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domingo, 27 de janeiro de 2019

Venha tomar um café comigo - João Bendito



Texto relacionado com os meus 50 anos de jornalismo em 10 de março de 2014

Sempre que me refiro ao Jornalista Carlos Alberto Alves lembro-me deste episódio.
Ali, em frente aos degraus da Catedral dos Açores, mais precisamente junto à vitrine do “Atanásio”, um grupo de jovens passava uns momentos de cavaqueira, como era habitual no princípio das noites de Verão.
Da igreja-mor da diocese saía um número elevado de gente fina, porventura participantes num dos Cursos de Cristandade, tão em voga nessa altura. Os nossos comentários e “cortes de casaca” alvejavam a massa humana que já descia os centenários degraus e destroçava pela rua principal da cidade.

                                                     
Alguém dizia que “É gente que não tem mais que fazer, andam sempre metidos pela saias do padres acima”; outro mencionava que “Assim é que se conseguem empregos bons, vão-se ajudando uns aos outros”. Não sei como, o assunto da conversa torceu para a definição de “Leigo”. Eu, todo senhor do meu nariz, afirmava que ser leigo era apenas estar um degrau abaixo de ser padre, pessoa que sabe ou está habilitada a cumprir todos os ritos, só lhe falta mesmo é o “diploma” do Seminário. 
Foi ai que o discernimento do C.A.Alves veio ao de cima, que eu estava redondamente enganado, disse-me, com a calma que lhe é peculiar. “O significado da palavra é precisamente ao contrário do que tu estás a tentar descrever”. “Leigo é aquele que não sabe, que é ignorante”. Fui para casa consultar o dicionário e vi que o Carlos estava realmente certo. José Daniel Macide já me havia avisado, “Ele passa muito tempo a estudar o dicionário!”. E fez muito bem, tem-lhe servido como base na profícua carreira de jornalista que abraçou.
Carlos Alberto ( o “Tirolé”, como amigavelmente ele permite que eu o trate) é quase uma dezena de anos mais velho do que eu. Não me lembro dele dos seus tempos de ante- guerra colonial. Mas tenho muito vivas as memórias dos seus desempenhos como árbitro de futebol, o mais bem equipado que passou pelo velho Campo de Jogos da Cidade. As botas sempre a luzir com tanta graxa que quase cegavam o “Patachon” quando o sol nelas se refletia. E os seus movimentos e corridinhas nas pontas dos pés, qual dançarino de ballet! Estou a ver como se fosse hoje!
Nessa altura criei-lhe assim um certo azedume porque, num Angrense-Lusitânia, as coisas não correram lá muito bem para os encarnados e eu (claro!) só culpei o árbitro. Ainda por cima expulsou o Laureano “Gamela”! Tal descaramento! OK, tenho que confessar que não me interessa agora recordar que nesse mesmo jogo ele também expulsou o ”Airosa” e mesmo assim o meu grupo perdeu o jogo. Coisas da bola.
Mas já estou a dar voltas a mais. Este pobre texto era só para responder ao pedido que o Carlos Alberto fez a alguns amigos e companheiros de lides jornalísticas para lhe mandarem umas linhas em comemoração dos seus cinquenta anos de dedicação aos jornais e às letras. E não o estou a fazer “por encomenda”, quando se escreve por encomenda só se pode falar bem do aniversariante e não é esse o caso, mesmo que se quisesse falar mal do Carlos, não se consegue. Pessoa de fino trato, de esmerada educação, não tenho ideia de alguma vez ter ouvido da sua boca alguma profanidade, de o ter ouvido dirigir-se a alguém com termos menos simpáticos ou ofensivos. E agradeço do fundo do coração toda a amizade que tem demonstrado, a mim e a toda a minha família, mesmo quando já lá vão quase quatro dezenas de anos que não nos vemos de cara a cara.
Para terminar, tenho que acrescentar só mais duas palavras. Dizer do facto que muito do respeito mútuo que nos une é fruto da amizade comum que nutríamos pelo mítico José Daniel Macide. Sei que, tal como eu, o Carlos Alberto recorda com saudade as nossas conversas, as nossas discussões e as incursões à Loja do meu Pai para a desobriga vespertina.

Aqui vai, Carlos, uma angelica à tua saúde!

Um abraço do (leigo) João Bendito.

Lincoln, Califórnia, 30 de Novembro, 2013.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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