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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Do colaborador José Henrique Pimpão


DE TOIROS
EMIGRANTE DE SUCESSO NA CALIFÓRNIA
MANUEL DA LOKA TEVE GADO BRAVO MAIS DE 30 ANOS



Mais um livro (o 50.º em 10 anos) da autoria do editor, investigador e escritor Liduíno Borba, foi lançado no passado dia 5 de setembro, no Salão da Santa Casa da Misericórdia dos Altares, com o título “MANUEL DA LOKA – UM GANADERO NA CALIFÓRNIA”.
Trata-se de Manuel Cardoso Correia, bem mais conhecido por Manuel da Loka, natural da freguesia dos Altares, hoje com 78 anos, casado com Genoveva Diane Simas Correia, natural dos Biscoitos, e pais de 4 filhos.

No lançamento do livro, com grande número de familiares e amigos presentes, fez a apresentação o presidente da Câmara Municipal de Angra, Dr, Álamo de Meneses, por sinal também altarense que, num brilhante improviso, se referiu ao penoso percurso da vida e obra do homenageado, que, de pé descalço, culminou em sucesso.
Manuel da Loka emigrou para o Brasil em finais de 1958 e ano e meio depois fixou-se nos Estados Unidos da América, no sul do Estado da Califórnia, perto da cidade do Chino. Foram anos difíceis para enfrentar a vida, mas foi fazendo progressos. Depois mudou-se para o Vale de São Joaquim, cidade de Madera, onde desenvolveu a sua maior atividade de ganadero e empresário tauromáquico. Hoje vive também no Vale mas numa luxuosa vivenda na cidade de Tulare.



Apesar dos quase 60 anos emigrado, Manuel da Loka, hoje um grande proprietário, nunca esqueceu a sua terra natal, vindo, anualmente, em cada verão, matar saudades do berço que o viu nascer, dos familiares e amigos e, como aficionado apaixonado das touradas à corda, é vê-lo com o seu feitio calmo e alegre em todos os arraiais taurinos dialogando com os muitos amigos e conhecidos que tem.
Mas para mais elucidação do que foi a vida e obra dos 60 anos, lá fora, deste emigrante, ninguém melhor que o amigo Liduíno Borba como minucioso investigador e autor deste livro, para nos responder às seguintes perguntas:
1 – Como decorreu o lançamento deste livro?
Correu muito bem, acima de toda e qualquer expetativa que pudesse existir. Compareceram vários familiares, amigos e conhecidos que encheram por completo o Salão da Santa Casa da Misericórdia dos Altares, onde se venderam muitos livros.
2 – Ao sair da sua terra em 1958, com 19 anos de idade, praticamente de pé descalço, como foi a vida, em resumo, do amigo Manuel da Correia e como adquiriu o apelido “Loka”?
Era uma vida difícil, ligada ao trabalho das terras sem ver um futuro promissor. O pai chamou-lhe à atenção que trabalhavam por sua conta e que trabalhar por conta dos outros tinha inconvenientes, mas Manuel respondeu que eles não morriam e que vinham calçados e bem vestidos, enquanto cá andava descalço e mal vestido.
Emigrou para o Brasil em cima do limite da idade, mas o seu desejo era a Califórnia, onde já tinha familiares. E assim foi. No dia que viria a ser consagrado para Dia de Portugal e das Comunidades – 10 de junho – mas de 1960, Manuel chegou à América dos seus sonhos. E realizou-os, mesmo com muitas contrariedades e esforços.
O apelido de Loka vem do inglês Loker, que traduzido para português quer dizer gaveta com fechadura. Manuel, no seu negócio de talho, montou um grande frigorífico com gavetas fechadas à chave, que alugava a cada cliente que quisesse guardar a sua carne. Era um negócio próspero nos anos 60, do século XX. Daqui o apelido de Manuel da Loka. Depois, as pessoas passaram a ter em sua casa os seus frigoríficos – as frizas.
3 – Começou a trabalhar num talho no Brasil e também na Califórnia, seguiu-se a compra duma leitaria, mas foi na compra e vendas de propriedades que fez grandes e lucrativas receitas. Hoje tem 130 apartamentos?
Manuel começou por comprar uma casa por nove mil dólares. Comprou outras propriedades e foi vendendo sempre com boa valorização. Grande parte das propriedades esteve relacionada com a atividade de ganadero. Foram valendo mais e pode-se concluir que Manuel da Loka foi dos poucos ganaderos, na Califórnia, que ganhou dinheiro com o negócio dos toiros, desta maneira.
Parou quanto entendeu ser a hora certa, investiu em 130 apartamentos na zona de Tulare, que, para além de valerem uns milhões, lhe trazem um rendimento anual que ele não o consegue gastar.
4 – Qual o percurso e ação de Manuel da Loka como Ganadero?
Foi pioneiro. Foi o primeiro a importar gado bravo do México legalmente. As importações até ali foram muito pequenas e de forma ilegal, misturadas com gado manso. As autoridades americanas não colaboravam e os ganaderos do México também protegiam as suas raças.
Mas em meados dos anos 70, do século XX, Manuel da Loka obrigou, por lei, um veterinário de fronteira a deixar importar gado bravo do México, coisa que ele (pessoalmente) não consentia.
Tudo passou a ser diferente na tauromaquia da Califórnia. As 20 a 30 corridas de praça anuais e outras (menos) de corda que ali se realizam, tiveram início nesse movimento começado por Manuel da Loka, e colocam este estado americano no segundo lugar da tauromaquia portuguesa mundial, depois do continente português (que realiza mais de 200 eventos por ano).
5 – Algo mais que queira acrescentar?
Esta é uma pequena mostra do muito que a nossa comunidade portuguesa tem feito na Califórnia. A grandeza desta atividade está muito longe de ser avaliada pelos valores que envolve e pelas pessoas que movimenta. Há profissionais da arte tauromáquica que viveram, ou vivem, há anos neste estado americano, prestando os seus serviços com muito mérito. Manuel da Loka, um aficionado de quatro costados, deixa a sua marca nisto tudo.




Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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