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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Do jornalista e redator principal do jornal Record Rui Dias


A SEDUÇÃO POR CAPEL” 

1 O esforço, o suor e o compromisso com a bandeira são elementos concretos da oferta futebolística, fatores que satisfazem o adepto e tranquilizam o treinador. Já a inspiração, que faz despertar o talento, é mais volátil e pode até nem surgir em hora e meia – depende se as musas acordam a tempo de iluminar os mais criativos na execução daquilo que os outros não são capazes sequer de pensar. Capel derruba por insistência e comove por dedicação, argumentos com os quais defende a virtude que leva de vantagem; atua com a convicção dos que jogam lutando, prova de que não confia totalmente no empurrão divino que o aproxima dos deuses. No fundo, faz o que devem fazer todos os futebolistas de exceção: procura a genialidade trabalhando como operário.
2 Capel é um sedutor de multidões por atitude na defesa do exército em que está integrado e um potencial gerador de assombro pelas qualidades técnicas que possui. Porque a transpiração tem efeitos na relação de afeto com o povo, o espanhol será sempre um jogador amado entre a família verde e branca, um gerador de emoções que, quando tudo lhe corre bem, desperta os sentimentos que nos reconciliam com o futebol – só a entrega não chega para colocá-lo no patamar de excelência a que tem direito. Serve isto para confirmar que o sacrifício, capaz de comover as plateias mais exigentes, não chega sozinho para atingir a máxima expressão futebolística. Há argumentos cujo mérito não é infinito e que, de modo algum, podem superar a inteligência.
3 Não foi a pensar em Capel que o escritor espanhol Gregorio Marañón escreveu que “a velocidade, que é uma virtude, pode criar um vício, que é a pressa”; mas por vezes é esse desajuste que lhe diminui a eficácia. Suportado por argumentos quase todos ligados a sensações explosivas (o arranque, a travagem, as longas correrias, a aceleração…), Capel é um entusiasta de exercícios individuais, pintando quadros solitários nem sempre concebidos com sentido prático mas que, valha a verdade, já terminaram na criação de obras-primas que serviram para celebrar vitórias importantes. O espanhol vive, afinal, os eternos dilemas de quem se entrega de corpo e alma à vertigem da velocidade, velha inimiga da precisão.
4 Os mais exigentes acusam-no de conduzir a bola com a cabeça no chão; de ser irregular e disperso na expressão do talento; de não ser um grande driblador; de nem sempre tomar as melhores decisões, ser disperso e revelar deficiências no entendimento tático do jogo. É uma forma redutora de analisar o perfil de atacante intenso, espontâneo, rápido, solidário e desequilibrador nas ações que promove na aproximação à baliza, processo iniciado junto às linhas laterais. De resto, se não tivesse defeitos não teria saído do Sevilha para o Sporting. Seguiria para Real Madrid ou Barcelona e lutaria por lugar no onze da Espanha campeã da Europa e do Mundo. Um jogador como Diego Capeloferece tudo o que tem – e tem sempre muitíssimo para dar. Só não é possível pedir-lhe que seja perfeito. Isso é exigir-lhe o impossível.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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