PEREGRINAÇÃO A ARTESIA
Nunca li, confesso,
a que é por muitos considerada uma das melhores obras da literatura de viagem
portuguesa. Este género literário é um dos meus favoritos mas, por uma razão ou
outra, “A Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, nunca me passou pelos olhos.
Conheço pedaço aqui, texto ali, citação acolá mas não mais do que isso.
Falava-se
muito no livro nas aulas de Português e, sobretudo, de História, no curso do
Liceu do meu tempo. Publicado em 1614, o livro tornou-se, polémico porque os
relatos nele contidos acerca das expedições e descobertas dos portugueses não
se adequavam aos desejos das autoridades, que os consideravam até enganadores e
mentirosos. Contudo, as descrições das viagens do seu autor, os contactos que
manteve com culturas diferentes, os pormenores dos usos e costumes de lugares
distantes e misteriosos, fizeram do livro um best-seller que, mesmo hoje em
dia, merece a atenção de muitos leitores. Ainda não mereceu a minha mas prometo
que o farei em breve.
Embora
possa ser usado num sentido mais lato, a maioria dos dicionários – pelo menos
aqueles que eu tenho – definem uma peregrinação
como sendo uma viagem a um lugar santo ou de veneração, quase sempre para
cumprir uma promessa, um voto. Desde tempos imemoriais que se fazem
peregrinações por todo o Mundo. As maiores religiões servem-se delas para fazer
afluir aos seus santuários multidões de fieis, geralmente em datas certas do
calendário. Os maometanos fazem o possível para irem a Meca pelo menos uma vez
na vida; os cristãos e os judeus procuram os lugares santos da Palestina e de
Israel e por toda a Ásia os hindus e budistas caminham distâncias enormes para
visitarem templos milenários e outros locais de culto onde são recebidos por
sacerdotes que praticam ritos cujas origens se perdem na imensidão dos tempos.
A minha
religiosidade (ou, melhor dizendo, a falta dela) perdoa-me – passe a expressão
– o facto de eu não fazer promessas e, portanto, não participar em
peregrinações. Respeito quem as faz e quem se mete a caminho para pedir a ajuda
divina ou a intervenção seja lá de que santo for para resolver problemas ou
conseguir curas para doenças ou situações complicadas. Por outro lado não me
aquece nem arrefece que muita gente participe só por tradição, como acontece
com as caminhadas que fazem à roda da ilha Terceira em direção à freguesia da
Serreta, onde se venera a Senhora dos Milagres. Pelo menos praticam alguma
forma de atividade física, dá jeito às pernas e ao coração. Foi nesse sentido
que também um ano me juntei a irmãos e primos e lá fui, estrada fora. Mas,
quando começou a chover, já quase em São Bartolomeu, eu pedi desculpa aos meus
companheiros e à Senhora milagrosa e interrompi a minha primeira e única
peregrinação. Se fui perdoado não sei mas pelo menos não fiquei alagado
pingando...
A fé e a
devoção dos nossos imigrantes na terceira pessoa do triunvirato divino,
motiva-os a deslocações às terras de origem, com o fito de pagarem promessas ou
para assistirem a outras festividades religiosas e profanas. Por vezes penam os
olhos da cara para lá chegarem, a malfadada SATA prega-lhes cada partida que é
mesmo de se lhe tirar o chapéu. Este ano foram várias centenas de californianos
que voaram para a Terceira, para participarem nas Sanjoaninas e para visitarem
familiares e amigos, já que, felizmente, nem todos o fazem pelos motivos
descritos acima.
Recebi,
através do Facebook, fotografias de dois amigos que me deixaram muito contente.
Os dois fizeram o favor de ir visitar o Snack-bar “Copacabana”, em Angra do
Heroísmo, que está instalado no mesmo lugar onde funcionou a Loja do Ti
Bailhão, a Loja do meu pai e onde existe um mural que mostra a história do
estabelecimento. Um deles, o meu ex-colega de trabalho Norberto Silva, conhecia
a antiga taberna e sempre teve palavras de apreço para com o taberneiro. Já o
outro amigo, o J.V. – falei-vos dele no “Tribuna” do mês passado, no artigo
“Amizades à Distância” – nunca lá tinha entrado mas fez questão de ir conhecer
o lugar que eu e o meu irmão Jorge descrevemos no livro “A Loja do Ti Bailhão”.
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