Mulher portuguesa
Uma das mais notáveis figuras
do universo literário – e não só – do nosso país, Natália Correia foi muito
mais do que simplesmente uma escritora.
Natália de Oliveira Correia nasceu
nos Açores, na ilha de S. Miguel, a 13 de Setembro de 1923. Os pais
separaram-se e Natália, ainda criança, passou a viver sózinha com a mãe em
Lisboa, quando o pai partiu para o Brasil. Foi na capital que estudou e
iniciou, bastante cedo, a sua atividade literária. Toda a vida buscou, de uma
forma ou de outra, uma figura masculina que substituísse o pai que praticamente
não teve. Há mesmo quem diga ser essa a razão dos seus vários casamentos.
Casamento
de Natália Correia
Casou pela primeira vez aos
19 anos, com Álvaro Pereira. Sete anos mais tarde, em 1949, volta a casar-se,
desta vez com William Hylen. O casamento com este americano durou o tempo de um
relâmpago e logo no ano seguinte Natália Correia casava pela terceira vez, com
Alfredo Machado, um homem muito mais velho com quem viveu feliz até se tornar
viúva. Dizem os seus amigos mais próximos que este foi o verdadeiro amor da sua
vida.
Quando o hotel em que o marido
trabalhava faliu, Natália Correia juntou-se a duas amigas e criou o Botequim,
um bar no bairro da Graça que fez questão de deixar aos cuidados de Alfredo
Machado, para que nunca deixasse de se sentir útil. E assim foi, até ao fim.
Natália
Correia fica viúva
Depois da morte do marido, e
principalmente por causa do medo da solidão, aceitou casar-se – pela quarta vez
– com Dórdio Guimarães, um homem mais novo e arrebatadoramente apaixonado por
Natália mesmo antes de a ter conhecido. Um artista, carente de afetos e
oportunidades que pela mão daquela que se tornou sua mulher conseguiu fazer o
percurso que ambicionava.
A paixão por um homem 25 anos
mais novo – o seu primo José António Correia – surgiu ainda durante o seu
casamento com Alfredo Machado, durante os anos 70, e aqui as pessoas mais
próximas de Natália contradizem-se entre si – ou talvez não: se Alfredo Machado
foi o seu grande amor, José António Correia foi a sua grande paixão. E talvez
este aparente paradoxo tenha sido mesmo verdade.
Esta
mulher que deixou a marca de uma imagem forte, resoluta e atrevida, era no
fundo insegura, com uma grande dose de ingenuidade. Tinha medo de fantasmas,
recusava-se a dormir sózinha e no entanto demonstrou sempre um enorme interesse
e capacidade para lidar com os “assuntos do além” e participava frequentemente
em sessões espíritas.
Diz
quem privou com ela que era “como uma criança” e para se defender dos seus
próprios medos criava a figura que o público conheceu, uma mulher de armas
inseparável do seu cigarro de boquilha.
A sua
obra literária é riquíssima. Passou pela poesia, pela ficção, pela dramaturgia
e pelo ensaio, e tanto lhe valeu uma pena suspensa de 3 anos por abuso da
liberdade de imprensa como uma galardão da Ordem da Liberdade.
Destacou-se
na luta contra o fascismo e viu várias das suas obras censuradas. Mesmo depois
da revolução, não perdeu a sua veia política e foi eleita deputada pelo Partido
Social Democrata.
Ainda
casada com Dórdio Guimarães e terminada a relação proibida com José António
Correia – que entretanto era já casado e com filhos, apesar de permanecer a sua
devoção – Natália Correia morre na sua casa em Lisboa, no dia 16 de Março de
1993, aos 69 anos de idade.
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