MINAS, VINHAS E RANCHOS
A título, apenas, de informação, QUICKSILVER traduz-se literalmente por «rápida
(quick) prata (silver)», mas actualmente significa MERCÚRIO...
Precedendo a chegada dos primeiros pioneiros americanos, e ainda muito antes da
ocupação espanhola, a presença de «cinnabar» já era do conhecimento dos Índios,
pois faziam uso deste mineral vermelho p'ra ornamentar (pintar e enfeitar) as
caras e corpos.
Novamente, a título de informação, cumpre-me salientar que CINNABAR significa o
«natural sulfito mercúrio vermelho HgS, que é o único importante minério
(«ore», em inglês) do mercúrio». Emprega-se, também, o têrmo «cinnabar» p'ra
indicar aquele «artificial sulfito mercúrio vermelho, usado especialmente como
pigmento», ou seja, uma determinada substância corante (pigmento) que dá a
alguns minerais cores variadas.
Consequentemente, «cinnabar» serve idealmente p'ra «pigmentar» tanto os
«mascarados» como os «maios»... salvo seja!
Desde tempos imemoriais que os Índios do Vale de Santa Clara, (onde a cidade de
San José está situada), visitavam esta localidade abundante em «cinnabar», e
que ficava próxima dum ribeiro onde «alinhavam» álamos ou choupos (poplar), que
os espanhóis mais tarde alcunharam «Arroyo de los Alamitos», traduzido em
inglês p'ra «River of the Little Poplar Trees», ou seja, Rio das Pequenas
Árvores de Álamos.
Aposto, no entanto, que qualquer entusiástico membro dos «Capas Negras» de
Coimbra chamar-lhe-ia o «Rio do Choupal», recordando assim - na poesia de um
fado saudosista - o Rio Mondego, cujas águas ainda agora balbuciam serenatas do
Hilário...
Nota Curiosa: O nome ALMADEN é um composto derivado da famosa mina de
«quicksilver» da antiga Espanha. O prefixo AL significa «a» e o substantivo
MADEN significa «mina». A velha (old) Almaden espanhola, sem dúvida alguma a
maior de todas as minas de «quicksilver», já era conhecida nos antiquíssimos
tempos do romano Plínio-o-Moço (Caius Plinius Caecilius Secundus, nome completo
de que ainda me recordo).
Foram dois espanhóis, António Maria Suñol e Luís Chabolla, que em 1824
descobriram o local da «red rock» (rocha vermelha), mas foi o capitão Andrés
Castillero quem, em 1845, identificou ser «cinnabar» e promoveu o projecto p'rá
exploração desta primeira mina de «quicksilver» na Califórnia.
Nada encontrei àcerca de Luís Chabolla (?), mas «decobri» que António Maria
Suñol (1800-65) era de naturalidade espanhola, tendo servido na Marinha
francesa e abandonado o navio «Bordelais» em Monterey da Califórnia em 1818,
acabando por fixar residência em San José, e contraíndo matrimónio em 1824 com
Maria Dolores Bernal, cuja família vivia no «Rancho El Valle de San Jose» nas
imediações da (hoje) cidade de Fremont, no presente concelho de Alameda, onde
existem um parque regional e uma cidade com o seu nome (Sunol), embora o casal
tenha permanecido no seu «Rancho Los Coches» no concelho de Santa Clara.
Aqui trabalhou como funcionário público e comerciante, angariando a simpatia,
respeito e estima, de toda a gente. O rancho «Los Coches» (os porcos) era ainda
alcunhado por ter servido de pasto aos porcos da Missão de Santa Clara.
No que respeita a Andrés Castilleo, verifiquei que ele exercia as funções de
Deputado do governo mexicano e estava convencido de ter descoberto prata no
«Rancho San Vicente), pertencente a José de los Reyes Berryessa.
Tanto assim que, aos 22 de Novembro de 1845, dirigiu-se ao «alcaide» Pedro
Chabolla (?) de San José, «armado» com um documento averbando-lhe os tais
«direitos de descoberta». E em conformidade com a legislação da época, fez o
devido requerimento p'ra serem afixados em lugares públicos, os anúncios da
respectiva descoberta e intenção em explorar a minha.
Após uma série de experiências, Castillero certificou-se que as «amostras»
apontavam que o «achado» não era realmente prata, mas a tal «quicksilver», ou
seja, MERCÚRIO. E, uma vez mais, aos 3 de Dezembro (1845), com novo documento
ao peito, Castillero encontrou-se com o alcaide a fim de obter posse legítima
da propriedade.
Há quem diga que, pouco depois, Castillero regressou ao México, seguindo-se um
complicado litígio (contestação judicial) p'ra resolver a quem pertencia a mina
que, em 1846, passou p'rá posse da «Barron, Forbes & Company» de Tepic
(México), que tomou inteiro controlo das «operações», conforme o testemunho
exarado nas páginas de «Historic Spots in California».
Com a descoberta do ouro em Coloma em 1848, teve lugar uma extraordinária
actividade na produção de mercúrio, transformando New Almaden na mina mais
famosa e uma das mais produtivas de mercúrio no mundo, até ao seu encerramento
em 1975.
Por outro lado, há quem afirme que Castillero contratou o americano William
Chard (de New York), cuja ideia fenomenal em usar meia dúzia de «try-pots»,
(panelas p'ra derreter o óleo das baleias), foi bem sucedida em produzir
mercúrio. («California Firsts» de Rockwell Hunt, 1957).
No nosso próximo encontro, apresentarei a conclusão desta crónica, incluindo
curiosidades histórico-biográficas, com o acréscimo de um «conto», autêntico e
fascinante, àcerca de um indivíduo, igualmente envolvido na mina e que,
juntamente com a esposa, (pois claro!), produziu uma NINHADA de vinte e nove
(29) «rebentos» (filhos e filhas)!
Pe. José A. Ferreira
San Leandro, Califórnia
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