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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Do jornal A União



Eliseus – dos toiros, da cantoria, do futebol 

Nada tem a ver com os “Campos Elísios”. Aqui, são os Eliseus, em latim “elissaeus”. Conheci o nosso Eliseu, filho do Damião Eloy Borges Moniz, que tinha a sua barbearia na Rua da Sé e onde eu, quando jovem, passava lá os meus bocados com o José Diniz e, também, com o funcionário da barbearia, o
Hildeberto Pamplona. O Eliseu que, mais tarde, se transformou num dos carteiros mais populares do burgo angrense, pela sua própria maneira de ser. E, às vezes, quando estávamos sentados nos degraus da igreja da Sé, lá saia a frase habitual quando a circunstância o justificava: “lá vem Eliseu embalado com a sua sacola de correspondência”.
Depois, o Eliseu, funcionário alfandegário, tio do Tibério Vargas, do Fernando Natal, do José Freitas Silva, do Pipi, dos Mendes, etc.. O Eliseu, que era um grande adepto do Angrense e que andava muito ligado à embolação dos toiros. Estarei enganado? No caso afirmativo, espero pela correção do novo “expert” da matéria, o José Henrique Toste Pimpão. Mas lembro-me sempre do Eliseu no Corpo Santo, visto que a família morava em frente ao Bar Matateu que, na altura, era uma das grandes referências do Bairro Oriental da Cidade de Angra do Heroísmo. Lembro-me que o Eliseu usava sempre na lapela do seu casaco um vistoso emblema do Angrense ou do Benfica. É igual, apenas a diferença que um é pai e o outro é um dos muitos filhos.
E agora vem este que, em tempos idos, foi a minha “sombra negra” no Diário Insular. José Eliseu Costa, o senhor engenheiro do ambiente, cronista e comentador desportivo, cantador-improvisador do melhor que há, mas que também já apanhou forte de outros companheiros destas lides de cantar o improviso. Penso que alguém já lhe chamou de “cabeça de inhame” ou coisa assim parecida. Foi numa noite do 10 de Junho, no Solar da Madre de Deus, no tempo do general Vasco Rocha Vieira. Afinal, quem foi o destemido que usou provocar o senhor engenheiro? Creio que se tratou de um que possui um barzinho ali para os lados do aeroporto. Como se chama? Amanhã lembrar-me-ei. Hoje fico apenas pela dica do barzinho...
Mas foi justa a homenagem que lhe prestou a Casa do Povo de São Bartolomeu em função dos seus 30 anos de carreira. Este é outro grande animador de grupo. Ele e o Licas Couto frequentaram a mesma escola. Só não sei quem foi o professor. É difícil lá chegar.
Mas este José Eliseu Costa era sempre a mesma coisa aos domingos na redação do Diário Insular. Falava, falava, o tempo passava e nada de crónica feita para se fechar a respectiva edição. De tanto usar, o disco ficou muito riscado: “Eliseu está na hora, Eliseu eu estou aqui no jornal desde as oito da matina, Eliseu já estou cansado de te ouvir falar e nada de escrever. E depois saia a p... para o Eliseu voltar à realidade”. Só por isso, também merece a minha homenagem. Só que levava com a p... e a resposta era sempre a mesma: “chefe, prometo que vai ser agora”. E ficava-se pela promessa. Mas, apesar de tudo, confesso que tenho saudades desse inolvidável tempo.
E, finalmente, o grande Eliseu que o saudoso amigo Hélio Alves teve a felicidade de levá-lo até ao Futebol Clube “Os Belenenses” e daí o trampolim para a ribalta de um grande futebol, com o trajeto Espanha-Itália-Espanha, maior dose de felicidade no país de “nuestros hermanos”. E agora titular na seleção nacional foi mesmo o coroar de uma carreira a todos os títulos brilhante deste jovem (ainda o considero assim, com os seus 28 anos de idade) com raízes caboverdeanas e que, na ilha Terceira, teve iniciação no Sport Club Marítimo.
Eliseu, depois da espantosa exibição ante a Finlândia, já é conhecido pelo segundo furacão dos Açores (o primeiro a ser baptizado com esse epíteto foi Pedro Resendes, vulgo Pauleta), o que deixa antever, em termos de seleção nacional, uma presença mais assídua, pelo menos enquanto lá estiver Paulo Bento como selecionador. E, amanhã, ante a Dinamarca, esperamos ver o Eliseu dentro da mesma bitola, para gáudio de todos nós açorianos, terceirenses em particular. Apesar de estar longe do nosso arquipélago, continuo a ser ilhéu (açoriano) e, também, mantenho sempre  o mesmo entusiasmo para divulgar aqui no Brasil o que se passa nas nossas ilhas, nomeadamente em termos culturais e paisagísticos. Por isso, obrigado Carlos César por não se recandidatar a presidente do governo. Com a sua saída, redobro o entusiasmo para continuar a ser um dos regulares divulgadores dos Açores.



Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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