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sábado, 24 de novembro de 2018

Homenagem a um catedrático das letras ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA


Filipa Lino 

Onésimo Teotónio Almeida está a viver nos EUA há 45 anos. O escritor chegou lá jovem para estudar Filosofia e fez carreira na academia. É professor na selectiva Universidade de Brown, onde fundou o Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros. Este ano, lançou o livro "A Obsessão da Portugalidade", onde fala sobre a identidade nacional. Está longe, mas observa de perto o que se passa por cá. Vem ao país com frequência, como orador em palestras e conferências. No avião, vai conversando com os americanos que descobriram agora Portugal e mostram-se rendidos.

Passou um ano desde que Trump ganhou as eleições. O que mudou desde então nos Estados Unidos?
Primeiro, foi a euforia entre os conservadores, com os democratas completamente apanhados de surpresa. Mas esperava-se que Trump, após a eleição, assumisse uma atitude presidencial. Na América, os três poderes [legislativo, judicial e executivo] são muito controlados uns pelos outros e o Presidente faz sempre muitas promessas durante a campanha eleitoral, contudo acaba por não poder cumprir boa parte delas, pois tem de negociar se quiser conseguir apoios. Pensei que ele iria comportar-se como um estadista e recuar em muitas das suas políticas, por ter de negociar dentro do seu próprio partido, além de ter de fazê-lo com os democratas. A surpresa foi ele continuar a comportar-se como antes de ser eleito.

Como um empresário e não como um Presidente?
A fazer campanha eleitoral e não como Presidente. E pensando que é o CEO de uma grande empresa chamada EUA. Trump ganhou as eleições convencido de que foi graças ao seu superior instinto. E o seu instinto dizia-lhe que não devia prestar atenção nem a conselheiros, nem a ninguém. Pensa que entende tudo melhor do que todos. E a prova é que ganhou. Ele não larga o Twitter porque o mantém ligado ao seu grupo fiel. Não quer saber dos outros, só de quem o elegeu.

Em Portugal, a esquerda comporta-se mais à direita do que muitos liberais americanos. 

E fez-se rodear de empresários.
Ele dizia que iria "secar o pântano". A ideia era: o governo estava pejado de burocratas e de gente ligada a Wall Street e ele iria fazer uma limpeza. Na campanha eleitoral, usou uma estratégia à George Bush: pequenos slogans, muito curtos, que "colam". Só que o Bush depois, quando chegou à Casa Branca, portou-se como um Chefe de Estado. Sabia que não era um indivíduo brilhante, rodeou¬-se de gente e portava-se relativamente à altura. Se não fosse a enorme estupidez da guerra do Iraque, ele ter-se-ia safado. Ao passo que este, não. Continuou a disparatar e a dizer o que lhe apetecia às tantas da manhã. E rodeou-se sempre de "yes men". Mas  foi perdendo apoiantes. Nos EUA, existe de facto uma direita e uma esquerda, só que denominadas conservadora e liberal. Muitas pessoas aqui pensam que não. Costumo dizer que na Europa, e sobretudo em Portugal, o léxico é muito de esquerda, mas é uma questão de vocabulário. Em Portugal, a esquerda comporta-se mais à direita do que muitos liberais americanos. As pessoas repetem slogans e acabam acreditando que são de esquerda, todavia, no seu comportamento, não são. Há um desfasamento entre linguagem e prática.

O que está a dizer é que, na prática, há pouca diversidade política em Portugal?
Creio que sim. Em Portugal era costume ouvir-se dizer que, ao contrário da Europa, não existia esquerda nem direita nos EUA, pois eram todos capitalistas. Essa ideia ainda persiste. No entanto, há diferenças enormes entre esquerda e direita nos EUA. E ambos os lados têm uma forte intervenção política.

CONTINUA

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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