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sexta-feira, 30 de junho de 2017

Do jornalista João Rocha


 Malhar nos peidos
do Salvador Sobral

                                                        

                                                                      


Há sempre lugar (mesmo sem convite) para os chatos nas nossas vidas. Estas criaturas maçadoras começam a atormentar a existência alheia logo nos bancos da escola. O reino deles é a complicação, apostando em levar o desânimo a tudo e todos.
No tempo de aprendizagem escolar, os seus avisos/ameaças eram constantes: “Vais reprovar o ano”, “Se cabulares, és apanhado e não te livras da negativa”, “A boazona da Carla não gosta de ti” e “Tens falta se chegares atrasado à aula pela demora da jogatana no recreio”.
Passam-se uns anos e a praga continua. No emprego, surge imperativamente um chato, pelo menos, a lançar farpas diárias, sem referenciar as queixas constantes ao chefe.
“O ar condicionado dá-me cabo dos ossos”, “Faz um calor dos diabos aqui dentro”, “Acho que o Manuel anda a atirar-se à Clementina” e “Vamos todos morrer contaminados se não utilizares um lenço quando espirras”.
Outra área de ação privilegiada para nos atazanar a paciência é o meio social: “Não achas que estás a beber muito?”, “Ainda tens aquele carro a cair aos bocados?” e “Esta gravata não diz (como se ela falasse…) com a camisa” integram a lista das interrogações e advertências para dar início à conversa que nos mete à beira de um ataque de nervos.
Merecem também sublinhado os cromos que, graças à sorte e a todos os santinhos, não fazem parte da nossa realidade diária (caso contrário, a loucura recebia-nos de braços abertos).
Quando colocam a vista em cima das vítimas, a entrada é sempre a pés juntos: “Já te vi bem mais magro”, “Estás a ficar careca”,  “O teu casaco parece um dinossauro comparado com o meu”, “Com barba pareces da idade do meu avô”.

E quem critica o nosso peso é geralmente largo de peles e os que malham no cabelo têm, em regra, um espólio capilar reduzido às lembranças.
Com o advento das redes sociais, o inferno ganha foros virtuais em detrimento do virtuoso: “Para de colocar gostos nas publicações da tua vizinha”, “Aquele teu comentário à exibição do Cristiano Ronaldo é nada vezes nada” e “Devias ter malhado no Salvador Sobral por causa dos peidos”.

Até os que partilham connosco as simpatias clubísticas, preferem sempre alvejar a equipa do coração em vez de maldizer os adversários.
Só não os estrangulo porque é verão e está um calor de matar. Além disso, num dia de claro vazio de ideias, eles deram preciosa ajuda para alinhavar a crónica.
Espero não ter sido demasiado chato…

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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