Quando vejo fotos daquele hotel que muitos consideraram um mamarracho e que está situado na zona do Cantagalo, bate sempre a nostalgia em relação aos meus tempos de menino e moço. No tão conhecido Adro Santo passava imensas horas, mormente em dia de “São Vapor”, o tempo em que as lanchas traziam a carga para o Porto das Pipas. Lanchas que tinham como mestres tudo gente conhecida do Bairro Oriental da cidade de Angra do Heroísmo. Nos navios os estivadores que eram escolhidos por Augusto Ávila. Era assim.
De navios, o que mais gostávamos era do Lima e do Carvalho Araújo (que anos volvidos me transportou para Lisboa quando fui mobilizado para Angola) e, claro, quando aportava à baía de Angra um navio que trazia trigo para os celeiros e também para a moagem do senhor Basílio Simões.
No Adro Santo estava quase sempre o tio Bernardo com os seus famigerados binóculos. E foi ele que, numa bela tarde, viu um albafar ferido na baía e daí ter alertado o Augusto Ávila que, com a sua habitual tripulação, conseguiu rebocar o albafar para o varadouro do Porto das Pipas. E escusado será dizer que muita gente se deslocou ao Porto das Pipas para ver aquele enorme albafar-tubarão que, hoje, para os especialistas se trata de uma espécie de tubarão da ordem Hexanchiformes. E porque a tripulação do Augusto Ávila também era composta por jogadores do Marítimo, o clube desde então passou a ser conhecido por “albafares do mar”.
E falando ainda do tio Bernardo com os seus “binóculos de vento em popa”, também detectou, a umas boas milhas fora do Monte Brasil, uma esquadra norte-americana que creio passou ao lado da Praia da Vitória.
UM POUCO DE HISTÓRIA DO PORTO DAS PIPAS
O Porto de Pipas localiza-se no centro histórico da cidade e concelho de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, nos Açores.
Trata-se de um porto histórico que remonta ao início do povoamento da ilha, quando se constituía em um pequeno ancoradouro na baía de Angra do Heroísmo.
Abrigado da violência das tempestadas pelo Monte Brasil e da cobiça de piratas e corsários pela Fortaleza de São João Baptista a Oeste e pelo Forte de São Sebastião a Leste, o Porto de Pipas foi a plataforma giratória que permitiu que Angra do Heroísmo se tornasse um importante centro redistribuição de bens de consumo, tendo assumido um papel central em termos de navegação de cabotagem.
Ainda no século XV assumiu o lugar de principal centro de distribuição de pessoas e mercadorias não apenas da ilha como também do Grupo Central dos Açores. A primeira informação arquitectural que existe a seu respeito é um desenho de Jan Huygen van Linschoten, datado do século XVI, mostrando apenas um pequeno ancoradouro. Ao longo dos séculos a sua estrutura foi sendo alterada, até dar lugar, já na década de 1960, ao actual cais acostável.
Com os Descobrimentos portugueses, particularmente das costas da América do Norte, da América do Sul e o caso particular do Brasil e mais tarde para a América Espanhola, como também para as costas de África e depois para a Ásia com a descobertas do caminho marítimo para a Índia o Porto das Pipas foi o ponto de encontro das embarcações que demandavam a Baía de Angra do Heroísmo. A este porto acostaram caravelas, naus, bergantins, galões, barcos carregados de riquezas e matérias exóticas, barcos de guerra para a defesa da frota mercantil como a conhecida Armada das ilhas.
Foi o único porto de estiva e transbordo a meio de Atlântico. Foi porto de aguada e de descanso dos marinheiros e também o local de aceso mais rápido aos cuidados de saúde para as tripulações doentes.
Neste porto acostou Vasco da Gama do seu regresso da Viagem Marítima à Índia e por ele passou o cortejo fúnebre de Paulo da Gama, irmão de Vasco da Gama que morreu na viagem de regresso da Índia e se encontra sepultado no Convento de São Franciscoda cidade de Angra do Heroísmo.
Com a evolução das embarcações, e já nos finais do século XIX e ao longo de todo o século XX, o Porto das Pipas foi perdendo gradualmente a sua importância, e isto, principalmente devido ao aumento da dimensão dos navios e ao aparecimento da navegação aérea.
Assim foi no ano de 2004 que o Porto das Pipas deu por encerado um capítulo na sua longa história de mais de 500 anos como infra-estrutura portuária importante para o desenvolvimento da cidade de Angra do Heroísmo, da ilha Terceira e dos Açores e de Portugal Sendo substituído pelo Porto Oceânico da Praia da Vitória, o maior porto oceânico dos Açores, construído na cidade da Praia da Vitória.
Ao perder a sua vertente de cais de movimentação de cargas e passageiros, esta estrutura portuária ganhou uma nova vida e novos contornos, sobretudo ao nível estético e funcional e em termos de lazer.
Nos inícios de 2007 o Porto das Pipas abriu-se de novo ao mar como uma estrutura náutica de lazer.
Com esta requalificação do Porto procura-se a integração da cidade de Angra do Heroísmo enquanto cidade Património da Humanidade ao mar que lhe trouxe história.
Assim sendo esta infra-estrutura com a sua requalificação passou a ter zonas para oficinas de reparações navais e estacionamento de embarcações. Instalações de clubes desportivos e de apoio, cafés, bares e restaurantes com esplanadas. Aqui anda se encontram os serviços da Junta Autónoma do Porto de Angra do Heroísmo, o Clube Ar Livre, o Angra Iate Clube, a capitania de Angra do Heroísmo e a Polícia Marítima, e apoio à Marina de Angra do Heroísmo.
Sem comentários:
Enviar um comentário