Percurso descalço
A vida é um poema ,
Um soneto,
Um violino e uma guitarra,
Um piano solitário num cenário de guerra,
Um frac e um vestido negro,
Um rosa e um suspiro,
Um banho de água morna.
A vida é uma mentira verdadeira,
Um jasmim florido no alpendre,
Um cão que te lambe as mãos,
Uma comédia e um drama,
Uma tragédia e uma odisseia.
A vida é uma criança morrendo de fome,
Um velho espancado,
Uma mulher violada vestida de sorrisos,
Uma prostituta chamada de mulher da vida fácil,
Uma bomba de morte,
A vida é um calvário,
Uns brincos à rainha em orelhas famintas,
Um poço negro cheio de feras,
Um púlpito de falsas homilias,
De gente rica à custa da miséria,
De crianças mortas a quem roubaram os órgãos e a vida,
Um carrossel de injustiças,
Um pátio de luas apagadas,
Uma floresta de sóis adormecidos.
Carregada de sonhos enfermos.
A vida é uma forca,
Um charco de águas pestilentas asfixiando trevos de quatro folhas,
Um espelho negro para muitos,
Um retrato de horrores para outros,
Um rio de lodo onde muitos vivem matando,
Um acessório de falsidade,
De desprezo pelos seres que habitam a terra,
Um céu para uns e o inferno para outros.
A vida é uma paródia,
Um baile de máscaras onde quem não se mascára sofre as consequências,
Porque num ninho de víboras é preciso pensar em picar como elas, neste labirinto sem fechaduras mas cheio de cadeados enferrujados, incapazes de ser abertos.

Sem comentários:
Enviar um comentário