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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

O sofrimento no Congresso da FPF


O SOFRIMENTO - O CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO DA FPF 

Uma das aspirações do Lusitânia consistia, com toda a legitimidade, em militar em provas de âmbito nacional, concretamente no escalão terciário - égide da FPF -. Mas, para o efeito, muita coisa havia que ser cozinhada, nomeadamente a recolha do maior número de votos no Congresso da FPF que decidiria a pretensão açoriana. Para o efeito, foi marcado em Agosto de 1978 um Congresso Extraordinário da FPF, estando a Associação de Futebol de Angra do Heroísmo representada por Fernando Pacheco Pereira (já falecido), António Faustino de Borba (já falecido) e o funcionário Carlos Alberto Sousa.

Como sempre acontecia quando me deslocava a Lisboa, na véspera (uma sexta-feira) do início do Congresso desloquei-me ao jornal A Bola, pois era ali naquela casa que muito se aprendia em termos de jornalismo. Vítor Santos, com todo o seu “ex professo” em relação ao dirigismo do futebol português, teve para comigo esta frase: “ali irás constatar a podridão do nosso futebol, salvo algumas honrosas exceções (sublinhou)”.

No sábado, quando entrei na Sala Bruxelas do Hotel Altis onde se realizou o tão badalado Congresso Extraordinário da Federação Portuguesa de Futebol, dois companheiros começaram a entrar comigo, no bom sentido, claro está. O Manuel António (A Bola) e o Carlos Arsénio (meu velho amigo, em representação do Record), questionaram-me se eu estava nervoso e se, por outro lado, estava otimista quanto ao desfecho final do Congresso, ou seja, a aprovação para a entrada dos Açores em provas nacionais, neste caso começando pela III Divisão. Respondi-lhes que tudo iria depender da boa disposição da “máfia do futebol português”. Eles os dois sublinharam com uma aprovação, porque também sabiam que era assim mesmo, para mais que o Carlos Arsénio também era um profundo conhecedor do que se passava nos meandros do futebol nacional. Curiosamente, o Carlos Arsénio nessa altura convidou-me para escrever para a Revista Equipa da qual ele era um dos principais responsáveis.

Manda a verdade dizer que, logo após o início dos trabalhos, que os semblantes dos representantes da AFAH revelavam alguma apreensão, o que era natural em função dos condicionalismos que rodeavam a legitima pretensão açoriana. Recorde-se que o Lusitânia já tinha em Angra do Heroísmo o técnico Mário Ribeiro Nunes que aguardava o desfecho da reunião federativa com as associações filiadas. Na verdade, nas primeiras horas de debate a incerteza foi pairando, isto por via das muitas questões levantadas pelas associações com maior número de votos, uma delas a própria Associação de Setúbal, fato que pessoalmente me surpreendeu. Esperava que o grupo comandado por Amândio de Carvalho se revelasse mais receptivo. Mas não foi tanto assim.

Saímos do Congresso no sábado com a ideia de que, efetivamente, as próximas horas (domingo) seriam de enorme sofrimento. No domingo, antes de partirmos para o Hotel Altis, almoçamos no Parque Mayer, tendo como companhia o senhor Pinheiro (RIP) benfiquista dos sete costados e fiscal de acendedores, pessoa “temida” por aqueles que fumavam e que usavam acendedor. Depois de terminado o almoço, até brinquei com ele quando acendi um cigarro: “o meu amigo, por certo, não me vai multar, visto que não estou na Terceira?”. Toda a gente riu, mas sabia que um fiscal podia agir mesmo fora da sua área de jurisdição. Foi só uma brincadeira, bem aceite por esse amigo com quem sempre tive as melhores relações, para mais que os dois filhos foram meus jogadores nos juvenis do Lusitânia.

Domingo, entrada no Hotel Altis, rosto um pouco carregado, de preocupação. Já tinha, no dia anterior, constatado “in-loco” o que era, de fato, em termos de dirigismo, a negatividade do futebol português. Alguém tinha que intervir para convencer os representantes das associações de peso, incluindo o Porto. Fernando Pereira fez bem o seu papel, José Manuel Novais, representante dos Açores no elenco diretivo da FPF, também fez o que lhe competia em termos de conversas nos bastidores, isto é, antes dos inícios dos trabalhos. SIM ou NÃO à presença dos Açores em provas de âmbito nacional? Eu, pessoalmente, já estava a ficar, para além daquele nervoso miudinho, um pouco descrente, mas eis que apareceu o HOMEM CERTO na HORA CERTA, o presidente da Associação de Futebol de Coimbra, Dr. Guilherme de Oliveira, que, com a sua reconhecida cátedra, deu a volta ao texto e convenceu, de forma categórica, as associações que se preparavam para votar contra. Foi um alívio e, no final, festejou-se a vitória, digamos arrancada a ferros, mas devida à inteligência do Dr. Guilherme de Oliveira. Lembro-me que, no final, alguns colegas jornalistas, os mais conhecidos, me abraçaram, com aquela frase de sentimento: VOCÊS MERECEM ESTAR CÁ! Depois, à noite, em A Bola, os parabéns dos colegas e amigos e, com o telefone ligado para a sede do Lusitânia, escutava os foguetes estrelejando. Era a festa lusitanista e o começar de uma nova etapa, já com o técnico Mário Nunes pronto para iniciar os trabalhos de preparação.

Quando a Associação de Futebol de Coimbra, um tempo depois, homenageou o Dr. Guilherme de Oliveira, escrevi um artigo em nome dos açorianos, agradecendo a esse dirigente de eleição o seu valioso e decisivo contributo para que o futebol açoriano participasse em provas federativas. Um artigo que o MESTRE Vítor Santos, também ele um amigo dos açorianos, colocou nas páginas centrais com o devido destaque, em caixa.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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