JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Do colaborador Dr. António Bulcão



Mercenários dos media

Sou de um tempo em que se escrevia para os jornais por gosto, pela necessidade de participação cívica, pelo desejo de intervir socialmente.
Comecei no Faial, no extinto “O Telégrafo”, com quinze anos e nunca mais parei, até hoje. Já lá vão, portanto, 44 anos de escrita jornalística, sem pausas.
Sendo mais preciso, e haverá quem se lembre, suspendi as minhas colunas apenas quando candidato a algum órgão público, fosse autárquico, fosse regional. Por imperativo de ordem ética, recusei aproveitar a vantagem natural que resultaria de aparecer todas as semanas nos jornais. Isto apesar dos directores dos mesmos manifestarem o desejo para que continuasse, até mesmo em campanha, sendo que não foi essa simpatia que me demoveu da decisão.
Animado por este espírito, faz-me muita confusão haver pessoas que só aparecem nos jornais quando candidatos a qualquer cargo político, rapidamente desaparecendo após as eleições. Não tinham qualquer participação antes e deixam de a ter logo que as urnas fecham.
Ora, se não tinham participação pública anterior, é porque não tinham nada para dizer. Assim sendo, nada mais natural que se calem logo após os jornais servirem os seus intentos de aparecer, de se mostrarem, de terem um mínimo de visibilidade.
Todas as suas propostas têm um único objectivo: tentarem ser eleitos. Não valem, tais propostas, por si mesmas.
Escrevem sobre cultura, sobre a necessidade de haver “actividade” cultural, mas raramente iam a um concerto de música, a uma peça de teatro, a um filme. Enquanto candidatos, são os primeiros a chegar a salas de espectáculos. Faz parte da campanha. Mas depois das eleições desaparecem desses lugares com uma velocidade ainda maior daquela com que desaparecem das páginas dos jornais onde nos incentivavam a ir e prometiam muito fazer.
Poderemos tomar esta gente como mercenária. Usam os meios de comunicação social e os acontecimentos culturais apenas para servir os seus fins.
Claro que há excepções. Há cidadãos que já intervinham antes publicamente e que, tendo sido derrotados em sufrágio, continuam a intervir. Há outros que, tendo sido eleitos, mantêm participação jornalística, dando conta da sua actividade parlamentar ou expressando a sua opinião. Mas fazem-me confusão os tais, que só aparecem em campanha.
Deverei concluir que não tinham nada para dizer antes e que continuam vazios depois? Com a gente a ter de suportar a sua presença interesseira de quatro em quatro anos?
P.S. – Não me provoques, ex-amigo. Sabes bem do que falo e por que falo. Mantém em relação a mim o mesmo silêncio que tenho mantido em relação a ti. A não ser que tenhas saudades… Se assim for, havemos de arranjar maneira de as matar.
António Bulcão
(publicado hoje, no Diário Insular)
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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