Um, dois, três, foi a conta que Deus fez
Começa hoje o ano de 2019.
Noves fora três.
Aliás, nesta coisa de fazer a prova dos nove aos anos que passam, poucas vezes deu noves fora nada. No meu tempo de vida, por exemplo, apenas 1962, 1971, 1980, 1989, 1998, 2007 e 2016.
E algumas vezes a prova dos nove dava nada e aconteceu coisa de monta. Por exemplo em 1980 morreu Sá Carneiro e eu estava em Lisboa a estudar. Em 1998 a minha ilha tremeu como nunca e ficou em escombros.
Este ano que hoje começa, dá noves fora três.
E por isso me lembrei da importância deste número ao longo da minha vida.
A primeira aparição foi a minha família nuclear. Eu, meu pai e minha mãe. Fomos três durante dez anos, até ao nascimento de meu irmão. Desse ninho, só me resta o meu irmão. Contas de diminuir…
Depois fui ensinado a me benzer. Diziam-me serem três a fazerem a Santíssima Trindade. Mas, para mim, dava quatro. Pai na testa, Filho no peito, Espírito no ombro esquerdo e Santo no ombro direito. Demorei algum tempo a entender que Espírito Santo era apenas um, apesar de ter dois nomes e ser menos importante que o Pai e o Filho…
Já na escola primária, eram os três da vida airada, cocó, ranheta e facada. Quando apareciam juntos três colegas menos queridos, lá vinha a ladainha, cujo sentido nunca entendi, ignorância que se mantém até hoje.
A seguir vieram os três porquinhos e as suas habilidades de construção civil, animadas pela canção provocatória “quem tem medo do lobo mau”, tentando meter-me na cabeça que casas seguras nunca podem ser de palha ou de madeira.
Já adolescente, apareceu a expressão “perder os três”, novamente incompreensível. Que três haveria dentro de mim, sem ser Pessoa, como os perderia ou quem haveria de mos tirar?
Três eram igualmente os Mosqueteiros, com um lema que me agradava. Um por todos, todos por um. Rapidamente aprenderia que até podia ser assim na generosidade de Dumas, mas não o era na vida, muito menos no interior dos partidos políticos…
Quem avisava de alguma coisa, usava igualmente aquele número. Muitas vezes ouvi “vou contar até três”. E aprendi que quem não gostava de mim apressava o três, quase como se não houvesse um e dois, enquanto que quem gostava de mim retardava o três, dois e meio, dois e três quartos, diria que com pena por ter de condenar-me.
Deixo-vos, neste princípio de ano, com o último três e um desejo.
Que cada um que me lê encontre a sua lâmpada mágica e possa formular os três desejos.
E que o génio ainda tenha força para concretizar os três.
Cá por mim, basta-me um: Saúde.
E que a haja para todos.
António Bulcão
(publicado hoje no Diário Insular)

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