Pai com morada no coração
“Sou como um pai para ti”. A expressão
corriqueira é utilizada quando queremos puxar os galões diante de um amigo.
Sabemos, de antemão, apesar da evidente boa
vontade, que a frase nunca poderá corresponder inteiramente à verdade.
“Pai só há um”, parece-me uma frase mais
ajustada. Nem é imperativo ser biológico.
Ser pai é estar sempre presente,
encaminhar-nos, de mãos dadas e firmes, pelos trilhos sinuosos da existência.
É saber corrigir, zangar se for preciso, sem
nunca deixar de amar os filhos.
Funcionar como ponto de referência, ser a luz
constante do farol que leva ao bom porto do senso.
O meu pai, infelizmente, faleceu há longo
tempo – em 1989. Todavia, é frequente sonhar com ele.
Lembro de o contemplar a limpar a sua arma de
caça, às tardes de quinta, quando gozava folga do seu emprego. Contemplava-o a
desfazer a barba e alimentava o sonho de crescer rápido para desempenhar
semelhante tarefa.
Dava dinheiro, a mim e aos meus três irmãos,
para comprarmos o jornal “A Bola”, então em formato gigantesco e com
periodicidade trissemanal.
Gostava e respeitava as simpatias clubísticas
repartidas a meio pelos quatro filhos – dois do Angrense/Benfica (Mateus e
Guilherme), dois do Lusitânia/Sporting (Luis e João).
Era o fiel da balança. Nunca tomava parte nas
desavenças próprias entre irmãos.
O papel de castigador ficava a cargo da minha
mãe, sempre presente em casa com os olhos postos na travessa que servia de
tapete às nossas brincadeiras e sonhos.
Adorava deitar-me ao seu lado, com o meu pai
sempre a acariciar-me os cabelos, chamando a atenção para a correção dos
inevitáveis disparates infantis.
Nunca recorreu a raspanetes severos, nem
levantou a mão contra os filhos. Só nos soube tocar no coração, onde tem morada
eterna.
Bom feliz Dia do Pai (19 de março) para quem
tem a felicidade de beneficiar desta verdadeira dádiva.
joaorochagenio@hotmail.com
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