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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Do jornalista e redator principal do jornal Record Rui Dias


A quinta Bola de Ouro de CR7
Quando atingiu a primeira equipa do Sporting e sentiu a pressão mediática à sua volta, reagiu como um veterano. Respirou fundo, aproveitou para se mostrar surpreendido e utilizou os microfones para enviar mensagem insolente: "Não percebo tanta confusão. Calma. Vocês ainda não viram o verdadeiro Cristiano Ronaldo." Tinha razão o miúdo. Hoje, aos 32 anos, CR7 não é o crepúsculo do génio que mudou o futebol; não limitou ambições, apesar de acossado pelo tempo, único adversário que acabará por derrotá-lo; não ergueu a bandeira branca da paz, muito menos da resignação, porque ainda sente forças para ganhar todas as guerras que tem pela frente, a principal das quais vencer (imaginem só…) mais duas Bolas de Ouro. É um extraterrestre, que atormenta muitos humanos de talento superior, e já construiu um império que pretende ainda engrandecer à custa da obstinação que lhe sustenta uma fúria criativa insaciável e inigualável.

Nunca o futebol teve dois reis a discutir tão intensamente e durante tanto tempo o cetro de melhor jogador do Mundo. CR7 e Messi dividiram entre si (5-5) dez anos de glória individual, uma barbaridade atendendo a que, na década anterior, por exemplo, houve dez ganhadores diferentes – Kaká, Cannavaro, Ronaldinho, Shevchenko, Nedved, Ronaldo Fenómeno, Owen, Figo, Rivaldo e Zidane foram Bolas de Ouro, um por ano, entre 1999 e 2007.

CR7 inverteu a história porque, em pleno processo de depuração tática e predominância defensiva, tornou-se um dos maiores artilheiros de todos os tempos. Venceu, passo a passo, a dúvida, a ignorância e o preconceito, podendo agora dizer-se que nunca um jogador com estas características chegou tão longe; nunca um fenómeno tão marcadamente atlético, com alma individualista e vincados traços de profeta, subiu tanto na hierarquia; nunca um jogador assente em talento, mas construído também pelo trabalho obstinado, se colocou acima do bem e do mal e foi capaz de superar em grandeza relativa os colossos mundiais que representou como homem feito (Man. United e Real Madrid). Sendo general dos exércitos que defende, CR7 é muitas vezes um corpo estranho no mecanismo instituído nas equipas e até nos clubes. Compromete-se dos pés à cabeça com a causa, tem orgulho no que faz, é cioso em relação ao valor absoluto como estrela maior e é o ídolo dos companheiros; mas só se sente realizado quando interfere na história deixando as suas marcas.

No desporto português, CR7 já delimitou espaço onde habitam as mais extraordinárias figuras de sempre, porque se destacou de modo avassalador num desporto coletivo e vive há mais de dez anos no patamar cimeiro da modalidade mais relevante do Planeta. Nunca um atleta português correu tanto e voou tão alto; nenhum foi tão reconhecido e discutido no Mundo; e ninguém como ele cometeu a heresia de viver lá em cima, tão perto do céu, durante tanto tempo. Por mais respeito que mereçam as sagradas figuras de Di Stéfano e Pelé; por mais exaltante que seja a figura divina de Maradona; sem beliscar a devoção que Johan Cruyff justificou; sem negar a emoção provocada pelas constantes obras-primas de Leo Messi e não discutindo a eterna realeza associada aos milagres de sua majestade Eusébio da Silva Ferreira, levanta-se agora um problema às ideias preconcebidas com que olhamos para o jogo. Com a quinta Bola de Ouro nas mãos, CR7 disse com todas as letras: "Sou o melhor jogador da história." 

O choque não é tanto ser o próprio a dizê-lo, porque o ego enorme de CR7 é um traço de personalidade conhecido, ao qual já devíamos estar habituados – foi tornado público no dia em que chegou à primeira equipa do Sporting, lembram-se? O que releva da declaração é a dúvida se tem ou não razão. E eu creio que não andará muito longe da verdade.

As palavras de Bas Dost

Bas Dost marcou 2 golos no Bessa e, no fim, lançou enigma na avaliação do 2-0 ("um golo de porcaria") e no sentimento que tal lhe provocou ("adorei, estou muito feliz"). O holandês não costuma cingir-se à pontaria mas reconheceu ter-se tratado de um dos seus "piores jogos". Mas se continuar a meter a bola na baliza, pode até nem se mexer: só ouvirá elogios e receberá palmadas nas costas. 

Haverá melhor do que Salvio

Salvio tem sido discutido no Benfica, também pelas boas alternativas do plantel. Mas nenhum dos extremos encarnados apresenta características idênticas, pelo modo como carrega a equipa para a frente; como galga terreno na vertical com a bola dominada; como alivia a pressão que os adversários exercem. Frente ao Estoril marcou o 5.º golo em 12 presenças na Liga. Haverá melhor em Portugal?

O compromisso de Aboubakar

Aboubakar tem justificado o investimento pessoal de Sérgio Conceição na sua recuperação para a causa portista. O primeiro ímpeto teve a ver com a substituição de André Silva (Marega ainda não contava para estas contas), mas o compromisso revelado pelo camaronês e o seu rendimento (20 golos a menos de metade da época) validam a aposta de todo o clube na recuperação de um jogador raro. E decis ivo. 
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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