QUANDO ELE PASSAVA... "OLHA O ARRANHÃO"
Sempre
houve na ilha Terceira, muito particularmente em Angra do Heroísmo, figuras que
jamais serão esquecidas. Figuras que, em função dos seus estilos peculiares,
nos fizeram divertir com as suas expressões. Figuras essas, sublinhe-se, que
foram sempre respeitadas. Do núcleo de pessoas que conhecemos e que
acompanhamos nos tempos de infância, também há que
referir o nome do senhor
Francisco Flores que trabalhava na central elétrica. Como tal, o senhor
Francisco diariamente, pela manhã, passava pelo Corpo Santo com destino ao seu
local de trabalho, situado na Canada da Luz, como nós lhe chamávamos. Ali
estava a central elétrica que às vezes, claro, nos pregava uma partidinha e
tínhamos todos que andar de vela na mão ou recurso ao candeeiro a petróleo,
muito usual naquela época. O cidadão Francisco Flores ficou conhecido pelo
“arranhão”. Ele próprio, quando passava na rua, se dirigia, com todo o
respeito, a nós jovens com a frase “aqui está o arranhão”. Pegou, foi pegando,
e sempre que se via ao longe a figura do senhor Francisco Flores, já nos
preparávamos para o cordial “bom dia, arranhão”. E assim se foi levando o tempo
quando o senhor Francisco Flores atravessava o Corpo Santo com destino ao seu
trabalho.Afinal, de que pessoa estamos a falar, para além de ter trabalhado na central elétrica? O senhor Francisco Flores, “o arranhão”, pai de sete filhos, seis masculinos e um feminino. Dos masculinos, figuras bem conhecidas na sociedade terceirense e não só. Um médico famoso (Dr. Hélio Flores), um jogador que deu nas vistas no Lusitânia (Nuno Flores), um oculista (Valdemar) e os outros filhos que a sociedade angrense se habituou a respeitar: António, Jorge, José Gabriel e Maria Teresa.
Gente de um grande dinamismo e possuidora de um apreciável nível intelectual, para além da força que dispunham, segundo reza a história. E da(s) história(s), há anos atrás, um deles, fica-nos a dúvida se o Valdemar ou o José Gabriel, fez parar a exibição de um filme no Teatro Angrense. A dada altura, nos camarotes abaixo das torrinhas (como se chamava), um cigano que estava ao lado começou a fazer das suas, importunando os outros espectadores. Daí que o nosso Flores (repito Valdemar ou José Gabriel) agarrou no dito cujo e pendurou-o fora do camarote em direção à plateia. Escusado será dizer que quem estava em baixo se assustou perante um inusitado cenário. O cigano passou, naturalmente, um grande cagaço.
Voltando ao senhor Francisco, acresce que ele tocava concertina nas horas vagas. Fazia parte de um grupo que se divertia com as respectivas tocatas familiares e não só. Ele não “arranhava” na concertina, tocava mesmo bem.
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