Mesmo que quisesse não conseguiria fugir ao que presencio no
facebook, sobretudo com posts de fotografias de pessoas ligadas à nossa terra,
muitas delas emigradas para os estados Unidos e Canadá. Bem recentemente,
deparei com uma foto do célebre “saca das bolas”, já mais envelhecido, como é
natural, na companhia de um dos filhos que conheci quando ele era criança. Mas
vamos aos fatos:
Em tempos de outrora, as festas do Divino Espírito Santo eram
bastante concorridas, corolário da falta de outras ocupações. Nessa altura, não
se sonhava com discotecas, televisão, bares noturnos com música ao vivo, enfim,
uma série de opções que hoje a juventude (sobretudo estes) desfruta, se bem
que, pelo que se vem constatando através das próprias estatísticas, são os
adultos que mais vêem televisão. A febre das novelas e por aí fora.
Ora, naquele tempo, todos nós ambicionávamos que os primeiros
quatro meses do ano passassem céleres, visto que, em Maio (como ainda hoje
acontece, nada mudou nesse sentido), começavam as festas do Divino Espírito
Santo, com iniciação na Canadá de Belém, Pico da Urze, Santa Luzia, Terra Chã,
Remédios, Outeiro, Caridade e São João de Deus, apenas para falar destes. E as
touradas da Canadá de Belém, Pico da Urze, Terra Chã e São João de Deus, sempre
aguardadas com enorme entusiasmo. Era bonito ver-se, em quase todas, a presença
do "João dos Ovos", um capinha especialista em passes com o
guarda-chuva (se preferirem, também pode ser de sol. Tanto faz...). Mais tarde,
apareceram outros, citando, nomeadamente, o "Prosa" de São Mateus
(que também vi numa foto bastante envelhecido. O tempo não perdoa. Também para
lá vou caminhando) e o nosso querido amigo, Luís Borba que, ainda hoje, lá vai
a uma tourada, sem, contudo, se “atrever” a brincar com o animal. Também para
ele, fica a recordação dos seus bons-velhos-tempos, como toureiro e futebolista
Mas, nos arraiais e iluminações das referidas festas, sempre apareciam figuras
marcantes, sobretudo para o gosto da petizada e jovens até sensivelmente aos 15
anos. Para além do "Carlinhos Papagaio" trazia as suas ventoinhas
multicolores (...) e os habituais vendedores ambulantes (amendoim, tremoços,
fava torrada, chupa-chupa, etc., etc.,), tínhamos, também, em cada local onde a
festa existia, as figuras do José "Artilheiro" e do "Saca das
Bolas", cunhado do nosso saudoso amigo, José Gabriel Pires dos Santos, vulgo
"perna branca". O José "Artilheiro", que morava na Rua do
Morrão, trazendo os seus deliciosos sorvetes (utilizávamos mais o termo gelado)
e o "Saca das Bolas" reunindo à sua volta muita gente que comprava
uma ou mais tábuas (cada uma tinha seis números, creio eu) para tentar a sua
sorte, visto que, o possuidor do número premiado (que saia da famigerada saca),
ganharia uma dúzia de chocolates. Para os mais novos, quando isso acontecia,
era uma alegria, na exata medida em que dava para “adocicar o bico” da namorada
ou ainda daquela que era pretendida. E a rapaziada juntava-se em frente ao
"Saca das Bolas" (um micaelense que se tornou popular na Terceira,
sobretudo em Angra onde vivia) para tirar da saca a bolinha da sorte. Muitas
vezes, quem a tirava era contemplado com um chocolate, oferecido, óbvio, pelo
premiado. Hoje já nada disso existe. Tudo se modificou com o aparecimento de
outros divertimentos e espaços de movimentos noturnos. É mais cómodo ficar em
casa a ver uma partida de futebol na televisão ou uma novela, por exemplo.
E o "saca das bolas" jamais será esquecido por várias
gerações, especialmente a minha. Nos arraiais e iluminações, lá estava eu em
torno do dito cujo com a intenção de tirar a bolinha numerada e
consequentemente ganhar um chocolate do premiado. Belos tempos.
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