ROBERTO CARNEIRO, O MENINO PRODÍGIO
Evidentemente
que hoje todas as pessoas que conviveram com Roberto Artur Carneiro são
diferentes, a esmagadora maioria com vidas definidas e alguns inclusive
emigrados, nomeadamente aqueles que, no Corpo Santo, fizeram parte desse grupo
de amigos que, diariamente, rodeavam o Roberto. Ele próprio, o senhor
engenheiro Roberto Carneiro, ex- Ministro da Educação e pai
de onze filhos.
Quem diria. Mas, como eu sempre digo, há coisas que passam do inexplicável ao
explicável. Ele, por exemplo, filho único com uns pais maravilhosos, o Maestro
At Carneiro e a D. Nídia (penso que não estou errado no nome. Penso...), uma
senhora que, muitas vezes, chamava os amigos para lancharem com o Roberto lá em
casa. Muitos de nós de pé descalço, mas éramos tratados com muito carinho,
inclusive pelo Maestro, sempre com aquele sorriso de alegria. E era também um
prazer vê-lo ensaiar a sua orquestra que, aos fins-de-semana, tocava para os
americanos do destacamento da Base da Lajes. – Grandes músicos, tais como,
Alberto Cunha, Paulo Cunha, Diamantino Ribeiro, irmãos Soares, Dimas (sogro do
Dr. Aurélio da Fonseca) e outros.
O Roberto,
embora sem grande jeito, há que dizê-lo, gostava muito de jogar à bola e muitas
vezes isso acontecia no seu quintal com mais dois ou três amigos que apareciam
por ali nas redondezas da sua casa. Num desses dias de “fome por bola” eu e o
Roberto, da parte da tarde, fomos lá para o quintal para o entretenimento e,
simultaneamente, ouvindo o ensaio da orquestra AT CARNEIRO. Uma tarde de
angústia para a mãe do Roberto, visto que eu, ao tentar alcançar a bola debaixo
de uma figueira que lá existia encostada ao muro da casa da D. Alvarina, tia do
Alexandre Barros, fiz um enorme golpe no dedo maior do pé direito que apenas
ficou preso por um pouco de pele. Tive que ir para o hospital com a D. Nidia
que, desde logo, aflita, chamou um táxi para nos transportar. Já não sei
quantos pontos levei no dedo. De manhã, com minha avó materna, sempre o meu
pronto-socorro, passava pelo Caminho Novo bastante cedo para ir fazer o
curativo ao antigo Hospital de Santo Espírito sito à Guarita. Nessas ocasiões,
a D. Nídia estava sempre à porta de casa para me ver passar e saber do meu
estado de saúde. Lá eu ia para o hospital de pé descalço com uma meia enfiada
no dedo que sofreu o enorme corte (numa lata de conserva que estava perdida
debaixo da figueira). De fato, era uma senhora extraordinária, que hoje recordo
com muita saudade. Não sei, obviamente, se ainda é viva. Acresce que a D. Nídia
era oriunda de Macau.
Roberto era
um menino prodígio, estudioso q.b. e que sempre tirava médias altíssimas no
Liceu de Angra. Há muitos colegas que sabem que isso é verdade, podendo aqui
citar, entre outros, Luís Bretão, José Duarte Costa, João Bretão, Carlos
Alberto Moniz, dos Estados Unidos o Jorge Claudino e mais estudantes desse
tempo.
O Roberto
quando não tinha lugar para jogar nas equipas que formávamos acabava por ser
útil, visto que ficava na esquina de uma das ruas paralelas ao Caminho Novo a
ver se surgia algum polícia, o “Chuí” como ele sempre dizia. Se aparecesse o
polícia Mendes (pai do Duarte e do Bertinho e tio dos Freitas) não era motivo
para grandes receios. Ele só dizia: “meninos sabem que não se pode jogar na via
pública”. O pior era esse tal “polícia batata”. Quando era dado o alerta toda a
minha gente em debandada. Por ali vinha forte dose de “massa malagueta”.
Lembro-me que um dia o Roberto me disse: “esse gajo é teu vizinho, que pena não
voltar para São Miguel”. Mas, polícias à-parte, o Roberto quando jogava ficava
sempre “à-mama” encostado ao guarda-redes. Só não me lembro se chegou a
festejar algum golo.
Roberto
Carneiro esteve na Terceira ainda como Ministro da Educação. Encontrei-o no
antigo Rink de Patinagem (hoje o pavilhão com o nome do Luís Bretão) na
companhia do José Duarte Costa (ó “Jack” as touradas estão á porta, toma conta
do João Bertão. Entra “João Bartão” por esse vazio) e, não perdendo a
oportunidade, com ele fiz uma entrevista para a Rádio Horizonte-Açores. Uns
dias antes, porém, havia publicado um HOJE JOGO EU em “A Bola” (bastante
extenso em relação a outros que foram publicados) no qual contava parte dessas
histórias hoje aqui narradas. Histórias que sempre gostamos de trazer ao
convívio dos nossos leitores. Há os que vão gostando, outros talvez não. Deus o
TODO PODEROSO também não agradou a todos. E eu não sou, nesta área
jornalística, um “deus ex-machina”.
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