SÁBADO DA SERRETA...
É com grande emoção que recordo o Sábado da Serreta. Será eternamente, pelo menos para mim, um dia muito significativo, não fosse eu descendente de uma filha daquela freguesia, a minha mãe.
Hoje, a quilómetros de distância, não vivo este dia com a mesma intensidade, com a mesma alegria que já vivi, um dia...
Nasci e vivi muitos anos na freguesia das Doze Ribeiras, onde se proporcionava um ambiente festivo devido à Festa da Serreta. Não passava despercebida, visto a minha mãe viver aqueles dias como se fossem dela. Impressionava-me, dado que a minha mãe não era uma pessoa muito virada para festas, mas a festa de Nossa Senhora dos Milagres tinha tal impacto na vida dela que enquanto pode, metia-se ao caminho e lá ia em verdadeira peregrinação à Serreta, quase sempre com um objectivo, pedir a Nossa Senhora pelos seus filhos. Tenho a certeza que no lugar onde ela se encontra, junto de Deus, provavelmente, continuará a pedir por mim, pelos meus irmãos, pelo meu pai, visto ter 93 anos e ter sobrevivido à sua morte após 24 anos, e pelos seus descendentes.
A festa da Serreta já não é o que era, pelo menos para mim, mas é das festas religiosas que mais me diz. Vivo-a com o sentimento da minha mãe, bem enraizado, de forma que não consigo deixar de ir ver Nossa Senhora. É como se fosse ver a minha mãe, pois revejo-me cada ano acompanhada dela, com o maior respeito pela "sua" Nossa Senhora, por quem ela chamou tantas vezes durante as piores provações que sofreu.
Lembro-me quando ela chamava por Nossa Senhora dos Milagres, as pessoas das Doze Ribeiras dizerem-lhe - Aqui chama-se por Nossa Senhora da Conceição. No entanto, a Senhora dos Milagres tinha maior relevo na mente da minha mãe, pois ficava na sua freguesia do coração.
Recordo cada ano que a minha mãe se deslocou em peregrinação à Serreta, alguns deles, descalça, em silêncio ou a rezar, em jeito de promessa. Certa vez, a minha mãe tinha feito o propósito de ir em silêncio absoluto, somente com um terço na mão, interiorizando a sua recitação. Saímos das Doze Ribeiras pelas vinte e uma horas. Eu acompanhava-a, quando de repente, juntou-se uma senhora à minha mãe. E como se percebesse a linguagem, meteu o braço na minha mãe, sem uma única palavra e lá caminharam juntas até ao Santuário. Quando lá chegaram, cumprimentaram-se e tomaram conhecimento de que o objectivo seria o mesmo, promessa do silêncio. Achei fenomenal, aquela atitude.
Porém, nos dias que correm, há poucas manifestações de silêncio. As promessas continuam, a caminhada, mas os objectivos já não serão os mesmos. No entanto, cada um sabe de si. Só Deus sabe o que vai na alma de cada um de nós. Mas tenho pesar quando vejo a algazarra e a forma como alguns se comportam neste dia. Até acho interessante que as pessoas aproveitem o dia para caminharem, mesmo não tendo fé, mas pelo menos que o façam com um pouco mais de respeito, principalmente pelos que caminham com dor e convicção de alcançarem as promessas a que se propõem.
Uma saudação a Nossa Senhora dos Milagres, aproveitando para agradecer tantas graças alcançadas. Pedir-Lhe pela minha família, por todos nós, pelo Mundo.
Uma lembrança especial da minha mãe, pois este era o "seu" dia. Enquanto eu viva for, será decerto o "meu", que mais não seja, em forma de veneração por razões expressamente distintas.
Boas Festas da Serreta para todos! Que Nossa Senhora seja o ponto forte da caminhada.
07.09.2019
Graziela Veiga
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