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domingo, 27 de janeiro de 2019

Onésimo Teotónio Almeida



ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA - «Não venceu só o Don Juan, venceu os cobardolas.»


Foi um tal trambulhar estes dias. Chegar a casa  e ter de ficar lá muito pouco tempo porque...Guess what?  o tema do seu romance: tínhamos emprestado a casa a uma amiga com dois filhos que teve de sair de um casamento por causa de uma situação semelhante às das mulheres do seu romance. Como o divórcio ainda não está resolvido, deixámo-la ficar lá até ao final do mês e viemos para o Maine. No meio disto tudo, o seu livro ficou atrás num dos caixotes trazidos de Lisboa. Portanto, tudo o que aqui disser é de cor.

                                       
Acho que a expressão da Leonor - um page turner - está correcta. Chega-se ao fim de uma página e quer-se logo passar à seguinte a ver o que se vai passar. Estão sempre a acontecer coisas e por isso, nesse aspecto, o livro tem muito de TV e de filme, até porque não me recordo de um livro português com tanto diálogo. É impressionante a vivacidade deles, as temáticas abordadas, a vida que as cenas ganham naquelas trocas de frases. Tem aí uma grande novidade na literatura portuguesa, sempre muito descritiva e algo mortiça.
O livro é também um belo retrato da sociedade portuguesa de hoje e dos seus problemas que afloram a cada passo nos diálogos.
Pareceu-me que, para um romance, a protagonista é demasiado impecável, como se se tratasse de uma novela exemplar. Distingo aqui as pessoas da vida real e as personagens de romance, que normalmente (no romance moderno) costumam ser complexas e exibir atitudes nem sempre recomendáveis. Ou pelo menos auto-irónicas.  É verdade que a certa altura ela afirma só ter dúvidas, mas acaba nunca agindo como se as tivesse. Sabe sempre o que deve ser feito e sem qualquer hesitação. Repito: estou a falar da personagem do romance.
Claro que estou demasiado influenciado pela escrita anglo-americana, mas  o enredo, o estilo cinematográfico e os vivíssimos diálogos não me faziam lembrar outra coisa. E ainda bem porque não tenho pachorra para o moer em vão de muita ficção portuguesa.
Aqui e acolá, pareceu-me um excesso de erudição. Também - e para continuar a ser completamente sincero - não fiquei convencido da necessidade de mencionar pessoas da vida real pelo seu nome, sobretudo porque o faz apenas para elogiá-las. Faltou o outro lado. Já que preferiu não acrescentar essa outra dimensão, creio que teria sido melhor usar nomes fictícios.
Tudo isso são registos de leitor que têm a ver só comigo e com as minhas preferências. Disse-lhe do que gostei e do que gostei menos.
E não lhe falei ainda do meu muito agrado pelas posições éticas que defende ao tratar de um problema tão sério como esse da situação das mulheres abusadas. No meio de tanta literatura pós-moderna que não se preocupa com a  ética, tiro-lhe o chapéu. Não venceu só o Don Juan, venceu os cobardolas.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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