PESSOAS VAZIAS
O mundo está doente. E não estou a referir-me somente ao Coronavírus, que só por si, já é muito grave. Estou a pensar naquelas pessoas que andam tristes, vazias de sentimentos. Andam com os nervos à flor da pele, destilam agressividade e amargura sobre aqueles que ousarem discordar do que elas pensam. Querem à força impor as suas ideias e incuti-las nos mais incautos.
Todos temos as nossas dores, os nossos problemas, mas não custa nada tentar ser gentil, ser a palavra que conforta...às vezes, vale muito mais que uma esmola em dinheiro ou outro bem material qualquer. Porém, ainda acredito no bem, não deixo que ele seja extinto da minha vida.
Por vezes, tenho a impressão que não sou deste mundo. Não consigo ficar indiferente à dor das outras pessoas. Até esqueço a minha própria dor. Não tenho muito, mas o pouco que tenho, partilho com quem me rodeia. Nunca pensei somente em mim. Aliás, se assim fosse, talvez tivesse resolvido uma série de problemas que me assolaram.
Creio que todos temos nas nossas mãos o remédio que necessitamos. É preciso sermos humanos, termos em vista o sofrimento do próximo, como se fosse o nosso próprio sofrimento. Não para tomarmos esse sofrimento para nós, mas para fazermos algo que possamos ou que esteja ao nosso alcance, sem nos prejudicarmos. O mundo está cheio de pessoas vazias. E pessoas vazias são cheias. Cheias de descanso, de olhares indiscretos, que julgam o outro, mesmo não sabendo o que vai no coração de cada um. Pessoas cheias dos seus narizes, dos seus mundos peculiares, onde ninguém entra...cheias de verdade, espelhos generosos, intolerância, rabugentas. As pessoas vazias são cheias de amor próprio, tão cheias que não sobra espaço para amar ninguém a não ser elas mesmas.
Pessoas cheias de "faços" "possos" "causas". São autobiográficas, automáticas, autossuficientes, sobeja-lhes somente o que não lhes convém, o que não querem para si. Então oferecem aos outros. Só que devemos contar sempre com a astúcia dos outros, pois nós não somos os únicos pensadores. Muito tecto e pouco chão. Sobra sombra e falta calor, o calor humano.
Pessoas vazias são cheias de nove-horas, de noves fora, de quero agora, de não demores...cheias de uma sabedoria que não permite falhas, repúdio às críticas, mesmo as amigas. Cheias da primeira pessoa, de discursos sem contexto e presenças deslocadas. Têm mais para alugar do que para habitar ou viver...
Pessoas cheias de umbigo e carentes de coração. Sobram dedos apontados e faltam mãos para amparar.
Pessoas vazias são cheias...cheias de vazio...
02.09.2020
Graziela Veiga
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