É
justo pensar a ficção machadiana sob a ótica da ironia, da contradição e da
aporia. A abordagem histórico-sociológica, encabeçada por Roberto Schwarz,
tornou-se, com folga de mérito, paradigmática para a compreensão da obra
machadiana, ao compreender o modo pelo qual a própria forma ficcional se
informa pelas contradições e aporias de uma sociedade. Essa abordagem
trouxe,
porém, dois inconvenientes: ela desmentiu a aspiração de se atribuir uma
filosofia genuína aos narradores e, no limite, ao próprio Machado de Assis, já
que a ideia de filosofia teria de se reduzir a desconversa ideológica ou a
metafísica insossa; e ela provocou uma retração das interpretações filosóficas
da obra machadiana, cujo refluxo vivenciamos e cujos esforços teóricos
culminaram com o reconhecimento, pela Stanford University, da importância da
ficção machadiana para a filosofia da América Latina. Este livro é um relato do
que significa falar da filosofia na obra de Machado de Assis. Contextualizada,
ela é uma alternativa às tendencias de pensamento do século XIX, quer
emoldurado no pensamento positivista, quer emoldurado no ecletismo
espiritualista, quer no modus vivendi instituído pelas novas relações de poder.
Machado de Assis esboça conjecturas que descrevem as relações paradoxais do ser
humano, efetivando, de maneira filosófica, as aporias no texto. Esse tipo de
filosofia cética se caracteriza pela valorização do exame de um problema em
detrimento de sua resolução. Por isso, a análise dos procedimentos retóricos
desse autor, em especial a aporia e a ironia, nos dá pistas a respeito do
pensamento filosófico subjacente a sua ficção. Machado de Assis: o filósofo brasileiro
Alex Lara
Martins
É
justo pensar a ficção machadiana sob a ótica da ironia, da contradição e da
aporia. A abordagem histórico-sociológica, encabeçada por Roberto Schwarz,
tornou-se, com folga de mérito, paradigmática para a compreensão da obra
machadiana, ao compreender o modo pelo qual a própria forma ficcional se
informa pelas contradições e aporias de uma sociedade. Essa abordagem trouxe,
porém, dois inconvenientes: ela desmentiu a aspiração de se atribuir uma
filosofia genuína aos narradores e, no limite, ao próprio Machado de Assis, já
que a ideia de filosofia teria de se reduzir a desconversa ideológica ou a
metafísica insossa; e ela provocou uma retração das interpretações filosóficas
da obra machadiana, cujo refluxo vivenciamos e cujos esforços teóricos
culminaram com o reconhecimento, pela Stanford University, da importância da
ficção machadiana para a filosofia da América Latina. Este livro é um relato do
que significa falar da filosofia na obra de Machado de Assis. Contextualizada,
ela é uma alternativa às tendencias de pensamento do século XIX, quer
emoldurado no pensamento positivista, quer emoldurado no ecletismo
espiritualista, quer no modus vivendi instituído pelas novas relações de poder.
Machado de Assis esboça conjecturas que descrevem as relações paradoxais do ser
humano, efetivando, de maneira filosófica, as aporias no texto. Esse tipo de
filosofia cética se caracteriza pela valorização do exame de um problema em
detrimento de sua resolução. Por isso, a análise dos procedimentos retóricos
desse autor, em especial a aporia e a ironia, nos dá pistas a respeito do
pensamento filosófico subjacente a sua ficção.
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