Malhar nos peidos
do Salvador Sobral
Há sempre lugar (mesmo sem convite) para os chatos nas nossas vidas. Estas
criaturas maçadoras começam a atormentar a existência alheia logo nos bancos da
escola. O reino deles é a complicação, apostando em levar o desânimo a tudo e
todos.
No tempo de aprendizagem escolar, os seus avisos/ameaças eram constantes: “Vais
reprovar o ano”, “Se cabulares, és apanhado e não te livras da negativa”, “A
boazona da Carla não gosta de ti” e “Tens falta se chegares atrasado à aula
pela demora da jogatana no recreio”.
Passam-se uns anos e a praga continua. No emprego,
surge imperativamente um chato, pelo menos, a lançar farpas diárias, sem
referenciar as queixas constantes ao chefe.
“O ar condicionado dá-me cabo dos ossos”, “Faz um
calor dos diabos aqui dentro”, “Acho que o Manuel anda a atirar-se à
Clementina” e “Vamos todos morrer contaminados se não utilizares um lenço
quando espirras”.
Outra área de ação privilegiada para nos atazanar a
paciência é o meio social: “Não achas que estás a beber muito?”, “Ainda tens
aquele carro a cair aos bocados?” e “Esta gravata não diz (como se ela
falasse…) com a camisa” integram a lista das interrogações e advertências para
dar início à conversa que nos mete à beira de um ataque de nervos.
Merecem também sublinhado os cromos que, graças à
sorte e a todos os santinhos, não fazem parte da nossa realidade diária (caso
contrário, a loucura recebia-nos de braços abertos).
Quando colocam a vista em cima das vítimas, a
entrada é sempre a pés juntos: “Já te vi bem mais magro”, “Estás a ficar
careca”, “O teu casaco parece um
dinossauro comparado com o meu”, “Com barba pareces da idade do meu avô”.
E quem critica o nosso
peso é geralmente largo de peles e os que malham no cabelo têm, em regra, um
espólio capilar reduzido às lembranças.
Com o advento das redes
sociais, o inferno ganha foros virtuais em detrimento do virtuoso: “Para de
colocar gostos nas publicações da tua vizinha”, “Aquele teu comentário à
exibição do Cristiano Ronaldo é nada vezes nada” e “Devias ter malhado no
Salvador Sobral por causa dos peidos”.
Até os que partilham connosco as simpatias
clubísticas, preferem sempre alvejar a equipa do coração em vez de maldizer os
adversários.
Só não os estrangulo porque é verão e está um calor
de matar. Além disso, num dia de claro vazio de ideias, eles deram preciosa
ajuda para alinhavar a crónica.
Espero não ter sido demasiado chato…
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