LUTO - UMA MANIFESTAÇÃO DE DOR, AMOR, OU TRADIÇÃO?
As mulheres, por natureza, são o termómetro do mundo. Através delas, estão associados os sentimentos mais sublimes, mais generosos, mais ternos, em parte transmitidos aos homens e ao mundo que as rodeia.
Assim sendo, as mulheres, aparentemente, vivem o luto de forma diferente dos homens, porque a perda de alguém que é muito querido, nunca é igual para os dois, ou vivida com a mesma intensidade, pelo menos para a maioria do senso comum. O que não corresponde de todo à verdade. O sofrimento também poderá ser muito atroz para os homens.
As mulheres, por norma, são mais frágeis a nível sentimental, talvez mais sensíveis, por isso, adoptam comportamentos diferentes. Aceito e acredito que haja excepções à regra.
No tempo em que me criei, à mulher era permitido chorar, pois fazia parte da sua essência tida como a forma de ser e de estar em sociedade. Ao homem, nem tanto. Sempre fui criada a ouvir dizer - o homem não chora! Mas chora, tal como a mulher, por vezes, igual ou ainda mais.
Na Ilha Terceira, concretamente onde eu vivo, vejo e sinto o luto de forma diferente, ou seja, nem todas as pessoas ou freguesias, reagem consentâneo a tradição perante a perda de um ente querido.
Lembro a minha família, em especial. Embora fossem novos, aparentavam muito mais idade, por vários motivos. As pessoas não se cuidavam tanto, e além disso, mais ou menos a partir dos quarenta anos, andavam enlutadas, pois o luto era uma imposição cultural e social, porquanto pareciam muito mais velhas. E também porque o luto era uma obrigação em relação aos avós, pais, irmãos, tios e primos e sempre que se justificasse algum grau de parentesco mais enraizado.
Com o decorrer dos tempos, muito se tem discutido o luto, ou seja, o uso da roupa preta, como manifestação de dor, perda e respeito.
Como a cor preta passou a ser moda, e há pessoas que a adoptaram para a sua vida quotidiana, apenas por gosto, o que nos leva a confundir com a situação de luto. Somente conseguimos diferenciar, quando conhecemos sobejamente as pessoas e sabemos que não usam a cor preta por moda, ou por gosto.
Na minha opinião, o luto nunca foi sinónimo de dor. Conheço pessoas que são muito rigorosas em relação ao luto. No entanto, nem sempre associado à dor. Casos há que eu conheço, em que o luto apenas serve para colmatar um pouco o remorso que sentem a algo que não correu bem, algum assunto que ficou por resolver, ou pelo que não fizeram e podiam ter feito em vida, à pessoa que faleceu.
Ainda há aqueles que se vestem de preto, apenas por receio, ou preconceito, porque os outros falam ou criticam, muito ligados às tradições, demasiadamente enraigadas na família.
Malgrado, não julgo as pessoas pelas aparências, ainda acredito que haja aquelas que se sentem confortáveis no seu luto verdadeiro e profundo. Conheço poucas pessoas assim, mas sei que existem.
No entanto, compreendo e aceito a diferença que há em perder um filho. Esse é um caso à parte. Não consigo imaginar sequer tão pouco, mas penso que será das dores mais cruéis que o ser humano, alguma vez, possa passar. Pelo que tenho observado e pelo que me contam, é uma dor acutilante, que dilacera o coração. Uma dor constante em que jamais a pessoa apaga do seu peito tal sofrimento. O que normalmente eu ouço pronunciar é a seguinte frase - Foi-se toda a alegria de viver!
Conheci mães e conheço, que jamais ousaram vestir outra roupa que não o preto. Também conheço outras, e sei de antemão, que sofrem imenso a perda do filho, mas que ao fim de alguns anos, vão por assim dizer, aliviando um pouco, sem que isso seja um prenúncio que o prazo da dor acabou.
Vou falar um pouco sobre os meus sentimentos. Eu nunca usei luto por ninguém, isto é, nunca me vesti completamente de preto, nem mesmo aquando a morte da mulher que eu mais amei neste mundo, a minha mãe. Não o fiz, por diversos factores. Porque a minha mãe era contra o luto, por não me importar com a opinião dos outros, e ainda, por não associar a roupa preta a sinónimo de dor. Já vi pessoas que jamais vestiram preto, e por essa ausência, não sentiram menos a perda de algum familiar. Antes pelo contrário, sentiram muito mais do que aqueles que andaram vestidos de preto. E ainda o que mais me impressiona, é o luto a prazo. Tem tantos meses para usar a cor preta, ao que se segue um determinado tempo de cinza, e por aí adiante...
Foi estipulado que o preto seria a cor do luto. Países há em que é o branco. Portanto, é mera formalidade.
Contudo isso, não faço juízos de valor, e respeito a opinião de cada um.
10.10.2018
Graziela Veiga
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