Rapazes e meninas
num mundo à parte
Os meus dois irmãos mais velhos ainda apanharam na escola primária os espaços divididos pelos sexos: meninas para um lado, os rapazes por outro.
Com a revolução dos cravos as salas passaram a ser mistas, mas, em abono da
verdade e tendo como referência temporal a “minha época”, as diferenças entre o
masculino/feminino eram mais do que notórias.
Para já, se um rapaz ousasse partilhar a carteira
com uma miúda, arriscava o título de “mariquinhas” até quase ir para a tropa.
Eram dois mundos distintos. Brincar aos
polícias/ladrões e jogar à bola eram coisas só para rapazes, nem se imaginando
sequer a presença à distância daquelas estranhas “criaturas” com totós e
fitinhas no cabelo, que se entretinham à volta das bonecas.
Nós, do clã masculino, mantínhamos a ideia de que
as meninas não sabiam conversar e partilhar preferências.
Como era possível não gostar de ver futebol,
apanhar moscas e lagartixas ou tirar macacos do nariz?...
Umas parvas estas raparigas, que davam mostras
claras de não possuírem mais do que meio neurónio.
Enfim, passado pouco tempo, a malta começa a gostar
delas e deixa de constituir um bicho-de-sete-cabeças as nuances comportamentais
até no ato de fazer chichi.
Dançar um slow era um feito para falatório durante
um mês e, se por acaso uma miúda olhasse para nós na rua (embora aí a
imaginação também tivesse uma palavra a dizer), éramos até capazes de ver
estrelas num dia com neblinas.
Hoje, sem margem para grande discussão, os
antagonismos estão esbatidos. Até no vestuário, e outros acessórios como os
brincos, as particularidades deixaram totalmente de seguir a tradição de que o
rosa era para a menina e o azul destinava-se ao menino.
Mesmo à conta da aplicação de umas discutíveis
quotas, a igualdade de género está a ganhar forma de realidade cada vez mais
consistente e, muito obviamente, as mulheres souberam ocupar o seu espaço no
mundo quotidiano (família/emprego/sociedade), o qual é, sem tirar nem pôr,
rigorosamente idêntico ao dos homens.
Sem comentários:
Enviar um comentário