ÊXTASES
“Bliss it was in that dawn to be alive”, êxtase era estar vivo
naquela aurora, escreveu o poeta Wordsworth sobre a Revolução Francesa. Poderia
ter dito o mesmo de outra aurora republicana, anterior à francesa: a declaração
da independência americana. O fim do século dezoito e começo do século dezenove
pareciam estar trazendo um novo dia para a humanidade, um dia de entusiasmar
poetas. Não havia duvidas, então, sobre a inevitabilidade histórica do que se
chamaria “democracia
“e o ocaso definitivo de monarquias absolutas e castas opressoras.
Há um texto do Paulo Mendes
Campos falando das primeiras horas do Gênese, com “o mundo ainda úmido da
criação”, que descreve com o mesmo encanto aquele outro começo, quando tudo que
havia na Terra recebeu seu nome verdadeiro. O novo dia da humanidade
equivaleria a uma segunda Criação. Hegel ainda quente, Marx pondo seus ovos
explosivos nas estantes da biblioteca do Museu Britanico, o passado e o futuro
sendo redefinidos com rigor científico e a modernidade tecnológica e
modernidade social (ou, simplificando, a máquina a vapor e a nova consciência
proletária) prestes a se fundir para transformar o mundo.
Mas o século dezenove se
encarregou de frustrar as auroras anunciadas no século dezoito e suas próprias
promessas. Foi o século da reação, da restauração conservadora na Europa, do
nascente capitalismo industrial sem consciência e sem remorso, com homens,
mulheres e crianças trabalhando 15 horas por dia, sem qualquer amparo legal ou
moral, fora os magros salários - para êxtase dos patrões.
William Wordsworth foi um poeta
romântico inglês cuja admiração pela Revolução Francesa não sobreviveu ao
Terror, mas que saudou como ninguém o aparente triunfo da Razão trazido pela
Revolução, no seu poema mais citado. O poema termina dizendo que o êxtase não
aconteceu numa remota ilha, Deus sabe onde, “mas no nosso mundo, no lugar em
que no fim encontraremos nossa felicidade, ou nada”.
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