JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

sábado, 13 de agosto de 2016

Do jornal A União e Azores Digital



Na Terceira também houve greve dos árbitros 

Temos a noção, porque por lá passamos (Angola e Terceira), que o setor de arbitragem é das componentes desportivas mais melindrosas, o primeiro alvo a ser atingido quando as coisas não correm de feição aos clubes que, circunstancialmente, são derrotados, ou que, por outro lado, jogando no seu
reduto, não vão além de um empate, como sucedeu agora com o Sporting e cuja arbitragem, infeliz, há que dizê-lo, foi motivo para aflorar uma tempestade que foi além de um copo de água, face às declarações dos dirigentes sportinguistas, fazendo com que um tal João Ferreira, nomeado para dirigir em Aveiro o jogo entre os locais e o Sporting, se negasse a estar presente no jogo em questão, tendo, para o efeito, sido substituído por um trio de terceira categoria que, pelo que realizou, até envergonhou os ditos catedráticos. Mas, ainda em relação às nomeações, também outros árbitros, que estavam disponíveis, simplesmente se negaram  a aceitar a nomeação de recurso. Em suma: estavam indisponíveis.
Ora, sabe-se que hoje, num estado democrático, as coisas são diferentes, mas há que ressalvar o aspecto da regulamentação interna para as recusas a jogos. Aqui não há que fugir, a não ser que sejam sobrepostos outros interesses pessoais.
Em Setembro de 1973, ainda estávamos no regime salazarista (atente-se neste pormenor), os árbitros do Conselho de Arbitragem de Angra do Heroísmo (Conselho de Arbitragem formado por João Avelino de Sousa, Henrique Bruges e João Ávila) decidiram, pura e simplesmente, fazer greve e logo n o início de época quando estava marcada a primeira prova oficial, o Torneio de Preparação  (Lusitânia não participou nesta prova por ter feito uma longa digressão aos Estados Unidos e ao Canadá) que acabaria por ter árbitros convidados para o efeito, começando pela minha pessoa e os irmãos Borges, Orlando e Jorge Jacinto, que muito boa conta deram do recado, sabendo-se que eu tinha a obrigação, como ex-árbitro oficial, de realizar trabalhos condizentes com o próprio traquejo adquirido no tempo de atividade no setor. Acabaria mesmo, auxiliado pelos dois irmãos, por dirigir a final (Angrense, 3 – Praiense, 1), após te regressado de Lisboa onde assisti à festa do Eusébio com o jogo Benfica-Selecção do Resto do Mundo (2-2). Depois desta final, os árbitros resolveram regressar. Mas aqui, curiosamente, disciplinarmente nada foi feito, para mais que o CA da AFAH estava adstrito à Comissão Central de Árbitros, sigla naquele tempo. E, por aquilo que se conhece, foi na Terceira que houve a primeira greve dos árbitros, ainda no regime salazarista, visto que o 25 de Abril só aconteceu em 1974. Ninguém foi castigado, mas, segundo me confidenciou em Lisboa o nosso querido amigo e conceituado árbitro internacional, Joaquim Fernandes de Campos, foi um grande risco que os árbitros regionais da Terceira correram. Para finalizar, queria aqui prestar a minha homenagem póstuma a alguns desses árbitros já falecidos, nomeadamente Joaquim Laureano Simões e Gualter Jorge da Cunha Coelho. Ainda a minha homenagem e preito de gratidão a um outro árbitro (no rol dos vivos, felizmente) desse tempo que foi meu colaborador nos jornais A União e Diário Insular, com os seus escritos sobre arbitragem, que ainda hoje continuam no DI. Trata-se do meu bom amigo Jorge de Sousa Cipriano. Para ele o meu BEM HAJA! 

Do Azores Digital –  SE OS MORTOS FALASSEM

Bem recentemente, um amigo de longa data me colocou a seguinte questão: “você escreve muito sobre pessoas que morrem”. Cogitei nesta observação e concomitantemente recuei no tempo em que o fazia nos jornais onde estava inserido. E não foram poucos os casos relacionados com o desaparecimento do rol dos vivos de colegas e amigos mais chegados, nomeadamente gente ligada à área desportiva. Foi aqui que a minha atividade de árbitro, treinador e simultaneamente jornalista abrangeu o maior número de anos, concretamente quarenta dos cinquenta e um até agora registados, mas manda a verdade dizer que esta fase (os 11 anos subsequentes e passados no Brasil) abarcou apenas o jornalismo.
Quando estava no ativo em Portugal, era muitas vezes chamado pelas circunstâncias ocorridas para escrever sobre alguém que havia falecido, não só pelo fato de ser colega ou amigo, mas também e, sobretudo, por conhecer o trajeto dessas mesmas pessoas. E, ultimamente, não fugi a esse estigma em função de mortes de meus ex-futebolistas e amigos, o mais recente Aníbal Resendes, que teve iniciação futebolista comigo como técnico do Angrense.
É sempre doloroso sentar em frente do computador (em décadas anteriores a máquina de escrever) para alinhar um escrito relacionado com esta questão de mortandade, principalmente quando se trata de pessoas chegadas e que comigo conviveram vários anos.
Confesso que, há uns anos atrás, deparei com dificuldades para fazê-lo no que concerne a duas pessoas que muito me estimaram no decorrer da minha carreira, os meus amigos do coração Alberto Pereira Cunha e Francisco Toste de Carvalho, o conhecido Chico Toste, o “homem da cachimbada” e de alto vozeirão. E os casos nesse sentido foram-se seguindo, passando por João Machado Leal (o Martins do Porto Judeu) e João Gabriel Borges, duas mortes que, sinceramente, me abalaram em função das circunstâncias em que ocorreram.
Dois monstros do jornalismo, Vítor Santos e Alfredo Farinha, são outras duas figuras que, e como não podia deixar de acontecer, mereceram as minhas respectivas homenagens póstumas. Dois verdadeiros amigos e companheiros que muito me ensinaram nesta vida de ser jornalista. Vitor Santos, inclusive, sempre me considerou como um irmão. Disse-o publicamente num seminário para jornalistas desportivos em que foi convidado para passar os seus vastos conhecimentos aos colegas açorianos.
E de colegas do jornal da Travessa da Queimada (A Bola), Manuel Rebelo Carvalheira, Carlos Pinhão, Carlos Miranda, Homero Serpa, Cruz dos Santos, Aurélio Márcio, Nuno Ferrari, todos eles afáveis colegas e amigos sinceros. Homero foi o que me indicou ao Vitor Santos para eu fazer parte do naipe de correspondentes. Rebelo Carvalheira sempre com aquela frase: “chegou o açoriano, vamos ter chuva”.
E fomos por aí fora, nesta onda de tristeza (claro que ainda não terminou para a minha pessoa), com escritos para homenagear antigos atletas e amigos: Berto Rocha, Carlos Azevedo, Rui Gama, Jorge Teixeira (o “patachon”), para apenas falar destes os que no momento me recordo.
Para finalizar, tenho a certeza de que SE OS MORTOS FALASSEM, diriam: “o Carlos sempre foi um amigo de contar”.
















Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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