485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

sábado, 13 de agosto de 2016

Do meu Corpo Santo




O PORTO DAS PIPAS

Apesar de estar longe, jamais deixei de acompanhar o progresso da minha terra, todas as questiúnculas que a envolvem no quotidiano, do desporto, da cultura, da política, dos empresários que procuram mais e melhor, enfim, o todo de uma ilha com os seus “prós” e “contras”.
Fui nado e criado no Corpo Santo até, sensivelmente, aos 15 anos de idade,
passando depois para o triângulo Rua de Oliveira, Quatro Cantos e Rua dos Canos Verdes. Escusado será dizer que, grande parte do tempo, passava no Campo de Jogos da Cidade (era assim que o chamávamos) atrás de uma bola no chamado “campo dos rapazes” onde hoje está erguida a casa do guarda do já baptizado por Campo Municipal de Angra do Heroísmo. Mas, quando se podia, um salto até ao “pelado” do campo principal. Era lá que nos sentíamos como peixes em água, porém, quando se ouvia a voz do tio António “Bolha” (saiem do campo, saiem do campo), corríamos vertiginosamente para o campinho que, na altura, nos estava reservado, sempre ocupado. Até havia brigas para a sua desocupação, isto por parte daqueles que aguardavam a sua entrada. Outros, que não queriam esperar, optavam pelo Relvão ou então o reduzido “campo dos soldados”.
Voltando ao Corpo Santo, Bairro Oriental da Cidade de Angra do Heroísmo, parava muito no “Adro Santo” a ver os navios, a ver os barcos que regressavam da faina da pesca, a ver, também, a carga e descarga dos lanchões que serviam os navios que aportavam à nossa baía – Lima, Carvalho Araújo, Terceirense, Sete Cidades, Horta, Ribeira Grande, Cedros, Arnel e tantos outros -, numa escala de um a dois dias, excepto os navios que transportavam trigo, porque esses, para alegria de todos nós jovens, ficavam mais tempo. E lá íamos nós com uma saquinha apanhar o trigo que caía no chão das camionetas que faziam o transporte para os celeiros ou, então, para a moagem do Basílio Simões. Belos tempos. E como era engraçado ouvir o Tio Candinho, avô do Alexandre Barros, proferir....”pixinho à borda, pixinho à borda”. 
Ainda hoje tenho na retina o enorme albafar que veio, trazido pelas correntes marítimas, parar à baía, meio-ferido, e depois puxado para o varador pelo grupo liderado por Augusto Ávila que, ao ter conhecimento da presença daquele mamífero (alerta dado pelo Tio Bernardo que por ali sempre andava a ver o mar com os seus binóculos), se lançou ao mar com a sua “tripulação” (entenda-se por grupo de pessoas que, com ele, iam ao mar)”, como era vulgar dizer-se. Muitos desses companheiros do Tio Augusto eram jogadores do Marítimo e, a partir daí, o Marítimo ficou a ser conhecido por “Albafares do Mar”. Um “soubriquet” honroso, convenhamos.
E hoje o Porto das Pipas?
Pelo que leio, conta actualmente com quatro bares em funcionamento, dos quais dois dispõem de discoteca. O Porto das Pipas apresenta-se como um dos pontos de encontro mais concorridos da noite angrense, situação que, pelos vistos, está a passar por acesa discussão. Há nove anos, antes de deixar a Terceira (nunca mais voltei), apenas existia um bar que servia os passageiros que embarcavam e desembarcavam nos chamados barcos pequenos, para além dos trabalhadores que por ali existiam.
Deduzo que, depois dos barcos terem deixado de encostar ao molhe do Porto das Pipas – os de menor porte -, nunca se falou tanto do PP como agora, conseqüência também da política que aflorou em torno da possibilidade de se construir um (ou mais, sei lá...) cais de Cruzeiro.
A verdade é que, celeumas à parte, com bares ou sem bares, com discotecas ou sem elas, o Porto das Pipas faz parte da história da nossa terra. E muito mais há para contar, sobretudo por parte dos mais antigos, aqueles que ainda estão no rol dos vivos.





Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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