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sexta-feira, 19 de maio de 2017

Do jornalista João Rocha



Dançar com o tempo
                     
                                                         



Ver cinema à borla e aproximação das raparigas com a esperança num eventual namoro (suponho que a intenção também teria cabimento em sentido inverso). Estas eram, regra geral, as motivações que levavam, há três/quatro décadas, um rapaz a ingressar numa filarmónica ou grupo folclórico. Aos olhos de um jovem atual, tudo isto deve parecer disparatado.

E se fosse jogar com uma bola feita de meias velhas ou um saco de leite? Apanhar canários e pintassilgos com uma telha? Brincar aos polícias e ladrões, aos cowboys e índios, aos berlindes, saltar à corda, atirar o pião, corridas em carros de ladeira e andar à apanhada?
O mundo, num espaço tão curto, mudou tanto. Perdeu-se em fantasia, materializada na rua, ganhou-se em tecnologia, remetida, muitas vezes, às paredes do quarto de cama ou sala.
Portugal tem mais telemóveis que população. Estamos todos em rede.
Para quê ir tocar música com vista a alegrar o coração? Pode-se, perfeitamente, dar corda à audição e visão nas várias plataformas digitais, expoente máximo de um mundo globalizado.
E que tal beber pirolito em vez de um shot? Já escrevi o suficiente para ser tratado por um careta.
Mesmo assim, vou arriscar mais um pouco. Qual era a sensação de ver a televisão a preto e branco, sem controlo à distância, até porque só havia um canal, no caso a RTP/Açores, com emissão a partir das 18H30 e hino, para encerrar, por volta das 23 horas, ou ouvir novelas através da rádio?
Este é um mundo que pode parecer da pré-história, mas será sempre o meu mundo. Era tudo mais lento, com tempo para o.… tempo, mas, de qualquer modo, tive muito gosto em ser cromo de uma caderneta que o bolor não apaga da memória.
E, já agora, pela boca de gente de outras gerações, posso recordar os bailes em que ganhar uma dança com uma rapariga bonita, equivalia a ser o mais lesto de todos, destemido com o olhar desconfiado da mãe (ou tia solteirona) protetora e ter uns trocos para investir em chocolates que serviam para adoçar a paciência da dançarina pela noite toda.
A música de hoje pode ser mais ritmada, mas ninguém tira o gozo de uma abordagem do género: a menina dança, tem par ou descansa?
Meus jovens amigos, para desespero vosso, isto já não vem no Google...

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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