Um príncipe no patamar dos deuses
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Diz a história que o futebol, na sua pureza de jogo silvestre, ajuda a vencer a pobreza, a privação e, não raras vezes, a própria miséria; torna vencedores candidatos oriundos de infâncias e adolescências passadas em contextos sociais problemáticos, que buscam prosperidade agarrados à única esperança de evitarem a derrota social: a bola. Sendo uma tendência, não é um dogma, ainda que muitos dos mais extraordinários futebolistas de todos os tempos tenham origem em dificuldades extremas. Não falta quem associe meninices abastadas como obstáculo à afirmação de jovens com talento acima da média. Bernardo da Mota Veiga Carvalho e Silva, 22 anos, estudante de ciências socioeconómicas, filho de boas famílias, desvalorizou o facto de não precisar da bola e nunca se diminuiu em relação a outros que se dispuseram a todos os sacrifícios e sofrimento para sobreviverem ao destino.
Até ver, a paixão, o orgulho e, principalmente, o talento divino têm sido suficientes para alimentar a convicção de que tem lugar reservado no patamar dos deuses da bola. Bernardo Silva é um jovem inteligente e sóbrio que recusa extravagâncias e tiques exibicionistas; um assumido refratário aos interesses da imprensa cor-de-rosa, que não polemiza e vive inteiramente para o futebol. Basta olhar para ele e ouvi-lo para decifrarmos uma intuição nata para ser feliz; um homem que está e sempre esteve de bem com a vida, incluindo quando lhe roubaram o sonho de fazer carreira no clube do coração; ou quando teve de lutar pela afirmação no Monaco; ou agora que, por fim, já conquistou as mais exigentes salas de espetáculo da Europa e é alvo dos olhares rendidos de adeptos espalhados pelos quatro cantos do planeta.
Sempre que entra em ação, normalmente no flanco direito, e se vira para o jogo com a bola colada ao pé esquerdo, tudo pode acontecer. Vai direto ao assunto, como se os adversários não fossem gente mas sombras. Algumas iniciativas parecem aventuras ingénuas, porque um miúdo tão frágil nunca terá êxito em terrenos sem lei, onde brutamontes despudorados tudo farão para o travar. Mas naquele deambular sigiloso e enigmático viajam os três princípios que definem o conhecimento do jogo: a perfeita noção do espaço, a importância do tempo e a valorização do engano. Já ninguém se atreve a duvidar do sucesso das investidas: parecem aventuras inócuas, por caminhos apertados e perigosos, condenadas ao fracasso; são, afinal, manobras seguras que levam a fogo-de-artifício deslumbrante.
Muitos dos grandes jogadores expressam-se na plenitude só quando são visitados pela inspiração - e os melhores recebem-na constantemente. BS não tem esse problema, porque a inspiração vive dentro dele. Começa a ser fácil perceber no futebolista em que está a tornar-se; na dimensão que está a atingir num dos campeonatos mais competitivos da Europa; na influência, feita de génio mas também de elementos adultos como responsabilidade, maturidade e inteligência tática, numa equipa de topo, idealizada, concebida e dirigida pelo enorme treinador que é Leonardo Jardim.
De aspeto pueril, orientado por entusiasmo juvenil que não perdeu, BS tornou-se no melhor jogador da liga francesa; é a referência máxima do líder e principal candidato a campeão e está na mira dos maiores colossos do futebol, dispostos a discutir à volta dos 80 milhões de euros. Já não é apenas o canhoto hipnótico e franzino, com instinto simplificador, capaz de produzir aparições angélicas no espetáculo. É um rumor contínuo transformado, aos poucos, em sucessivos relâmpagos de talento que iluminam estádios, maravilham plateias e ganham jogos. Como se isso fosse pouco, está a moldar o estatuto de príncipe à expressão de um génio absoluto, só comparável com a elite que, em breve, discutirá o trono que, hoje, é exclusivo de CR7 e Messi.
Soares é bom
em todo o lado
A qualidade individual é por vezes negligenciada em certas apreciações
Soares está a vencer todas as etapas de afirmação como jogador azul e branco. Que uma coisa é ser bom no V. Guimarães e outra, bem diferente, é ser bom no FC Porto? Que precisa de tempo para se impor, assimilar as novas ideias, adaptar-se taticamente e entender os companheiros? Chegou ao Dragão e fez 2 jogos, nos quais foi dos melhores em campo e marcou 3 golos. O futebol pode ser uma coisa muito simples.
Podence deu
vitória ao leão
Chegou aos 64 minutos e aos 68' participou no lance do golo de Bas Dost
Podence foi lançado em Moreira de Cónegos quando o Sporting perdia por 1-2, sinal de que Jorge Jesus fê-lo entrar não por capricho ou para dar satisfações à formação mas por acreditar que o miúdo podia mesmo interferir na história do jogo. Foi o que ele fez, com tal qualidade e influência que pode até dizer-se que a vitória se deveu em grande parte aos dois passos em frente que a sua chamada representou.
Vasto reportório
de João Carvalho
Aos 19 anos, só tem a ganhar nesta etapa sob o comando de José Couceiro
João Carvalho não fez por menos e, logo no primeiro jogo a titular pelo V. Setúbal, concentrou em 83 minutos todo o reportório de argumentos que dele fazem uma das maiores esperanças do futebol português. Produto da formação benfiquista, despejou impressionante arsenal feito de dinâmica, excelência técnica, vistas largas e inteligência tática. É um grande jogador. Tem tudo para vir a ser um fenómeno.

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