VIAGEM AO PICO
Estou sentado no Terminal Marítimo João Quaresma (por que é que o da Horta não tem nome?)
Há uns anos estaria «em cima do cais», apanhando sol e levando com uma brisa na cara. Haveria cestos à volta. Azáfama. E o cheiro a «gasól» da Espalamaca, Calheta ou Velas.
O Feijó (ou outro mestre) deitaria a cabeça pela porta da cabine e dois marinheiros amparariam o salto para dentro da lancha.
Hoje, tudo é diferente. Mesmo assim um velho cabo-de-mar reformado, que vive no Faial, está numa cavaqueira animada com outro passageiro falando sobre figos.
Uma senhora viúva mete-se na conversa:
- Untaste a figueira?
- Untei, mas já não tem folha! Não vai dar nada.
- Se é figos daqueles de Lisboa ainda dá.
- Pois, mas é preciso que o tempo ajude.
- Olha que são muito saborosos.
Diz um homem que assiste:
- Os meus são bico de mel, já os apanhei todos.
Tudo mudou nesta travessia do Canal, mas a idiossincrasia da nossa gente persiste.
Sem comentários:
Enviar um comentário