Mais de um século depois da sua primeira edição em livro, a
edição crítica d’A Correspondência de Fradique
Mendes (Memórias e Notas) vem enfim reunir e fixar o esparso e
incerto corpus de
Fradique. Tarefa tanto mais relevante quanto se trata de uma obra semipóstuma,
em que Eça de Queirós trabalhou e cuja edição preparou durante os últimos anos
da sua vida, sem que, porém, tenha
podido acompanhar a respetiva publicação em
livro. Assim, metodicamente recompondo o irrequieto cânone fradiquista, a
publicação do mais recente volume da Edição Crítica das Obras de Eça de
Queirós, coordenada por Carlos Reis, constitui fundamental contribuição para o
conhecimento da figura de Carlos Fradique Mendes e dos flexuosos processos da
sua construção.
Repetidamente anunciada na Revista de Portugal (1889-1892), a primeira
publicação em livro das cartas de Fradique, em 1900, integrou oito capítulos e
dezasseis cartas. Esse conjunto é considerado pelos atuais editores (com o
legítimo acrescentamento da quarta carta a Clara, texto de admirável vibração
retórica e lírica, que Eça já publicara no Brasil) um corpus relativamente seguro
ou mínimo da produção fradiquista (70). Constitui pois o miolo desta edição o
texto crítico dessas dezassete cartas de Fradique Mendes, antecedido pelo dos
oito capítulos assinados pelo seu editor e biógrafo, Eça de Queirós, que neles
pretende dar corpo viril e individualidade a essa formação proto-heteronímica.
O texto-base adotado pela edição crítica é o do volume de 1900, acolhendo uma
sequenciação do epistolário sensivelmente conforme à dessa edição.
(excerto de Ana Luísa Vilela, “Uma
consolação e uma esperança”, in Colóquio/Letras, 188,
janeiro/abril, 2015, pp. 184-189).
Sem comentários:
Enviar um comentário