Alice Augusta Pereira de Melo Maulaz Moderno (Paris, 11 de Agosto de 1867 — Ponta Delgada, 20 de Fevereiro de 1946), mais conhecida por Alice Moderno, foi uma professora, escritora, tradutora, jornalista, publicista e poetisa, que se distinguiu como feminista e activista dos direitos dos animais. Fundou a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais, pioneira na protecção dos animais nos Açores. Era fluente em português e francês.
Biografia
Nasceu em Paris, filha de pais portugueses emigrados em França (Celina Pereira de Melo Maulaz e João Rodrigues Pereira Moderno), indo alguns meses para a ilha Terceira, pouco depois, para regressar a França em seguida. Em 1876 voltou com os pais à Terceira, onde a família permaneceu até 1883, ano em que se fixou em Ponta Delgada. Foi a primeira jovem a frequentar o ensino liceal em Ponta Delgada (1887/1888) e desde muito cedo se assumiu como uma mulher emancipada, desafiando os costumes conservadores da época. Ficou conhecida como uma das primeiras feministas dos Açores. Usava o cabelo curto e terá sido uma das primeiras mulheres que na ilha de São Miguel fumavam em público.
Logo no ano em que se fixou em Ponta Delgada publicou a poesia Morreu! no Açoriano Oriental (edição de 18 de Setembro de 1883), a que se seguiu em 1886 a publicação de um livro de poemas, intitulado Aspirações. Em 1892 publicou o seu primeiro romance, intitulado O Dr. Luís Sandoval, a que se seguiram três peças de teatro e um ensaio. Foi premiada em vários concursos de poesia e alguns dos seus poemas foram traduzidos.
Trabalhou como professora do ensino particular, ensinando primeiras letras e língua francesa, mas também se dedicou aos negócios da família, trabalhando como comerciante e agente de seguros, o que lhe permitia viajar frequentemente para onde tinha parentes e interesses comerciais.
Com grande gosto pela escrita e pelo jornalismo, fundou os jornais O Recreio das Salas (1888) e A Folha (1902-1917). Também colaborava em diversos outros periódicos, com artigos originais e traduções do francês, com destaque para o Diário de Anúncios, de que foi directora em 1892 e 1893.
Republicana e feminista, a partir de 1910, com a implantação da República Portuguesa, passou a participar activamente na vida social e política de Ponta Delgada. Participou activamente na campanha a favor da aprovação da lei do divórcio. Fundou em 1911 a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais, a primeira associação dedicada ao bem-estar animal nos Açores. Foi também fundadora do Sindicato Agrícola Micaelense. Ganhando reconhecimento nacional, foi sócia da diversas agremiações cientificas e literárias, entre as quais a Società Luigi Camoens (Itália), a Sociedade Literária Almeida Garrett, a Sociedade de Geografia de Lisboa, o Grémio Literário Funchalense e o Instituto de Coimbra. Pertenceu também a diversas organizações feministas, entre as quais a International Women Union (Londres), a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e a Associação de Propaganda Feminina.
Nunca casou, mas esteve noiva na juventude de Joaquim de Araújo, com o qual se correspondeu. Foram trocadas, entre os anos de 1888 e 1911, 71 cartas entre Alice Moderno e Joaquim de Araújo (poeta e escritor penafidelense que muito divulgou a cultura portuguesa pelo estrangeiro, nomeadamente em Itália). Sendo ambos poetas e jornalistas, fundadores de jornais e revistas, absorvidos por interesses culturais, ocupados em actividades intelectuais, criadores e difusores de literatura, as suas cartas de namoro contemplam assuntos que ultrapassam largamente a vida sentimental, ocupando um vasto espaço sobre a vida cultural portuguesa daquela época. Manteve uma longa relação com a professora primária Maria Evelina de Sousa, com a qual viveu, e que faleceu apenas oito dias depois da sua morte. O seu relacionamento causou especulação na sociedade micaelense mas desconhece-se se era meramente platónico.
Legou os seus bens a diversas causas de beneficência, tendo em 1956, com o dinheiro da arrematação dos seus bens, sido comprado o imóvel das Capelas destinado à Casa do Gaiato. Em 1948 foi inaugurado o Hospital Alice Moderno, destinado a acolher animais maltratados.
Obras
Muitas das suas obras foram publicadas sobre pseudónimos. Alguns destes são: Da Janela do Levante, Dominó Preto, Ecila, Eurico, O Secular, Gavroche, Gil Diávolo, Gyp, Veritas.
Obras desaparecidas[editar | editar código-fonte]
Correspondência com Joaquim de Araújo
Obras impressas[editar | editar código-fonte]
Adeus! Despedida da actriz Chrimilda Augusta da Silva Gomes. Ao publico michaelense, Ponta Delgada, typ. Açoriano oriental, 1885.
Aspirações, Primeiros versos 1883-1886, Ponta Delgada, typ. Popular 1886.
"Tributo Singelo" In Memoriam Antero de Quental, 1887
Trillos. Poesias, Ponta Delgada, typ. Popular, 1888.
O Dr. Luis Sandoval. Romance, Ponta Delgada, typ. e lith. Minerva, 1892.
Os Martyres do Amor, Lisboa, typ. da Companhia Nacional Editora, 1894.
No Adro, 1899
Os Martyres, 1904
Mater Dolorosa. Monólogo, sl., 1909
Versos da Mocidade 1888-1911, Ponta Delgada, A. Moderno, 1911
Açores, Pessoas e Coisas, Ponta Delgada, Tip. Popular, 1901
"Coroa de Saudades oferecida a Teófilo Braga e sua esposa para a sepultura de seus filhos"
Na véspera da incursão (peça em um acto), Ponta Delgada, Tip. A. Moderno, 1913
Trevos, 1930
Tradução
Auguste Méquignon, O Romantismo em França, Ponta Delgada, Minerva, 1894
Colaborações
Carteira do Viajante, 1882
Correio Micaelense
Revista Pedagógica
Diário dos Açores
A Persuasão
A Madrugada
Revista Pedagógica
Novidades
Século
Revista de Portugal
Bouquet Literário 1885
A Alvorada 1887
A Apoteose 19/10/1887
Gazeta das Salas (30/1/1890)
A Festa das Crianças (18/10/1891)
Nova Alvorada 1891-1903
Almanaque das Senhoras 1896, 1899, 1903, 1904, 1913-1919, 1923
Almanaque Micaelense 1928-1934
Almanaque Anuário Micaelense 1940
A Crónica 1900-1906
O País 1901-1904
Revista de Lisboa 1901-1909
Folha da Saudação 1902
A Sociedade Futura 1902-1904
Álbum Açoriano 1903
Jornal das Senhoras 1904-1905
Alma Feminina 1907-1908
O Domingo (1909-1911)
Comédia 1910
Límia 1910-1911
Atlântico 1916-1920
Revista Micaelense 1918-1921
Os Açores 1922-1924, 1928
O Despertar de Angeja 1924-1927
O Instituto Coimbra
Portugal Feminino
A Leitura 1932
Ínsula (c. 1930)
Viagem. Revista de turismo, divulgação e cultura, 1942
O Primeiro de Janeiro 1943
Publicações que dirigiu[editar | editar código-fonte]
O Recreio das Salas (1888-1889)
Diário dos Açores
A Folha (5/10/1902-15/4/1917)
Diário de Anúncios, Ponta Delgada (1892-?)
Referências
Maria da Conceição Vilhena, Alice Moderno a mulher e a obra. Angra do Heroísmo, Direcção Regional dos Assuntos Culturais, Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1987.
Maria da Conceição Vilhena, Uma Mulher Pioneira, Lisboa, Edições Salamandra, 2001.
Bibliografia
AIRES, Fernando, Alice Moderno – A Mulher e a Obra, separata da revista Insulana, vol. XLI, 1985
LEAL, Gomes, "Alice Moderno" Sociedade Futura, nº 7, 1902
VILHENA, Maria da Conceição, Alice Moderno. A Mulher e a Obra, Angra do Heroismo, SREC, 1987
VILHENA, Maria da Conceição, Alice Moderno e a Inovação, Editorial Ilha Nova, 1988
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