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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

domingo, 29 de outubro de 2017

De João Bendito em Califórnia


                                     PEREGRINAÇÃO A ARTESIA

Nunca li, confesso, a que é por muitos considerada uma das melhores obras da literatura de viagem portuguesa. Este género literário é um dos meus favoritos mas, por uma razão ou outra, “A Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, nunca me passou pelos olhos. Conheço pedaço aqui, texto ali, citação acolá mas não mais do que isso.

Falava-se muito no livro nas aulas de Português e, sobretudo, de História, no curso do Liceu do meu tempo. Publicado em 1614, o livro tornou-se, polémico porque os relatos nele contidos acerca das expedições e descobertas dos portugueses não se adequavam aos desejos das autoridades, que os consideravam até enganadores e mentirosos. Contudo, as descrições das viagens do seu autor, os contactos que manteve com culturas diferentes, os pormenores dos usos e costumes de lugares distantes e misteriosos, fizeram do livro um best-seller que, mesmo hoje em dia, merece a atenção de muitos leitores. Ainda não mereceu a minha mas prometo que o farei em breve.

Embora possa ser usado num sentido mais lato, a maioria dos dicionários – pelo menos aqueles que eu tenho – definem uma peregrinação como sendo uma viagem a um lugar santo ou de veneração, quase sempre para cumprir uma promessa, um voto. Desde tempos imemoriais que se fazem peregrinações por todo o Mundo. As maiores religiões servem-se delas para fazer afluir aos seus santuários multidões de fieis, geralmente em datas certas do calendário. Os maometanos fazem o possível para irem a Meca pelo menos uma vez na vida; os cristãos e os judeus procuram os lugares santos da Palestina e de Israel e por toda a Ásia os hindus e budistas caminham distâncias enormes para visitarem templos milenários e outros locais de culto onde são recebidos por sacerdotes que praticam ritos cujas origens se perdem na imensidão dos tempos.

A minha religiosidade (ou, melhor dizendo, a falta dela) perdoa-me – passe a expressão – o facto de eu não fazer promessas e, portanto, não participar em peregrinações. Respeito quem as faz e quem se mete a caminho para pedir a ajuda divina ou a intervenção seja lá de que santo for para resolver problemas ou conseguir curas para doenças ou situações complicadas. Por outro lado não me aquece nem arrefece que muita gente participe só por tradição, como acontece com as caminhadas que fazem à roda da ilha Terceira em direção à freguesia da Serreta, onde se venera a Senhora dos Milagres. Pelo menos praticam alguma forma de atividade física, dá jeito às pernas e ao coração. Foi nesse sentido que também um ano me juntei a irmãos e primos e lá fui, estrada fora. Mas, quando começou a chover, já quase em São Bartolomeu, eu pedi desculpa aos meus companheiros e à Senhora milagrosa e interrompi a minha primeira e única peregrinação. Se fui perdoado não sei mas pelo menos não fiquei alagado pingando...

A fé e a devoção dos nossos imigrantes na terceira pessoa do triunvirato divino, motiva-os a deslocações às terras de origem, com o fito de pagarem promessas ou para assistirem a outras festividades religiosas e profanas. Por vezes penam os olhos da cara para lá chegarem, a malfadada SATA prega-lhes cada partida que é mesmo de se lhe tirar o chapéu. Este ano foram várias centenas de californianos que voaram para a Terceira, para participarem nas Sanjoaninas e para visitarem familiares e amigos, já que, felizmente, nem todos o fazem pelos motivos descritos acima.

Recebi, através do Facebook, fotografias de dois amigos que me deixaram muito contente. Os dois fizeram o favor de ir visitar o Snack-bar “Copacabana”, em Angra do Heroísmo, que está instalado no mesmo lugar onde funcionou a Loja do Ti Bailhão, a Loja do meu pai e onde existe um mural que mostra a história do estabelecimento. Um deles, o meu ex-colega de trabalho Norberto Silva, conhecia a antiga taberna e sempre teve palavras de apreço para com o taberneiro. Já o outro amigo, o J.V. – falei-vos dele no “Tribuna” do mês passado, no artigo “Amizades à Distância” – nunca lá tinha entrado mas fez questão de ir conhecer o lugar que eu e o meu irmão Jorge descrevemos no livro “A Loja do Ti Bailhão”.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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