empenhado em causas sociais, que dispensa considerações pela maneira como pautou a sua passagem pela vida. Tínhamos a mesma cidade, interesses comuns, o gosto pela História Açoriana e as várias facetas da cultura popular. Por isso, várias vezes nos encontrámos na Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo.

Por inerência da minha actividade profissional, que proporcionava frequentes deslocações a Angra do Heroísmo, sempre que estava livre dos meus deveres profissionais refugiava-me na Biblioteca, incluindo o desafortunado sábado em que ele sofreu um “ataque cardíaco” (enfarte do miocárdio), que o pôs em estado de coma por várias semanas; seguindo-se intervenções cirúrgicas que lhe permitiram um prolongamento de vida por uma década.

A publicação do Legado Cultural e Documental foram e serão uma referência no campo dos Bailinhos e Danças de Carnaval, consulta obrigatória porque ninguém foi tão longe quanto ele – A Bíblia do Carnaval como alguém com propriedade a batizou.

Só conheci o Luís Bretão dos balcões da SATA na ilha Terceira, do tempo que regularmente me deslocava em serviço à ilha de Nosso Senhor Jesus Cristo. Luís Bretão é um comunicador nato, particularidade que lhe granjeou notoriedade, não apenas na transportadora regional. Em caso de cancelamentos ou qualquer imprevisto de viagem era notória a sua capacidade de vencer dificuldades e ultrapassar obstáculos.

Uma parte da sua vida dedicou-a às causas desportivas, como praticante de hóquei em patins, dirigente desportivo e associativo no campo dos desportos. O pavilhão gimnodesportivo da cidade de Angra do Heroísmo ostenta o nome de Luís Bretão. Lutador incansável pelas causas que acredita.

No entanto, como se diz em linguagem marinheira; a vida não foi um “mar de rosas”. Em 1997, estava no auge da carreira profissional quando sofreu um grave AVC (acidente vascular cerebral) que, pela dimensão e demora que mediou entre o acidente e o internamento, afectou-lhe a recuperação, que foi demorada e deixando sequelas na locomoção. Como se este acidente vascular não fosse de si uma séria contrariedade; em 2005, facturou uma perna que ficou imobilizada durante o tempo de calcificação. Mas estes contratempos não lhe retiraram a coragem para vencer as batalhas que teve que enfrentar, nem a alegria de viver.
Recordar belos tempos

Recuamos a 1995. Foi nesse verão que conheci o verdadeiro Bretão, não na SATA, mas no célebre Império do Divino Espírito Santo de São Carlos, famoso pelas celebrações e festejos em Honra do Divino, que, nenhum angrense que se preze, falta com a sua participação.

Nesse ano, Luís Bretão era o procurador das celebrações. Teve uma notável iniciativa (mostra de queijos e vinhos dos Açores), salvo melhor opinião, julgamos que se tratou de um invento inédito. Conhecer melhor os Açores com as suas particularidades é conhecer os valores tradicionais do Povo que somos.
Pézinho dos Bezerros

Quando chegou o tempo de me libertar das funções públicas, que duraram 43 anos, a que se juntou sete publicações sobre a cultura marítima Açoriana, era tempo de ver Amigos, sobretudo os mais afastados da última Ponta da Europa. Para tanto era necessário tirar tempo. Assim, arrumei os compromissos, de modo a quando efectuasse uma deslocação, assistir a alguns acontecimentos e visitar Amigos.
Estava de passagem por Angra do Heroísmo, quando o Luís Bretão me falou no Pézinho dos Bezerros que celebrava, por altura, nas Festividades do Império de São Carlos. Disse-me: “ Quero que assistas e quero que me arranjes queijos das Flores”; - ao que respondi: “Não garanto se poderei comparecer. O que posso garantir é que te enviarei os queijos que desejas”. Foi em 2011, os queijos chegaram. Só que tinha uma viagem planeada para a Nova Inglaterra para o mês de Setembro. Comecei a agendar o Pézinho dos Bezerros para não faltar.
Em 2012, foi a primeira vez que assisti a algo singular que não imaginava, uma multidão de pessoas de toda a ilha e até alguém de passagem pela ilha, como era o meu caso.
Em 2013, compareci na hora adequada, já havia muita gente, a toda a hora chegava mais gente, os cantadores e os criadores de gado chegavam de toda a ilha, até a “jovem promessa” Maria Clara (uma revelação /génio, que a Terceira só tem um por século), há quem pense que seguirá as pegadas da Terlú. Até uma Filarmónica, que julgo ser a dos Biscoitos, coroou o Pézinho, após todos os cantadores, sem excepção, apresentaram as suas cantorias alusivas à circunstância e ao Patrono deste acontecimento: Luís Bretão. Permitam-me citar um casal amigo do Continente, que após ter assistido uma vez não quer perder mais nenhum. É o mais notável encontro de Amigos que conheço, sem mais nada que se lhe compare. Só o Poder do Divino Espírito pode conter tal convívio. Este convívio que Luís Bretão irá promover em Louvor do Divino, particularmente neste Ano da Graça de Deus de 2014, em que o Império de São Carlos celebra o seu Bicentenário.
Ao Luís Bretão envio um braço com muito mar pelo meio. Este é o meu testemunho amigo e devoto do Divino.

João Vieira Gomes
Ponta da Fajã Grande, ilha das Flores
Casa Magnólia e do Dragoeiro, 6 de Janeiro de 2014

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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