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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Do jornal A União


ERA UM POLÍTICO DE GRANDE EQUILÍBRIO

 
Nos almoços que o general Vasco Rocha Vieira oferecia, normalmente convidava  um ou mais jornalistas. Num desses almoços, com altas patentes militares, fui, digamos, o “jornalista eleito”. Confesso que ali, perante altos comandos militares, me senti deslocado, apesar de ter encontrado algumas
personagens conhecidas, também convidadas, casos dos Drs. José Guilherme Reis Leite e Alvarino Pinheiro. Mas, na mesa, fiquei entre os militares. Falava-se de política, das forças armadas portuguesas (inevitável), mas de futebol, nicles! Fui auscultando, auscultando, até que, a dado momento, virei-me para um desses generais e lhe perguntei se era do Sporting ou do Benfica. O homem deve ter percebido que eu já estava fartinho de ouvir falar em militarismo e lá foi dizendo que era benfiquista, tendo eu ripostado que o Sporting estava no meu coração, afinal, o grande rival do Benfica. O almoço foi divinal, como sempre acontecia com Rocha Vieira. Durante a sobremesa (depois veio o café, o scotch e mais outras bebidas da especialidade), o general interpelou-me, questionando se eu tinha sido militar. Respondi de imediato, que sim, com passagem por Angola, onde conheci o Tenente-Coronel Rebocho Vaz. Foi então que passamos a conversa para Angola. Aí sim, já abri mais o diálogo, mas surpreendi o general quando lhe informei que, em Angola, a minha guerra foi outra, a de árbitro de futebol. O “cinco estrelas” ainda atalhou: nunca deu um tirinho, pelos vistos. Lancei um sorriso e respondi que tinha dado muitos tiros, mas com o apito na boca. O “cinco estrelas” e os outros que estavam ali perto de nós, desataram a rir. Um desses generais, até comentou: para si, uma bela guerra. Pois foi... só pegava na arma quando estava de serviço ao quartel.
Manda a verdade dizer que ansiava para que o almoço terminasse, o que nunca foi habitual no solar de Rocha Vieira. Estava rodeado de muitas estrelas. Nunca gostei, exceptuando aqui o anfitrião do referido almoço, o general Rocha Vieira. As estrelas de Rocha Vieira eram tão diferentes. Estrelas de bondade, de amizade, de solidariedade. Deixou nos Açores um desempenho que ainda hoje é recordado com muita saudade. Por isso, prezo-me de ter sido um dos jornalistas que esteve sempre ao lado de Vasco Rocha Vieira. Senti isso naquele almoço. Mas também senti um forte alívio quando abandonei o Solar da Madre de Deus. Muitas estrelas para o meu feitio confidenciei ao Dr. Alvarino Pinheiro, na circunstância líder do Partido Popular.
Hoje, o Dr. Alvarino Pinheiro está fora da política, aposentou-se, quiçá em boa hora. Era, efetivamente, um político de grande equilíbrio e o ter “mudado de camisola” nada tem a ver com sua verticalidade. Assim pautou um prolongado período ao serviço dos Açores. Por outro lado, um velho amigo que sempre me apoiou e ainda hoje está presente como um dos meus ilustres leitores. De resto, e para finalizar, o Dr. Alvarino Pinheiro também se revelou um ótimo colaborador dos jornais locais e foi, acima de tudo, ao lado do Dr. Eduardo Ferraz da Rosa, um dos grandes impulsionadores para a saída e manutenção do Jornal da Praia, não esquecendo, obviamente, o seu amor pelo Sport Praiense.



Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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