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domingo, 7 de agosto de 2016

Do Azores Digital e jornal A União




O MEU CONTATO COM EUSÉBIO DA SILVA FERREIRA

O grande Eusébio faleceu em cinco de janeiro de 2014, a poucos dias de completar 72 anos de idade. No dia 3 de julho corrente, a trasladação para o Panteão Nacional, com saída do Cemitério do Lumiar. Uma decisão do governo para homenagear aquele que foi um “monstro sagrado” do futebol português ao
serviço do Benfica e da Seleção Nacional onde se notabilizou,  nomeadamente no Mundial de 1966 disputado na Inglaterra e onde os “Magriços” (como assim foram batizados) lograram um honroso terceiro lugar.
Quando fui mobilizado para Angola, cheguei a Lisboa no sábado 14 de fevereiro de 1965, tendo sido recebido, militarmente falando, pelo tenente Orlando Ramin que, volvidos alguns anos (ironia do destino) veio para a ilha Terceira treinar o Lusitânia e passou a fazer parte do lote dos meus amigos do peito. Mas, retomando o fio à meada, reconheci o tenente Ramin uma vez que sempre fazia coleção dos cromos de futebol. Conversa puxa conversa, perguntei-lhe se a minha apresentação iria demorar muito, visto que pretendia ver o Eusébio jogar naquela noite frente à antiga equipa do Ramin (guarda-redes, depois veio para os Belenenses), a Associação Académica de Coimbra. Como já era na altura um pouco malandreco, disse-lhe que iria torcer pela “Briosa”. Óbvio que o meu fito era ver Eusébio, apesar de ser sportinguista. O Benfica venceu por 3-1 e Eusébio faturou.
Já como correspondente do jornal A Bola nos Açores, em setembro de 1973, desloquei-me a Lisboa para assistir à festa de despedida de Eusébio, uma homenagem muito bonita com o Benfica a defrontar uma seleção do resto do mundo (2-2) que, entre outros, contou com a participação de Best. Nas homenagens, e antes do jogo começar, o meu saudoso amigo e chefe de redação de A Bola, Vitor Santos, também, em representação do jornal,  entregou a Eusébio uma lembrança de um jornal que muito dele falou. E Vitor Santos esteve no Mundial de 1966.  Acresce que, em 1995, participei da festa organizada pelo CNID (Clube Nacional da Imprensa Desportiva) para comemorar os seus 30 anos de existência, festa essa (no Teatro da Trindade) que também serviu para homenagear os “Magriços” de 1966, jornalistas e fotógrafos que estiveram na Inglaterra nesse memorável ano para o futebol português. Eusébio estava lá e Rui Santos representou o seu falecido tio Vitor Santos.
Contatos de perto com Eusébio. O primeiro com um almoço no Beira – Mar em São Mateus, a convite do colega, amigo e irmão, Hilário da Conceição que nessa altura treinava o Lusitânia. Eusébio tinha ido a São Miguel a convite do Águia dos Arrifes e, para o efeito, deu um salto até à ilha Terceira para ver o seu conterrâneo de Moçambique e colega na Seleção Nacional. Hilário outro dos “Magriços”. Nesse almoço, também se juntou o António Nanques. O Fernando, proprietário do restaurante, delirou com a presença do “pantera negra”. Ainda tivemos tempo de ir tomar um café ao Café Central no Largo do Colégio.
Depois, encontro com Eusébio na Casa do Alentejo em Lisboa na festa de homenagem ao Vitor Santos. Cavaqueei um pouco com ele, para mais que o Hilário me havia telefonado nesse dia para eu lhe dar um abraço.
Finalmente, o último contato ocorreu em dezembro de 1991 no aniversário do Angrense que promoveu um colóquio na sala da Recreio dos Artistas, com as presenças de Eusébio e de Humberto Coelho. Nessa altura, eu estava em São Miguel na chefia do Jornal do Desporto e fui convidado pela direção do Angrense presidida por Gustavo Manuel Borba da Silva que, gentilmente, me instou para o jantar após o colóquio, jantar esse no Restaurante Beira – Mar, ali bem pertinho da sede do Angrense. Também presente o presidente da Assembleia – Geral, João Rebelo Machado, proprietário da Pastelaria Cristal. Ao todo, éramos cinco pessoas em alegre e franco convívio.
Claro que, no dia seguinte, primeiro de dezembro, voltamos a estar juntos no almoço que decorreu no Hotel de Angra. Só não assisti ao jogo porque tinha que regressar a São Miguel para o fecho do jornal já com a minha reportagem relacionada com as presenças do Eusébio e do Humberto Coelho.
E foram estes os meus contatos com Eusébio da Silva Ferreira. Como muito bem disse o António Simões (sic) “o Eusébio só morreu fisicamente”.

Do jornal A União - Cromos de hoje e cromos de ontem 

Já li, algumas vezes (aliás, leio tudo o que ele escreve), vários artigos assinados por João Rocha, editor deste jornal, sobre cromos. E, curiosamente, também já tinha pensado em alinhavar um artigo sobre o mesmo assunto. De resto, nos cromos de hoje, e no que concerne ao futebol, depois de ver no facebook o João Rocha equipado à-Sporting com todo o rigor, não tenho a menor dúvida que seria o mais forte candidato ao “número da bola”, com estilo e grande fervor sportinguista, acreditando sempre num desiderato que tarda em chegar.
Na verdade, antigamente existia uma enorme febre em relação aos cromos de futebol, trazidos para a Terceira por um senhor continental, genro do José Vieira, proprietário da mercearia do mesmo nome e onde hoje funciona, óbvio no Corpo Santo, o Isaias, agora o local escolhido para os encontros dos amigos do Canto da Caixa. O dito senhor aproveitava a rapaziada do bairro oriental da cidade para colocar nos cromos os rebuçados e, de seguida, dentro dos respectivos recipientes que iriam ser distribuídos pelas várias mercearias, uma delas a do Fernando nos Quatro Cantos onde eu dividia a minha permanência, isto é, Corpo Santo e Quatro Cantos. Quando surgiam novas coleções era uma enorme alegria para a rapaziada, sobretudo para a denominada “troca de repetidos”. Mas, retornando ao genro do José Vieira, que era o representante na ilha Terceira, nunca sabíamos onde eram colocadas as senhas que davam direito aos prémios (cadernetas, bolas de borracha, etc., etc) e muito menos qual o cromo em que constava o número da bola, um esférico de couro muito apetecido, porque, naquelas épocas, muito se jogava com pequenas bolas de borracha e inclusivamente bolas feitas com panos envoltos numa ou mais meias que as mulheres usavam, e ainda usam, mas hoje muito mais sofisticadas. Havia sempre a curiosidade em saber-se se o recipiente que continha os cromos estava quase no fim, porque era lá bem no fundo que se encontrava o cromo premiado. De resto, estas coleções também serviam para se conhecer os craques dos clubes que disputavam o principal campeonato português, postados no clássico 3-2-5. No Benfica, o Bastos, Félix, Corona, no Sporting, Albano, Veríssimo, Passos, Caldeira, Pacheco e os célebres cinco violinos com Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travaços e Albano. No Beleneses, Sério, Rocha, Serafim das Neves, Castela, Matateu, Narciso. No Porto, Barrigana, Carvalho, Virgílio (o “leão de Génova), Porcell, depois outras referências, tais como Faia, Mário Wilson, Ramin, Torres, Bentes, Vital, Falé, Paixão, Eloy, Nunes (creio que o pai do Mário) e tantos outros. Cm o decorrer do tempo, surgiram coleções com jogadores mais recentes.
 Para além de Alberto Augusto (veio treinar o Angrense), que creio não fez parte deste ciclo de cromos que apareceram no mercado, dos mais antigos, Frederico Passos, que residia em Braga, esteve perto de ser treinador do Lusitânia, acabando por não aceitar o convite derivado a problemas de ordem pessoal. Mais tarde, em substituição de Mário Nunes, veio Orlando Carvalho Ramin, que inclusivamente chegou a jogar no Belenenses quando saiu da Académica. E aqui um caso curioso: quando cheguei a Lisboa para seguir com destino a Angola, viajando no Carvalho Araújo, à chegada ao Cais de Alcântara os militares que fizeram parte dessa viagem eram aguardados pelo então tenente Orlando Ramin, colocado no Depósito Geral de Adidos e treinador da equipa daquela unidade por onde passavam militares com destino às províncias ultramarinas. E foi exatamente por ter ficado na retina do seu cromo, que reconheci Orlando Ramin. Afinal, os cromos também deram para se formar interessantes e verídicas histórias.   
NOTA FINAL – Naturalmente que outras coleções mais recentes continham jogadores que rumaram para os Açores com o estatuto de treinadores, nomeadamente Hilário da Conceição (Lusitânia, Praiense e Futebol Clube da Calheta), o falecido Cavém (Santa Clara), o brasileiro Bené (Lusitânia), Zeca (passagens por São Jorge e Pico) e outros.


Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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