ELEIÇÕES E ELEITORES
Antigamente, bem
antigamente, era mais simples. Os machos de uma espécie faziam um torneio de
cabeçadas e quem acabasse de pé era o chefe. Tinha o poder – e as fêmeas, claro
– pelo menos até aparecer um macho mais macho do que ele . De acordo com Freud,
o ato inaugural da civilização foi a revolta
dos filhos contra o pai tirano com
o monopólio do poder – e das fêmeas. O bando de irmãos parricidas está na
origem da sociedade humana, mas Freud diz que só um era
eleito para matar o pai, e se tornava o protótipo do herói que, através da
História repetiria o ato, seria festejado, endeusado e finalmente sacrificado
(na cruz, por exemplo).
O herói
parricida representava a necessidade de mudança, era a História que o elegia.
Nas monarquias o monarca representava a vontade de Deus, e quem se atrevia a
discutir com Deus? A transferência de poder podia ser violenta – um príncipe
ressentido com uma adaga no meio da noite, uma poção fumegante no vinho, uma
revolução – mas muitas monarquias persistem em existir, apesar do ridículo,
porque Deus quer. As ditaduras são arremedos de monarquias porque invejam o patrocínio
de Deus, o grande eleitor, e dispensam o incomodo de pleitos, votos, essas
bobagens. Na Inglaterra, quando a rainha decidir renunciar e ir viver seus
últimos dias na Cote D´Ázur, Charles assumirá o poder representando nada mais
do que sua paciência. No Brasil da ditadura a questão da representatividade foi
suspensa por 20 anos. Um general elegia outro general para substitui-lo, certo
de que Deus o aprovaria, e pronto. O poder militar representa só a si mesmo.
Como se escolhe um
candidato à presidência e depois um presidente que represente não apenas um
bloco de votos mas uma necessidade histórica, já que um torneio de cabeçadas é
inviável? Já ouvi a sugestão que se largue todos os candidatos anunciados no
coração da Amazonia armados com um facão e um cartão de crédito. O primeiro a
chegar em Brasilia ganha a presidência. Sem representar nada além da sua
própria ambição e sua saúde para o cargo.
Sem comentários:
Enviar um comentário