A árvore de encontro ao carro
Perante uma perspetiva de azar, quase todos
preferimos pensar que as coisas ruins “só acontecem aos outros”. Na estrada,
enquanto condutores, o estado de espírito é idêntico.
Se falta o selo do carro, ninguém vai notar e
adia-se a despesa por mais uns dias.
Os pneus podem estar carecas, mas existe a
esperança de que aguentarão até haver dinheiro para a sua substituição.
Circulamos acima do limite de velocidade
imposto pela lei, mas, até porque ouvimos no café a mensagem reconfortante de
“hoje a polícia não está na rua”, ninguém é capaz de nos apanhar.
Seja quais forem as condições climáticas e da
própria faixa de rodagem, há muito boa gente que só sabe conduzir com o pé
pesado no acelerador, mandando a sua segurança e a dos outros às malvas.
No asfalto, em abono da verdade, quem apenas
cumpre à letra as regras de condução são os aprendizes ao volante dos carros de
instrução – quando conseguem a carta, porém, rapidamente passam para o lado dos
automobilistas “a sério”, que acham, por exemplo, que o pisca só serve para as
iluminações natalícias.
E, muito naturalmente, os acidentes acabam por
ser inevitáveis.
O assumir de culpas é que configura caso de
solução mais problemática. Quando alguém espatifa o carro, costuma argumentar
de que os “travões falharam” e, em caso de embate contra uma árvore, há quem
jure a pés juntos que “o tronco veio de encontro à viatura” …
Face a todo este arrazoado de constatações,
não espantam, em nada, os dados policiais que indicam a detenção diária de
condutores com excesso de álcool no arquipélago.
Não obstante reconhecer que nalgumas situações
a ação dos agentes deveria pautar-se num registo sobretudo preventivo (as
“esperas” nos dias de Amigos e Amigas não integram o lote das atitudes mais
pedagógicas…), também recuso alinhar no coro dos que acusam os polícias de
“andarem na caça à multa”.
Regras são regras e o seu cumprimento é
imperativo para o bem coletivo. Quem quiser sair com o intuito de consumir
bebidas alcoólicas, pode ir à boleia ou apanhar táxi.
“Só mais um copo para o caminho” é uma atitude
para ser arrumada definitivamente no baú das más recordações.
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