Doutores, engenheiros
e sempre burros
O “novo dicionário” resulta
essencialmente das emergentes tecnologias comunicativas. Mensagens por
telemóvel (SMS) e conversas no Messenger querem-se abreviadas.
Aliás, o velho querer deu lugar ao moderno
kerer. Quem não conseguir perceber os novos conceitos linguísticos, recebe um
conclusivo LOL (tradução livre do morrer a rir que vigorou no último milénio).
O espaço virtual ameaça fazer do real
uma verdadeira relíquia de museu. No ecrã do computador encontra-se o mundo por
inteiro.
Navega-se sentado, a comer se for
preciso, fazendo da solidão um aliado que faz dispensar a cor, o cheiro e o
barulho que a rua antes compartilhava em nome da amizade e brincadeira.
Não é necessário fazer-se contas de cabeça
para passar o tempo. Na Internet, também cabem todas as combinações da tabuada.
Mexer no rato e dedilhar no teclado
ensinam, sobretudo, a desenrascar. Aprender, ato consubstanciado na primária
prática de queimar as pestanas no estudo, já passou à história, é coisa de
caretas.
A maravilhosa “Net” é a responsável
pelas brilhantes cabeças que tomarão conta dos destinos coletivos num futuro
não muito longínquo.
A mesma “Net” que me permitiu, através
do email, recolher estas “pérolas” extraídas das provas globais do já longínquo
ano letivo de 2006/7.
Nos exames de Biologia, ficamos a
saber que “As plantas se distinguem dos animais por só respirarem à noite”, “Os
crustáceos fora de água respiram como podem”. “A insónia consiste em dormir ao
contrário”, “Quando um animal irracional não tem água para beber, só sobrevive
se for empalhado”, “O coração é o único órgão que não deixa de funcionar 24
horas por dia”, “O Sol dá-nos luz, calor e turistas”, “A principal função da
raiz é enterrar-se” e “O vento é uma imensa quantidade de ar”.
A História também teve idêntico
tratamento de choque: “Na Grécia, a democracia funcionava muito bem porque os
que não estavam de acordo envenenavam-se”, “As múmias tinham um profundo conhecimento
de anatomia”, “A arquitetura gótica notabilizou-se por fazer edifícios
verticais”, “Péricles foi o principal ditador da democracia Grega” e “Os
Egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudessem
viver melhor”.
Olhando pela Geografia, descobre-se
que “O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em que os peixes se
afogavam dentro de água”, “O problema fundamental do terceiro mundo é a
superabundância de necessidades”, enquanto que a Geologia abre espaço à
seguinte definição: “Terramoto é um pequeno movimento de terras não
cultivadas”.
Não há que meter as mãos à cabeça, nem
concluir que a Internet é responsável por tanta ignorância. Daqui a uns anitos,
estou mais do que convencido, todos serão doutores e engenheiros, e obviamente,
burros até ao caixão.
Sem comentários:
Enviar um comentário