JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

domingo, 5 de agosto de 2018

Do poeta-escritor-jornalista Luís Fernando Veríssimo



ELEIÇÕES E ELEITORES

Antigamente, bem antigamente, era mais simples. Os machos de uma espécie faziam um torneio de cabeçadas e quem acabasse de pé era o chefe. Tinha o poder – e as fêmeas, claro – pelo menos até aparecer um macho mais macho do que ele . De acordo com Freud, o ato inaugural da civilização foi a revolta
dos filhos contra o pai tirano com o monopólio do poder – e das fêmeas. O bando de irmãos parricidas está na origem da sociedade humana, mas Freud diz que só um era eleito para matar o pai, e se tornava o protótipo do herói que, através da História repetiria o ato, seria festejado, endeusado e finalmente sacrificado (na cruz, por exemplo).
O herói parricida representava a necessidade de mudança, era a História que o elegia. Nas monarquias o monarca representava a vontade de Deus, e quem se atrevia a discutir com Deus? A transferência de poder podia ser violenta – um príncipe ressentido com uma adaga no meio da noite, uma poção fumegante no vinho, uma revolução – mas muitas monarquias persistem em existir, apesar do ridículo, porque Deus quer. As ditaduras são arremedos de monarquias porque invejam o patrocínio de Deus, o grande eleitor, e dispensam o incomodo de pleitos, votos, essas bobagens. Na Inglaterra, quando a rainha decidir renunciar e ir viver seus últimos dias na Cote D´Ázur, Charles assumirá o poder representando nada mais do que sua paciência. No Brasil da ditadura a questão da representatividade foi suspensa por 20 anos. Um general elegia outro general para substitui-lo, certo de que Deus o aprovaria, e pronto. O poder militar representa só a si mesmo.
Como se escolhe um candidato à presidência e depois um presidente que represente não apenas um bloco de votos mas uma necessidade histórica, já que um torneio de cabeçadas é inviável? Já ouvi a sugestão que se largue todos os candidatos anunciados no coração da Amazonia armados com um facão e um cartão de crédito. O primeiro a chegar em Brasilia ganha a presidência. Sem representar nada além da sua própria ambição e sua saúde para o cargo.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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