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sábado, 4 de fevereiro de 2017

Do jornal A União

ROBERTO CARNEIRO, O MENINO PRODÍGIO

 Evidentemente que hoje todas as pessoas que conviveram com Roberto Artur Carneiro são diferentes, a esmagadora maioria com vidas definidas e alguns inclusive emigrados, nomeadamente aqueles que, no Corpo Santo, fizeram parte desse grupo de amigos que, diariamente, rodeavam o Roberto. Ele próprio, o senhor engenheiro Roberto Carneiro, ex- Ministro da Educação e pai
de onze filhos. Quem diria. Mas, como eu sempre digo, há coisas que passam do inexplicável ao explicável. Ele, por exemplo, filho único com uns pais maravilhosos, o Maestro At Carneiro e a D. Nídia (penso que não estou errado no nome. Penso...), uma senhora que, muitas vezes, chamava os amigos para lancharem com o Roberto lá em casa. Muitos de nós de pé descalço, mas éramos tratados com muito carinho, inclusive pelo Maestro, sempre com aquele sorriso de alegria. E era também um prazer vê-lo ensaiar a sua orquestra que, aos fins-de-semana, tocava para os americanos do destacamento da Base da Lajes. – Grandes músicos, tais como, Alberto Cunha, Paulo Cunha, Diamantino Ribeiro, irmãos Soares, Dimas (sogro do Dr. Aurélio da Fonseca) e outros.
O Roberto, embora sem grande jeito, há que dizê-lo, gostava muito de jogar à bola e muitas vezes isso acontecia no seu quintal com mais dois ou três amigos que apareciam por ali nas redondezas da sua casa. Num desses dias de “fome por bola” eu e o Roberto, da parte da tarde, fomos lá para o quintal para o entretenimento e, simultaneamente, ouvindo o ensaio da orquestra AT CARNEIRO. Uma tarde de angústia para a mãe do Roberto, visto que eu, ao tentar alcançar a bola debaixo de uma figueira que lá existia encostada ao muro da casa da D. Alvarina, tia do Alexandre Barros, fiz um enorme golpe no dedo maior do pé direito que apenas ficou preso por um pouco de pele. Tive que ir para o hospital com a D. Nidia que, desde logo, aflita, chamou um táxi para nos transportar. Já não sei quantos pontos levei no dedo. De manhã, com minha avó materna, sempre o meu pronto-socorro, passava pelo Caminho Novo bastante cedo para ir fazer o curativo ao antigo Hospital de Santo Espírito sito à Guarita. Nessas ocasiões, a D. Nídia estava sempre à porta de casa para me ver passar e saber do meu estado de saúde. Lá eu ia para o hospital de pé descalço com uma meia enfiada no dedo que sofreu o enorme corte (numa lata de conserva que estava perdida debaixo da figueira). De fato, era uma senhora extraordinária, que hoje recordo com muita saudade. Não sei, obviamente, se ainda é viva. Acresce que a D. Nídia era oriunda de Macau.
 Roberto era um menino prodígio, estudioso q.b. e que sempre tirava médias altíssimas no Liceu de Angra. Há muitos colegas que sabem que isso é verdade, podendo aqui citar, entre outros, Luís Bretão, José Duarte Costa, João Bretão, Carlos Alberto Moniz, dos Estados Unidos o Jorge Claudino e mais estudantes desse tempo.
 O Roberto quando não tinha lugar para jogar nas equipas que formávamos acabava por ser útil, visto que ficava na esquina de uma das ruas paralelas ao Caminho Novo a ver se surgia algum polícia, o “Chuí” como ele sempre dizia. Se aparecesse o polícia Mendes (pai do Duarte e do Bertinho e tio dos Freitas) não era motivo para grandes receios. Ele só dizia: “meninos sabem que não se pode jogar na via pública”. O pior era esse tal “polícia batata”. Quando era dado o alerta toda a minha gente em debandada. Por ali vinha forte dose de “massa malagueta”. Lembro-me que um dia o Roberto me disse: “esse gajo é teu vizinho, que pena não voltar para São Miguel”. Mas, polícias à-parte, o Roberto quando jogava ficava sempre “à-mama” encostado ao guarda-redes. Só não me lembro se chegou a festejar algum golo.
 Roberto Carneiro esteve na Terceira ainda como Ministro da Educação. Encontrei-o no antigo Rink de Patinagem (hoje o pavilhão com o nome do Luís Bretão) na companhia do José Duarte Costa (ó “Jack” as touradas estão á porta, toma conta do João Bertão. Entra “João Bartão” por esse vazio) e, não perdendo a oportunidade, com ele fiz uma entrevista para a Rádio Horizonte-Açores. Uns dias antes, porém, havia publicado um HOJE JOGO EU em “A Bola” (bastante extenso em relação a outros que foram publicados) no qual contava parte dessas histórias hoje aqui narradas. Histórias que sempre gostamos de trazer ao convívio dos nossos leitores. Há os que vão gostando, outros talvez não. Deus o TODO PODEROSO também não agradou a todos. E eu não sou, nesta área jornalística, um “deus ex-machina”.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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