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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Homenagem ao técnico inglês Ted Smith



Ted Smith um treinador inglês que passou pelo Benfica e Atlético Clube de Portugal. No Benfica em 1948/49 e 1951/1952. No Atlético Clube de Portugal em 1971/72 e 1972/73. Conquistou uma Liga Portuguesa e três Taças de Portugal.

Veio residir para a ilha de São Miguel onde faleceu. Encontrámos Ted Smith quando o Lusitânia defrontou o Micaelense (8-2) para o apuramento do representante açoriano à Taça de Portugal, cabendo-lhe de seguida defrontar o Atlético Clube de Portugal em Angra onde perdeu por 1-0.

Nesse jogo do Jácome Correia, e para o Jornal A Bola, conversamos com Ted Smith que, em relação ao jogo entre lusitanistas e alcantarenses, afirmou categoricamente: “O Atlético vai sofrer diante deste Lusitânia”. E não se enganou Ted Smith.

Do jornal Record
100 anos: Ted Smith
TREINADORES HISTÓRICOS (V)
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Foi o primeiro treinador inglês a orientar o Benfica e trouxe a escola do seu país para o nosso futebol, o que constituiu uma "pedrada no charco". Deu aos encarnados o primeiro grande título internacional, com a conquista da Taça Latina, no Jamor. Aconteceu na época de 1949/50, sob o seu comando técnico, na qual o Benfica juntou ao título nacional a Taça Latina, antecessora das actuais competições europeias e disputada entre os campeões de Portugal, Espanha, França e Itália. 

A proeza foi consumada após uma finalíssima que durou 146 minutos, frente ao Bordeús, derrotado por 2-1. O Benfica conseguiu assim, logo na sua primeira participação na prova, trazer para Portugal um troféu que nenhum outro clube português alcançaria. Para impor as suas ideias Ted Smith organizou jogos com equipas inglesas. Transformou o 2x3x5 em que o Benfica assentava o seu jogo num 3x2x5 mais consistente. Estudava bem os adversários, obrigando os seus jogadores a marcações implacáveis. Chegou a ser seleccionador nacional.

O onze 'latino'

Na final da Taça Latina com o Bordéus (2-1), o Benfica alinhou: Bastos; Jacinto, Félix e Fernandes; Moreira e José da Costa; Corona, Arsénio, Julinho, Rogério e Rosário. Foi um feito extraordinário que só encontrava alguma comparação nas distantes vitórias sobre o Union Ziskow (1922) e o Ferencvaros (1929), que valeram ao Benfica o título de "melhor clube português contra clubes estrangeiros."


De António Simões In Abola 

"Depois de ganhar a Taça Latina, mistério houve na sua ida para Inglaterra; Sem dinheiro para casa, drama em Monsanto


                                                
1. O Millwall FC em que ele jogava como defesa direito marcou a história como «Matador de Gigantes». Não, não foi só por eliminar o Manchester City da FA Cup de 1937 (antes fizera o mesmo ao Chelsea, Fulham e Derby County) - e por unha negra não chegou a Wembley, da final foi afastado pelo Sunderland - que a ganhou ao Preston North End (de Bill Shankly). Com o Millwall FC já à beira da I Divisão, estoirou a II Guerra - e ele teve de por lá andar, em combate.


2. Quando Salazar cedeu a base das Lajes aos Aliados para o ataque final aos nazis, o seu comandante era João Tamagnini Barbosa. Por lá se cruzou com ele (e outros futebolistas ingleses famosos) - e, quando se tornou presidente do Benfica, desafiou-o para sucessor de Lipo Herczka. Tinha 34 anos - e para dizer sim a Tamagnini deixou de jogar no Millwall FC.

3. Logo no seu primeiro ano, levou o Benfica à conquista da Taça - histórica porque em cinco jogos fez 36 golos: 7-1 ao Boavista, 13-1 ao Académico de Viseu (goleada maior só aconteceria 40 anos depois ao Riachense), 9-3 ao Marítimo, 5-0 ao V. Setúbal. Acanhada só a vitória na final: 2-1 ao Atlético. Arrasador, o campeonato de 1949-1950 em que esfarelou os Cinco Violinos do Sporting - e ainda mais eternidade ganhou na Taça Latina.

4. Ganhou-a ao Bordéus na finalíssima. Aos nove minutos, Kargu marcou golo. A escassos segundos dos 90, Arsénio empatou. Meia hora de prolongamento, sem golos - e novo prolongamento. Com noite a insinuar-se, a bola foi parar ao fundo da baliza. O cronómetro estava nos 134 minutos: Moreira rematou, Julinho trocou-lhe de raspão - e foi golo! Corona desmaiou em campo, de cansaço, de charola foi para os balneários. Despiram-no, descalçaram-no, puseram-no no duche, só lá despertou - e ao cabo de meia-hora ainda não falava. Jacinto, que jogara a última meia-hora com um pulso partido, sofria a dor - e a ele, o treinador da Taça Latina, apanharam-lhe, a fugir-lhe da fleuma britânica, o clamor: «Em 20 anos de futebol nunca vi coisa assim» - era o júbilo borbulhar pelas cabinas em seu redor (e, ainda mais, lá fora, pelo vale a espalhar-se...)

5. Foram os benfiquistas para digressão de mês e meio por Angola, Moçambique, Transvaal e Congo Belga, antes do arranque do campeonato da 1950/51. No Lobito encantou-se com José Águas, não descansou enquanto não lhe deram a garantia de o trazer de ponto com a demais equipa. Não, não revalidou o título de campeão, voltou a ganhar a Taça com 5-1 à Académica.

6. Com 1951 a correr para o fim (e a luta com o Sporting ao rubro) partiu para Inglaterra, sem dizer água vai. Cresceu rumor de que se devera a súbito surto de ciúmes - por ver a mulher, de uma «sensualidade desarmante», cortejada a todo o instante («até por um ou outro jogador mais atrevidote»). Por finais, de Fevereiro reapareceu, sorrateiro, jurando que a sua ausência de devera a problemas com o visto no passaporte - que fora só isso, não fora nada do que se insinuara na boataria da cidade. Perdoaram-lhe o desconcerto, pegou na equipa contra o Sporting - era o jogo do título, por 2-3 o perdeu. (A Taça, voltou o Benfica a ganhá-la: 5-4 ao Sporting).

7. Lançara o Benfica ao futuro transformado o tradicional 3x3x5 em 3x2x5 - e regressou à zona sul de Londres, abrindo hotel por lá: «No futebol, dediquei-me apenas a olheiro». Num assalto à sua casa ficou sem todas as medalhas que ganhara - e em Fevereiro de 1974, reportagem de Jorge Schnitzer em A Bola, mostrava-o em drama maior: a viver numa roulotte em Monsanto (com um poster do Benfica à porta) - a Portugal regressara dois anos antes, desafiado pelo Atlético (salvando-o da II Divisão).

8. Para colocarem Fernando Mendes no seu lugar, cortaram-lhe o ordenado e atiram-no para os juvenis: «O que Atlético pagava já não dava par alugar casa, apareceu a roulotte que a Mrs. Mascarenhas tinha em Monsanto para alugar, foi a solução que me restava» (revelou-a com um sinal de amargor).

9. Emocionado com a reportagem de Jorge Schnitzer, João Gago da Câmara, presidente da AF de Ponta Delgada - levou-o para lá «a fim de desenvolver o futebol jovem». Só deixou os Açores quando, atacado por uma «doença implacável» o trouxeram a hospital de Lisboa - onde morreu no dia 18 de Janeiro de 1989 (e enterrado foi no Cemitério dos Ingleses, à Estrela...)"
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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