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quinta-feira, 1 de março de 2018

E tudo são recordações - Azores Digital



Uma crónica com nacos de ficção


25 de Novembro de 2013 

Um passarinho pousou na minha janela. Cores lindas nas suas penas. Começou pio, pio, pio. Será que queria me transmitir alguma coisa? Ou reparou que eu, no meu computador, tinha outro passarinho, ao cabo um vídeo colocado por um amigo que anda lá pelas bandas da Base Aérea 4 na ilha Terceira.

O passarinho acabou por ir embora com ar de muita tristeza pelo fato de eu não lhe ter ligado meia, estando, por isso, mais interessado no passarinho que estava na tela do meu computador. E, curiosamente, dentro do passarinho estava um padre, ou melhor alguém com uma indumentária de padre, uma cara conhecida. E também lá estavam dois irmãos batizados por Figueiredos, acompanhados das respectivas violas. A canção de fundo é linda, SOMBRAS cantando. Sombras? Sim, com o pio, pio, do passarinho. Era a preto-e-branco, mas muito bem engendrado pelo autor, que não é sombra, gosta da sombra, e é de bárbaros.
Mas aparece um personagem dos Estados Unidos, que adora sombras, pensa em 24 horas em sombras, divulga sombras, promove bailes e jantares com sombras. E terão faltado mais e mais, mas esses ainda não se aperceberam o que está por dentro do pio, pio do passarinho.
Retornando ao personagem dos Estados Unidos (New Jersey), se ele fosse ao confessionário do padre que lá está este lhe perguntaria: “rapaz o que fazias, quando muito jovem, quase todas as noites na Praia da Vitória? Ver as sombras da noite? Os SOMBRAS esses só ao final de semana”. O “rapaz”, com indumentária-à-pimpão, havia de responder: “adorava ir à Praia da Vitória dar de beber à dor na companhia de um grupo de safados que se juntavam, para o efeito, nos degraus da Sé”. Safados, e esta, heim! Será que eu fazia parte desse grupo? Sinceramente, não me lembro. Aqui a minha memória falhou. É raro, mas aconteceu.
2.    - Engraxador também significa bajulador, mas, neste caso, chamo à estampa o Jaiminho engraxador de sapatos, figura muito conhecido no Faial e que, no exercício da sua profissão, sempre (...) assentou arraiais no Largo do Infante, alternando, também, com os cafés Volga e Internacional. Era por ali que sempre encontrávamos o Jaiminho, essa figura carismática que os faialenses veneram (está mais velhinho, mas ainda vivo e ao que dizem ainda matreiro), pela sua simpatia e, fundamentalmente, pelo seu amor clubista, concretamente ao Fayal Sport Club, decano clube açoriano, e Sport Lisboa e Benfica. E vamos começar por aqui: quando o Benfica foi ao Fayal defrontar a seleção da ilha (11-1, Tino Lima marcou o golos dos faialenses), o Jaiminho quase que enlouqueceu de alegria.
Era o seu sonho ver o Benfica jogar. Do sonho à realidade e... logo na ilha do Faial. Mais: o Jaiminho até teve honras de reportagem no Jornal "A Bola", da autoria do meu querido e saudoso companheiro Cruz dos Santos que, curiosamente, sendo benfiquista, era bem aceite no Sporting. Também um dos amigos de Mário Lino. O Jaiminho jamais esquece esse dia em que, em pleno Largo do Infante, foi entrevistado para o maior jornal desportivo de Portugal. E quando o jornal chegou à Horta, inserindo a referida entrevista, lá andava o Jaiminho com um exemplar debaixo do braço, exibindo para os amigos que passavam.
Da outra paixão clubística, o Fayal Sport, Jaiminho também se transcendia em termos de emotividade. Quando fui treinar o Sporting da Horta, na época de 86/87 (campeão de ilha e campeão da AFH), o Jaiminho sempre gostava de uma amena cavaqueira, mas, atrevidinho como era (ainda deve ser, apesar da idade avançada), colocava esta alfinetada: você vai perder com o Fayal Sport e o campeão vai ser o Salão (que era treinado pelo meu amigo Manuel Lino). Com o meu sorriso sarcástico, lá desapontava o Jaiminho: vai ser trigo limpo. O Jaiminho ria de resposta.
Alô Jaiminho, onde estás tu? Creio que lá por casa, até recebendo notícias de amigos que recentemente faleceram, um deles por estes dias o nosso “Camachinho” que era, também, outro carismático do Fayal Sport Club.
Ó Jaiminho a última vez que saí do Faial, 20 de Agosto de 2004 para vir para o Brasil, já não te encontrei no Largo do Infante. Por onde andavas meu grande malandro? A pescar na doca? Ou a rezar uma Avé-Maria para os “espanhóis” (como era conhecido o Fayal Sport) vencerem o campeonato em 2004/2005? Será que venceram? Ó Jaiminho agora tens o “teu” Benfica para acompanhares esticado no sofá, mais velho uns anitos, mas é a lei da vida. E será que ainda tinhas forças suficientes para engraxares os sapatos a um grande benfiquista que passasse pela cidade da Horta? E que tal o Duarte Gomes? Ai, ai, ai, esse levava mesmo uma engraxadela das mais brilhantes.
Jaiminho, um forte abraço desde o Rio de Janeiro.


Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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