FARSAS
O Brasil alterou a famosa frase do Marx. Aqui, a História não se
repete como farsa, as farsas se repetem como História. O golpe de 64 foi
farsesco, descontando-se o que teve de ignóbil. Depois dele, vivemos 20 anos
com generais se sucedendo na presidência da República sem votos, uma farsa
reincidente. Entre os generais presidentes, tivemos de bufões a um falso pastor
que autorizou assassinatos de Estado, como nos contou, recentemente, a CIA.
Diante desse teatro burlesco, a população teria
todo o direito de gritar “E os palhaços? Onde estão os palhaços?”, se fosse
permitido gritar. Para ser uma farsa completa, só faltaram palhaços em cena ou,
no mínimo, um amante só de cueca escondido no armário.
E agora tem gente desfilando com faixas que pedem intervenção
militar já. Quer dizer, pedem uma repetição da farsa. Como gostaram da outra,
provavelmente querem uma farsa igual àquela, uma volta àqueles dias. São
movidos à nostalgia, mais do que qualquer projeto realista. Mas o movimento
está crescendo, pelo que se ouve e se lê, e não se minimize o poder da
nostalgia mobilizada, quanto mais irrealista mais perigosa.
A farsa de 64 começou com um general de opereta, impaciente com
a demora das conspirações, decidindo comandar seus tanques contra o governo
Jango sem esperar por ninguém. Foi a faísca que incendiou o resto. Muito
cuidado com faíscas e generais impacientes, portanto.
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