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sexta-feira, 25 de maio de 2018

De um dos mais credenciados poetas portugueses - Marcolino Candeias



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Tributo a Marcolino Candeias

Por Lélia Pereira Nunes

Cerca de dois meses ou mais recebi um convite do escritor Onésimo Teotónio Almeida, lá de Providence, para escrever um pequeno texto em homenagem ao poeta terceirense Marcolino Candeias, a lembrar da geração que fez furor nos anos de 80 e 90. Fiquei muito sensibilizada com a lembrança de alinhar ao lado
de nomes das Artes e Letras açorianas de dentro do arquipélago e de outras geografias. Amigos de um chão telúrico comum, de muitas aventuras por terras da diáspora, de sonhados projetos e mil ideias debatidas a exaustão noite adentro. Aceitei botar a palavra na reverência à obra poética e literária do Marcolino Candeias, de me associar a esta corrente de amizade e de reconhecimento a sua criatividade literária e d’artes. Nem parei para pensar se havia gente muito melhor qualificada do que eu para falar do poeta considerado uma das vozes mais importantes do grupo «Geração Glacial». Ou, do seu jeito doce, elegante e apaixonado de declamar «Aqui não tem sabiá», dedicado a sua Deka – uma brasileira do Paraná que há muito conquistou o seu coração e inspirou versos de imensa ternura.
Neste domingo, 1° de maio recebi a triste notícia de sua partida. Muitas foram as mensagem deixadas na rede social do Facebook numa última homenagem ao Amigo Marcolino ou ao «Angra Brother», como o escritor Diniz Borges gosta de chamá-lo.

Lembro-me do texto que escrevi a convite do Onésimo, no passado fevereiro, «Madalena vem à Ceia», onde brinquei em torno da fotomontagem «Felix Et Amici Cena», impagável leitura da famosa pintura «A Última Ceia»(1497) do gênio renascentista Leonardo Da Vinci, criação do genial Marcolino. Peço-lhes licença para reproduzir dois parágrafos do que escrevi naquela oportunidade:
Atrevido na sua arte, irreverente e estiloso, Marcolino deixa transparecer um ar de motejo, o espírito gozador típico do ilhéu. Seus dedos flanam livres ao compor com lirismo telúrico a cena sagrada do cenáculo açoriano num inegável tributo ao poeta Emanuel Félix. Seu olhar arguto se debruça sobre as sutilezas de cada personagem sentada na grande mesa da açorianidade. Doze convivas reunidos em torno do Mestre Emanuel Félix, em íntima comunhão de ideias, de diálogo liberto, frontal, democrático. Identifico-os – a irmandade atlântica de escritores, ícones da literatura e artes açorianas. Merece a eternidade.
É evidente que não faço parte desta Ceia. Tal qual a Maria Madalena que não estava sentada ao lado direito de Jesus, também não sentei naquela grande mesa. Fiquei para sempre cheia de inveja e com muita saudade pelo que nunca partilhei.
Neste 1° de Maio de 2016 retorno ao cenário daquela famosa Ceia sem qualquer esperança de ser incluída, de sentar à mesa junto aos amigos, cumplices de vivências e afetos, porque Marcolino Candeias já não pode mais atender ao meu pleito e portanto – «Madalena não vem à ceia».
Fica a saudade da memória vivida, do seu inconfundível lirismo, na alegria brejeira de cantar o amor ou fazer um breve discurso aos seus amigos e recitar: «Oh! Meus amigos de café de cerveja gelada e coração fervente/ que resolvíamos a paz e a guerra e inventávamos a justiça social/todos os meus amigos das artes que sonhávamos até o clímax da fúria/ a utopia suprema/ e expurgámos do mal todo o universo para fazer só de beleza.»
Fica a certeza de que a palavra do poeta não silencia jamais.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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