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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Os "monstros sagrados" nunca serão esquecidos - Homenagem póstuma ao padre Ferreira Moreno





MINAS, VINHAS E RANCHOS


Sempre que referência é feita àcerca das primitivas explorações das minas na Califórnia, a nossa atenção converge, automaticamente, p'rás minas de ouro... quando, realmente e por largos anos, antecedendo a esporádica loucura na «cruzada do ouro», já se verificava na Califórnia a exploração de importantes minas de «quicksilver» na zona de Almaden, também conhecida por New (Nova) Almaden, localizada a menos de uma dúzia de milhas ao sul da cidade de San Jose. 

A título, apenas, de informação, QUICKSILVER traduz-se literalmente por «rápida (quick) prata (silver)», mas actualmente significa MERCÚRIO...

Precedendo a chegada dos primeiros pioneiros americanos, e ainda muito antes da ocupação espanhola, a presença de «cinnabar» já era do conhecimento dos Índios, pois faziam uso deste mineral vermelho p'ra ornamentar (pintar e enfeitar) as caras e corpos. 

Novamente, a título de informação, cumpre-me salientar que CINNABAR significa o «natural sulfito mercúrio vermelho HgS, que é o único importante minério («ore», em inglês) do mercúrio». Emprega-se, também, o têrmo «cinnabar» p'ra indicar aquele «artificial sulfito mercúrio vermelho, usado especialmente como pigmento», ou seja, uma determinada substância corante (pigmento) que dá a alguns minerais cores variadas. 

Consequentemente, «cinnabar» serve idealmente p'ra «pigmentar» tanto os «mascarados» como os «maios»... salvo seja! 

Desde tempos imemoriais que os Índios do Vale de Santa Clara, (onde a cidade de San José está situada), visitavam esta localidade abundante em «cinnabar», e que ficava próxima dum ribeiro onde «alinhavam» álamos ou choupos (poplar), que os espanhóis mais tarde alcunharam «Arroyo de los Alamitos», traduzido em inglês p'ra «River of the Little Poplar Trees», ou seja, Rio das Pequenas Árvores de Álamos. 

Aposto, no entanto, que qualquer entusiástico membro dos «Capas Negras» de Coimbra chamar-lhe-ia o «Rio do Choupal», recordando assim - na poesia de um fado saudosista - o Rio Mondego, cujas águas ainda agora balbuciam serenatas do Hilário... 

Nota Curiosa: O nome ALMADEN é um composto derivado da famosa mina de «quicksilver» da antiga Espanha. O prefixo AL significa «a» e o substantivo MADEN significa «mina». A velha (old) Almaden espanhola, sem dúvida alguma a maior de todas as minas de «quicksilver», já era conhecida nos antiquíssimos tempos do romano Plínio-o-Moço (Caius Plinius Caecilius Secundus, nome completo de que ainda me recordo). 

Foram dois espanhóis, António Maria Suñol e Luís Chabolla, que em 1824 descobriram o local da «red rock» (rocha vermelha), mas foi o capitão Andrés Castillero quem, em 1845, identificou ser «cinnabar» e promoveu o projecto p'rá exploração desta primeira mina de «quicksilver» na Califórnia. 

Nada encontrei àcerca de Luís Chabolla (?), mas «decobri» que António Maria Suñol (1800-65) era de naturalidade espanhola, tendo servido na Marinha francesa e abandonado o navio «Bordelais» em Monterey da Califórnia em 1818, acabando por fixar residência em San José, e contraíndo matrimónio em 1824 com Maria Dolores Bernal, cuja família vivia no «Rancho El Valle de San Jose» nas imediações da (hoje) cidade de Fremont, no presente concelho de Alameda, onde existem um parque regional e uma cidade com o seu nome (Sunol), embora o casal tenha permanecido no seu «Rancho Los Coches» no concelho de Santa Clara. 

Aqui trabalhou como funcionário público e comerciante, angariando a simpatia, respeito e estima, de toda a gente. O rancho «Los Coches» (os porcos) era ainda alcunhado por ter servido de pasto aos porcos da Missão de Santa Clara. 

No que respeita a Andrés Castilleo, verifiquei que ele exercia as funções de Deputado do governo mexicano e estava convencido de ter descoberto prata no «Rancho San Vicente), pertencente a José de los Reyes Berryessa. 

Tanto assim que, aos 22 de Novembro de 1845, dirigiu-se ao «alcaide» Pedro Chabolla (?) de San José, «armado» com um documento averbando-lhe os tais «direitos de descoberta». E em conformidade com a legislação da época, fez o devido requerimento p'ra serem afixados em lugares públicos, os anúncios da respectiva descoberta e intenção em explorar a minha. 

Após uma série de experiências, Castillero certificou-se que as «amostras» apontavam que o «achado» não era realmente prata, mas a tal «quicksilver», ou seja, MERCÚRIO. E, uma vez mais, aos 3 de Dezembro (1845), com novo documento ao peito, Castillero encontrou-se com o alcaide a fim de obter posse legítima da propriedade. 

Há quem diga que, pouco depois, Castillero regressou ao México, seguindo-se um complicado litígio (contestação judicial) p'ra resolver a quem pertencia a mina que, em 1846, passou p'rá posse da «Barron, Forbes & Company» de Tepic (México), que tomou inteiro controlo das «operações», conforme o testemunho exarado nas páginas de «Historic Spots in California». 

Com a descoberta do ouro em Coloma em 1848, teve lugar uma extraordinária actividade na produção de mercúrio, transformando New Almaden na mina mais famosa e uma das mais produtivas de mercúrio no mundo, até ao seu encerramento em 1975. 

Por outro lado, há quem afirme que Castillero contratou o americano William Chard (de New York), cuja ideia fenomenal em usar meia dúzia de «try-pots», (panelas p'ra derreter o óleo das baleias), foi bem sucedida em produzir mercúrio. («California Firsts» de Rockwell Hunt, 1957). 

No nosso próximo encontro, apresentarei a conclusão desta crónica, incluindo curiosidades histórico-biográficas, com o acréscimo de um «conto», autêntico e fascinante, àcerca de um indivíduo, igualmente envolvido na mina e que, juntamente com a esposa, (pois claro!), produziu uma NINHADA de vinte e nove (29) «rebentos» (filhos e filhas)! 


Pe. José A. Ferreira 
San Leandro, Califórnia
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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