DR. ARTUR DA CUNHA DE OLIVEIRA
ACO – PRESIDENTE, DIRETOR,
POLÍTICO
(Publicado na Sexta-Feira, dia 03
de Fevereiro de 2012, em A União, por Carlos Alberto Alves)
Há pessoas que, ao longo dos tempos, se têm revelado pela sua enorme capacidade
intelectual, ora no desporto, ora na comunicação, ora na política, enfim, em
muitos outros vetores ligados à cultura e ao associativismo, por exemplo.
Grande parte da minha infância foi passada no Bairro Oriental da cidade de
Angra do Heroísmo, o Corpo Santo. Aliás, ali fui nado e criado, mais
concretamente na zona do Adro Santo, onde moravam os meus avós maternos, ao
lado do José Salcena, pai do José Luís (RIP) que trabalhou na Farmácia Sousa e
primo do nosso grande amigo Fernando Costa, residente no Canadá. Assíduo frequentador
do Marítimo e seu atleta desde os juvenis aos seniores, muito embora não tenha
passado de um reservista, conheci no clube alguns presidentes que não eram
residentes no Corpo Santo, mas que, por outro lado, sempre se revelaram grande
amigos do clube da Cruz de Cristo, citando, nomeadamente (e pelos contatos que
tive), os falecidos Dr. Francisco Mendes Pereira e António Deodato Ferreira (o
Ferreira da Açoreana de Seguros, como era conhecido). Mais tarde, e em outro
ciclo da vida, e já após ter regressado de Angola, conheci o Deodato Ferreira
como presidente da Sociedade Recreio dos Artistas.
Claro que faltava mais um desses presidentes, este ainda no rol dos vivos e com
uma bela disposição, conforme constatamos na nossa recente ida à ilha Terceira
(Dezembro/Janeiro de 2010). Trata-se do Dr. Artur Cunha de Oliveira que o
conheci, primeiramente, na sua fase da vida sacerdotal. Cunha de Oliveira, pelo
seu carisma de homem bastante culto, foi um dos presidentes marcantes na vida
do Sport Club Marítimo. Dizia-se sempre: não ganhamos nada em campo (exceto um
ou outro jogo e a célebre Taça Expedicionários da Companhia do BII 17 que foi
para a Índia), mas, por outro lado, o nosso presidente é o melhor de todos,
isto em relação aos outros clubes. Enfim, o que naquela altura se comentava
para contrapor aos muitos desaires competitivos que, bem vistas as coisas,
nunca pesaram na vida associativa do clube. Perdia-se de cabeça erguida
(levando até cabazadas) e, à noite, a sede do Marítimo estava sempre bem frequentada
de atletas e associados. Acresce que também os outros dois presidentes
referenciados contribuíram sobremaneira para o enriquecimento sócio-cultural do
Sport Club Marítimo.
Já adulto, já com o bichinho do jornalismo, e puxado em boa hora pela mão do
José Daniel Macide (RIP), entro em A União (então vespertino) e, mais uma vez,
o grato prazer de conviver com Artur Cunha de Oliveira, então diretor, e chefe
de redação Artur Goulart, hoje a residir em Évora e nosso amigo sempre presente
no facebook. Direi que, nesta vida de jornalismo, que completa 48 anos a 10 de
Março próximo, foram duas pessoas que me marcaram pela sua capacidade e
idoneidade. Lembro-me que houve certo desaguisado com a Associação de Futebol
de Angra (mais concretamente com o então presidente, o falecido Francisco
Borges Pinheiro), tudo porque negaram a passagem de um cartão livre trânsito
para a minha pessoa, tendo sido alegado que o JD Macide não tinha vínculo para
assinar o ofício que foi dirigido à dita AFAH. Cunha de Oliveira não estava na
ilha e, quando voltou ao jornal após essa mesma viagem, resolveu tudo num
ápice, com um simples telefonema. Como disse o Macide: “o peso do homem das
saias”, querendo referir-se à indumentária de sacerdote de Cunha de Oliveira
que usou a sua inteligência para resolver um caso, que nunca chegou a ser caso,
mas tão somente um finca-pé associativo, quiçá pelo fato de, uma semana antes,
o JD Macide ter escrito um artigo que não agradou ao Borges Pinheiro.
Depois, seguiu-se o episódio que mexeu emocionalmente comigo e com o JD Macide.
Por discordar de uma decisão do bispo de então (Manuel Afonso de Carvalho?),
Artur Cunha de Oliveira decidiu não continuar na direção de A União, tendo sido
acompanhado, nesta sua decisão, pelo Artur Goulart, num gesto de inequívoca
solidariedade. E nós dois? O JD Macide disse-me logo: “Carlos eu também vou
sair, mas se queres continuar é contigo”. Claro que eu jamais iria roer a corda
e fiquei ao lado do Macide, na solidariedade para com duas pessoas que sempre
nos respeitaram e deles sempre recebemos incondicional apoio quando, via
missiva, alguns rebatiam as nossas opiniões. Nessa noite, eu e o Macide fomos
carpir as mágoas para o Porto das Pipas, acompanhados pelos habituais amigos,
João Bendito, Silvio Lourenço, João Frederico Câmara. Não vou esconder que,
nessa noite, muito chorei. E será feio um homem chorar?
Volvidos alguns anos, encontro Artur Cunha de Oliveira em Ponta Delgada (São
Miguel), no Solmar, ele que então já era Eurodeputado Socialista. Com a mesma
afabilidade de costume, parabenizou-me pelo fato de eu ter tido a coragem de
vir para São Miguel chefiar a redação do Jornal do Desporto e simultaneamente
deixou-me o convite para eu visitar Bruxelas, ou seja, o Parlamento Europeu.
...E volvidos mais anos, Dezembro de 2010, no Modelo, encontro o Dr. Artur
Cunha de Oliveira. Deu-me o abraço da ordem, de amizade e fez o seguinte
comentário, virado para meu irmão que me acompanhava: “este homem ainda tem uma
grande cabeça para relatar acontecimentos passados”. E ainda acrescentou: “leio
todos os seus artigos”. Grato a Cunha de Oliveira por fazer parte desse grupo
que me acompanha. Se hoje já sou um jornalista referenciado, a sua quota-parte,
quando passamos por A União, nunca foi esquecida. Por isso, hoje, presto-lhe a minha
homenagem em reconhecimento por tudo aquilo que fez pela ilha Terceira e pelos
Açores em particular.
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